terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

260- MANOEL AUGUSTO PIRAJÁ DA SILVA, DESCOBRIDOR DO S.mansoni

260- MANUEL AUGUSTO PIRAJÁ DA SILVA, descobridor do S. mansoni
MANOEL AUGUSTO POIRAJÁ DA SILVA
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Nasceu em Camamu, em 28 de janeiro de 1873, sendo seus pais Eduardo Augusto da Silva e Veridiana da Silva Pirajá.
Seu avô, José Ribeiro da Silva, português de nascimento,  empolgou-se com a vitória alcançada pelos brasileiros que lutaram pela independência e acrescentou um nome indígena ao seu sobrenome: o topônimo “Pirajá”, que significa, na língua tupi, “viveiro de peixes”. Tornou-se assim o tronco da família Pirajá (2).
Realizado o curso primário, em sua terra natal,  foi para Salvador, onde adquiriu sólidos conhecimentos de humanidades e ingressou, em 1890,  na Faculdade de Medicina.
Em 9 de dezembro de 1896, defendeu tese inaugural, subordina ao título “Contribuição para o estudo de uma moléstia que ultimamente aqui tem reinado com os caracteres da meningite cérebro-espinhal epidêmica”.
Concluído o curso médico, fixou residência na cidade de Amargosa. Atraído pela miragem da selva amazônica, deslocou-se para Manaus, onde demorou pouco tempo.
Regressando a Salvador, foi nomeado, em 15 de maio de 1902, assistente da 1ª Cadeira de Clínica Médica, regida pelo Prof. Anísio Circundes de Carvalho.
Dedicando-se às pesquisas microscópicas, enveredou pelo estudo da sífilis e das doenças tropicais reinantes na Bahia (esquistossomíase intestinal,  disenteria amebiana, leismaníase tegumentar, doença de Chagas e ainhum).
De tais estudos resultou, em 1907, a descoberta do T. palidum, fato ocorrido pela  primeira vez na Bahia.
No ano seguinte, Pirajá da Silva passou a estudar a esquistossomíase intestinal. Suas pesquisas levaram-no à descoberta do Schistosoma mansoni, em 8 de julho de 1908.
Em 1909 seguiu para a Europa, a fim de estudar microbiologia no Instituto Pasteur e no Instituto de Doenças Marítimas e Tropicais de Hamburgo.
De 1808 a 1916, continuou suas pesquisas sobre a esquistossomíase americana, o que tornou seu nome conhecido e respeitado em todo o mundo.
Em 1911 diplomou-se como médico colonial pela Universidade de Paris. Proferiu várias conferências na Europa e recebeu inúmeras homenagens por parte de  instituições científicas do Velho Mundo.
Em 1912, descreveu a cercaria do trematório.
Em 1954, recebeu a medalha Berhaard Nocht  do Instituto Alemão de Doenças Tropicais e, dois anos depois, a grã-cruz da Ordem do Mérito Médico do Brasil.
Suas pesquisas tiveram repercussão no meio científico, pelo que  foi agraciado com vários títulos e homenagens no Brasil e no exterior.
Colaborou em diversos periódicos internacionais, notadamente da França, Inglaterra e Alemanha.
Foi inspetor sanitário e chefe da Profilaxia Rural (1921-1933), dirigiu o Posto Antiofídico e ensinou História Natural no Ginásio da Bahia (1914-1935).
Aposentado da Faculdade de Medicina e do Ginásio da Bahia, transferiu residência, em 1935, para São Paulo, onde passou a dirigir a Seção de Botânica Médica do Instituto Butantan.
“Manuel Augusto Pirajá da Silva é Autor de uma das  maiores descobertas científicas no domínio da parasitologia e que “por haver levado muito alto o nome do Brasil, dentro e fora de suas fronteiras, tornou-se, merecidamente, alvo da admiração e do respeito de todos os brasileiros” (3).
Faleceu em 1º de março de 1961.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1.       Benício dos Santos, Itazil – Vida e Obra de Pirajá da Silva. Rio de Janeiro, 1977.
