segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

195- JORGE AUGUSTO NOVIS (JORGE NOVIS)

195- JORGE AUGUSTO NOVIS
(JORGE NOVIS)

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Tendo concluído  os estudos preparatórios, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual foi diplomado em 1943.
Seguindo os passos do seu ilustre progenitor, Prof. Aristides Novis, iniciou a carreira universitária como Professor Assistente de Fisiologia, logo conquistando, graças ao seu entusiasmo e profundos conhecimentos, a admiração dos seus discípulos.
Sua ascensão foi rápida e fulgurante.
Ainda recém formado, passou a Professor Assistente.
Iniciou o curso de especialização no Instituto Oswaldo Cruz e, ao regressar à Salvador, submeteu-se  ao concurso para Livre Docente de Fisiologia, ocasião em que defendeu tese sobre crioepilepsia.
“Talentoso, eloqüente, persuasivo, culto, o jovem mestre—diz Luiz Fernando Macedo Costa – atraiu os estudantes mais ativos e cristalizou, em torno de si, o principal núcleo de investigação básica da Faculdade de Medicina” (Obra citada).
 Graças ao seu persistente esforço, adquiriu  os equipamentos e as bolsas de estudo necessários, formou escola. Dentre os nomes mais destacados da sua equipe, destacamos José Simões e Silva Júnior, Heonir Rocha, Elsimar Coutinho, Rodolfo Teixeira, Carlos Marcílio, Waldir Medrado, Armênio Guimarães, Virgílio Pereira, Antônio Biscaia, Carlos Widmer, Almira Vinhais Dantas, Cesar Orrico, Sabino Augusto da Silva e  Luiz Fernando Macedo Costa.
Conquistada a cátedra, prosseguiu o jovem professor abrindo as fronteiras da pesquisa básica em nossa terra. A propósito, é oportuno transcrever, as revelações de um de seus assistentes mais promissores e dedicados: “Todos nós, contagiados pelo entusiasmo do professor, nos dedicávamos ao trabalho, com vigor juvenil. A dedicação manifestava-se no interesse, às vezes até excessivo, para executar as tarefas. Recordo – e confesso que recordo com saudade – as inúmeras vezes em que nós próprios laçávamos gatos e cachorros vadios, ali, no terreiro de Jesus, para realizarmos os experimentos. Relembro ainda – e aqui relembro com um meio-sorriso disfarçado no canto da boca- que deixamos de trabalhar com gato, após um grotesco e imprevisível incidente: o animal traqueostomisado por nós era bicho de estimação de uma senhora da vizinhança. Desde então, cautelosamente, transferimos aquelas técnicas para outro animal; e por esse caminho não convencional, aperfeiçoamo-nos em coelhos. Naturalmente o professor não participava, nem estimulava esses procedimentos pouco ortodoxos. Tinha notícia dos exageros e mantinha um silêncio complacente, por vezes acompanhado do sorriso compreensivo e cúmplice” (Ibidem).
Além de pesquisador, foi Jorge Novis um dos didatas mais destacados do seu tempo. Suas aulas, sempre belas e irretocáveis, atraia alunos de várias séries do curso médico, os quais lotavam o anfiteatro.
Ao longo de sua carreira, alcançou posições de relevo, inclusive as de Diretor da Faculdade de Medicina e  Secretário de Saúde da Bahia .
Na clínica privada gozou de situação privilegiada, quer como clínico geral, quer como médico de família.
Autor de incontáveis trabalhos científicos publicados em periódicos nacionais e internacionais, integrou  Jorge Novis  a Academia de Medicina da Bahia e inúmeras instituições científicas e culturais e honrou, como poucos,  a medicina baiana.

FONTE BIBLIOGRÁFICA:
Macedo Costa, Luiz Fernando de- Discurso de Saudação a Jorge Augusto Novis- Anais Academia de Medicina da Bahia. Volume 3, junho 1981. Salvador, 1981.

APÊNDICE I
DEPOIMENTO DE RUY SIMÕES
(Extraído de Simões, Ruy- Retratos. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 1991)
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Quantos me restam?
Recuso-me a contá-los. É suficiente afirmá-los.
A amizade não se mensura, não admite substituição, impossível a reposição: é uma categoria.
Por princípio, preserva a individualidade, é imanente. Por causa, é inerente. Dispensa o tempo e o espaço,, porque transcendente.
Catalogá-la é afronta. Classificá-la é injúria.
Se me perguntarem por que éramos amigos, responderei tautologicamente: porque éramos!
Sei que soaria melhor dizer que nossa amizade foi hereditária, familial.De fato, nossos pais formam amigos, até compadres.Fui, sete anos consecutivos, colega de Renato. Tidinho foi meu médico-familiar, sucedendo Dr. Novis. Meu irmão foi assistente, amigo e compadre de Jorge. Conheci Solange ainda solteira. Conheci os Passos Novis desde crianças...
A amizade, todavia, não é dinástica, nem sucessória, sequer circunstancial. Não é um determinismo, nem uma fatalidade, anterior e superior à nossa vontade. Começa, naturalmente, por afinidade, mas, é uma escolha, uma personalíssima eleição.
Em verdade, éramos amigos porque era ele, porque era eu. Nem síntese, nem soma.
Éramos vizinhos, mas não nos visitávamos. Nossos caminhos só se cruzaram acidentalmente. No Colégio Antônio Vieira, ele era três anos mais adiantado.
 Na faculdade, ele em Medicina, eu em Direito. Numa rua em que ele morou, eu namorei. No magistério onde ele pontificou, meu pontificado não se efetivou. Nos últimos 20 anos, fui vê-lo em razão prática; ele jamais veio ver-me...
Acenos e sorrisos, recíprocos e à distância, eram bastantemente afirmativos, intensamente significativos.
No reitorado Macedo Costa, integramos o Conselho Universitário: ele, representando a comunidade religiosa; eu, uma faculdade sem religião. Ele sempre formal, retórico, comedido; eu, informal, insurgente, desmedido. Depois das reuniões mensais, dedos de prosa, como se tivéssemos estados juntos na véspera.
A par das afinidades eletivas, uma comprovação: ambos tínhamos prazer, pressa e presteza em servir ao outro.
Que dizer mais pra enfatizar a perda?
Irreparável – seria manifestação egoística – quando devo ser altruísta: pensar na esposa, nos oito filhos e tantos netos; nos irmãos e cunhadas; nos genros e noras; nos sobrinhos, nos parentes; nos outros amigos... respeitar a hierarquia na irreparabilidade.
Não direi que ele foi o homem integral – modelo sonhado por Teilhard de Chardin. Digo-o, sem exagerar, um homem íntegro e integrado; homem raro e caro.
Homem que cedo traçou e trilhou o binômio da própria vida. Dois únicos caminhos, paralelos, sem acidentes de percurso que o desviassem, nem hesitações no transcurso que o retardassem. Dois primorosos discursos: o pessoal e o profissional.
Pessoa e profissão tias quais mão e luva, perfeitamente ajustadas. Exação no cumprimento dos deveres amplos e estritos.
Figurando-o melhor: homem que viveu para a Família e para a Medicina.
Este, o amigo que perdi: Jorge Augusto Novis.
Novembro, 1987”
                                                                                      


“Perdi um amigo.

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