2.       Cerqueira Falcão, Edgard de – Pirajá da Silva, O Incontestável Descobridor do Schistosoma mansoni (2ª Edição). Brasília, 1008.
3.       Lacaz, Carlos da Silva – Médicos Baianos. S.Paulo, 1972.
4.       Maurício, Ivan- Enciclopédia Nordeste – Pirajá da Silva. Disponível em http://fotolog.terra.com.br/filosofia dofutebol:894. Acesso em 18 e novembro de 2009.


                                APÊNDICE I
“A PROVA IRRETORQUÍVEL”
 “La découverte, para Pirajá da Silva (1908) d´une femelle accouplée dans la tunique Du recctum e ayant in útero um oeuf à épine ... montre  nettement l´individualité de l´espèce qui nous ocupe”
(E. BRUMPT (In Précis de Parasitologie. Paris, 1910)
(Extraído de Benício dos Santos, Itazil – Vida e Obra de Pirajá da
 Silva (2ª.Edição). Brasília, 2008)
OVO DE SCHISTOSOMA COM ESPÍCULO LATERAL
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“Mas, para Pirajá, que tinha empenhados os seus recursos  nessa pesquisa, o achado do ovo provido de espículo lateral dentro do útero das fêmeas encontradas em plena cópula, transcendia, em significação, a tudo. É que esse achado vinha contrariar dois argumentos levantados por aqueles que defendiam o ponto de vista unicista, isto é, de que os ovos espiculados, polar e lateralmente, pertenciam a uma mesma espécie de Schistosoma.
O primeiro argumento, de Bilharz e Mantey, assegurando que os ovos providos de espículo lateral, se encontravam, sempre, no útero de fêmeas isoladas. O segundo argumento, no mesmo sentido, de Loos, tendentes ambos a acreditarem e indicarem que tais ovos provinham de fêmeas não fecundadas e, portanto, de fêmeas não fecundadas da única espécie conhecida, o Schistosoma hemaatobium.
“Não parece provável – diz Pirajá – que a não maturidade do verme seja a causa da produção dos ovos com espículo lateral; é mais  julgar que os vermes encontrados no canal ginecóforo se achem já em estado de maturidade sexual e, por conseguinte, capazes de serem fecundados, ou mesmo já fecundados”. Praticando uma série de cortes com o auxílio do Prof. Letulle, médico do Hospital Boucicaut, Pirajá teve a oportunidade de encontrar os vermes em cópula, no interior de uma veia da submucosa do reto; viu, nitidamente, um ovo, provido de esporão lateral, em uma fêmea alojada no canal ginecóforo do macho.”
Todos os fatos contestados por  Loos  “Pirajá teve oportunidade de observar e documentar, de maneira abundante, tornando insustentável a argumentação de que só as fêmeas não fecundadas punham ovos providos de espículo lateral”.
Estava descoberto o Schistosoma mansoni !!!
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                                               APÊNDICE II
NO INSTITUTO PASTERUR, DE PARIS
(Extraído de Benício dos Santos, Itazil – Vida e Obra de Pirajá da Silva (2ª.Edição). Brasília, 2008)
INSTITUTO PASTEUR 
 PARIS, FRANÇA
DETALHE DA FACHADA DO INSTITUTO PASTER
SÃO PAULO, BRASIL
INSTITUTO PASTEUR, SÃO PAULO, BRASIL
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“Depois de ver publicado o seu primeiro trabalho  (Brasil Médico de 1º de novembro de 1808) decide viajar para a Europa, o que se dá a 15 de novembro de 1908, pelo navio francês Cordilliere.
Sua viagem reúne dois objetivos: entrar em contacto com autoridades européias, dizer de vida voz e demonstrar, com documentos em mãos, o que havia feito até então a propósito de nova espécie de Schistosoma, isto é, o quanto havia realizado para caracterizar e consubstanciar a nova espécie sugerida, por Sambom, à Zoological Society of London. Além disso, aperfeiçoar os seus conhecimentos em grandes e famosos serviços estrangeiros, sob a orientação de mestres consumados.
Visando ao primeiro e principal objetivo, levara consigo o material que julgara suficiente para documentar a sua exposição, para fundamentar a sua argumentação. Dando cumprimento à outra finalidade de sua viagem, matriculou-se, em Paris, sem demora, ainda no mês de novembro, no Instituto Pasteur, para fazer o curso de Microbiologia (com os respectivos trabalhos práticos) que aí estava sendo ministrado dentro do período  - novembro de 1908 a março de 1909).”


APÊNDICE III
“NA ALEMANHA – EM HAMBURGO”
(Extraído de Benício dos Santos, Itazil – Vida e Obra de Pirajá da Silva-
2ª.Edição). Brasília, 2008 )
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“A 4 de outubro de 1911, Pirajá deixa a Bahia, pela segunda vez, com destino à Europa. Embora sabendo que o curso de Medicina Tropical, promovido pelo Instituto de Medicina Colonial, de Faculdade de Medicina da Universidade de Paris, tinha início em outubro, chega atrasado para matricular-se no mesmo. Apresenta-se, entretanto, ao diretor do Instituto de Medicina Colonial com uma carta de Blanhcard, datada de 27 de outubro de 1911. Esta, além de recomendá-lo como estudioso da patologia tropical, pede ao diretor que o receba e matricule no curso, apesar de  achar-se este iniciado. Não obstante, conquista Pirajá a melhor classificação nos exames finais, sendo-lhe atribuído o título de Major e a correspondente medalha de ouro.
Em março, Pirajá se havia transferido para Hamburgo, a fim de inscrever-se no “Tropeninstitut”, em curso de moléstias tropicais, que se estenderia até o mês de maio. Era com grande satisfação que voltava a Hanburgo para freqüentar o Instituto de Medicina Tropical onde fizera, em sua permanência anterior, em 1908, grandes amigos, entre os quais Rocha Lima. Aí, no Instituto de Medicina Tropical, pontificava o Prof. Fülleborn, o grande parasitologista de Hamburgo, autoridade reconhecida como helmintologista. Com muita alegria, pois, é que voltava àquele convívio – sobravam razões de ordem cultural, sem que faltassem as de ordem afetiva. Lá plantara algumas raízes sentimentais, com as amizades que fizera. Com o Instituto fizera ligações, de ordem cultural e científica, em razão do assunto do seu principal interesse, que para lá levou e focalizou, em ampla e aberta discussão com os seus colegas e mestres. Havendo viajado só, desta vez sem a esposa, no calor da troca de idéias com os companheiros de trabalho, afogou, muitas vezes, a saudade dos seus e da pátria distante.
Certo dia, ainda em meio do curso que se ministrava no “Tropeninstitut”, aceita uma sugestão de Fülleborn, que logo se transformou em convite para expor, na Sociedade Alemã de Medicina Tropical de Hamburgo, o seu ponto de vista, baseado nas  pesquisas que levara a efeito na Bahia, a partir de 1908, sobre a esquistossomose. Pirajá aceita o convite, inscrevendo-se para fazer uma comunicação com a seguinte epígrafe: “Sobre alguns helmintos da Bahia”.
O sucesso foi extraordinário e a exposição foi realizada, no dia 6 de abril de 1912, em alemão e em português.

                                                         
                                               ANEXO IV
DEPOIMENTO DE ITAZIL BENÍCIO DOS SANTOS
Extraído de Benício dos Santos, Itazil – Sinopse Informativa. Universidade Federal da Bahia. Ano II. No II. Outubro.  
          Salvador, 1978  
             
                              MEDALHA PIRAJÁ DA SILVA 
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“Ao assinalar-se a passagem dos 170 anos da Faculdade de Medicina da Bahia, não poderia faltar, entre aqueles a quem se tributam justas homenagens, a figura e o nome de Pirajá da Silva – por havê-la engrandecido sobremodo e elevado, com a sua contribuição, entre as instituições científicas e culturais de maior renome do país.
Contribuiu Pirajá, como tinha de ser, como exige o trato das questões científicas, sem retórica, nem afirmações levianas, sem conceber teorias esdrúxulas, mas de maneira objetiva, apoiado em fatos, que lhe revelou o trabalho disciplinado e paciente, fatos apreciados aqui e fora daqui, discutidos, negados até, mas provados, comprovados e aceitos, afinal, sem restrições. Tanto assim foi,que fez ciência, que se inscreve o seu nome entre os estudiosos e pesquisadores que, entre nós,concorreram para firmar a incipiente ciência brasileira. Sua atuação coincidiu ainda com um período fecundo da medicina baiana, pleno de realizações objetivas e de alto valor científico. A medicina baiana cursava a fase científica que se inaugurara na segunda metade do século XIX, em 1866 com o advento da Gazeta Médica da Bahia, revista então se editara, a partir de 10 de julho daquele ano, sob a direção de um grupo de médicos da época. Se o periódico, que então se editava, surgia ao influxo das grandes conquistas – de Pasteur (1855), Claude Bernard (184-1865), Wirchow 1858) e Lister 1865)—que enriqueceram a medicina do século XIX, tornavam-se suas páginas, ao recolherem os trabalhos daquele grupo de estudiosos, o testemunho vivo e eloqüente, das profundas modificações que então experimentava a medicina na Bahia e no Brasil. A atuação marcante, que se projetou nacionalmente, daqueles estudiosos, entre os quais sobressaem Wucherer, Paterson e Silva Lima, viu-se interrompida durante anos, vindo a ser retomado, já na República, por Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e outros no Rio de Janeiro, por Nina Rodrigues e Pirajá da Silva, na Bahia. Efetivamente, voltando Pirajá à Bahia, em 1902 (diplomara-se em 1896), e fixando-se no velho Hospital Santa Izabel, dava início às pesquisas microscópicas, em favor da biologia do Schistosoma mansoni, que esclareceu definitivamente, como ficou sancionado pelo reconhecimento das autoridades competentes em todo o mundo. Com os seus trabalhos, a partir de 1908, sobre a especificidade do Schistosoma mansoni cabe-lhe a oportunidade não de reaver o crédito conquistado, não de recobrar o prestígio que não se perdera, mas de retomar o desempenho brilhante da Escola Baiana, já de tradições gloriosas, que deseja ver continuada. Pode dizer-se, sem dúvida, que floresceu na época uma Escola Científica na Bahia, a Escola de Medicina Tropical. Sim, disse eu certa vez, uma verdadeira Escola, “escola no sentido da atividade perquisitiva conjugada, do pensamento coerente subordinado a uma diretriz, da orientação própria e original que já se prolongara, afinal, na Escola de Medicina Tropical, que daqui se prolongara, afinal, desde1860 até os dias que cursavam”. É na Escola Baiana, na Escola de Medicina Tropical, que daqui se projetara nacional e universalmente, é para a Bahia que tem o pensamento voltado, diante da expectativa de serem confirmados os resultados de suas pesquisas. “Se forem confirmados os nossos estudos, como parece pelas observações de Leiper e Lutz – diz Pirajá – muito nos rejubilaremos,,não tanto pela insignificante co-participação nossa na resolução de tão importante problema, quanto por termos concorrido para que a ele se associe a Escola Baiana, de tradições tão gloriosas, tão altamente exaltadas pelos grandes vultos de Silva Lima,Wucherer, Vitorino Pereira, Paterson, Silva Araújo, Pedro Severiano de Magalhães e Pacífico Pereira”.
Com o espírito e a disposição de legítimo pesquisador e a intenção  superior que ficou explícita em suas palavras acima consignadas, é que Pirajá dedicou sua vida à realização da obra científica que o consagrou.
Pena é que, não obstante, tenha reunido, em sua caminhada, mágoas e desilusões, decorrentes de atitudes de amigos, de quem só deveria esperar apoio e solidariedade incondicionais em retribuição à colaboração desinteressada que lhes dispensou. Edgard de Cerqueira Falcão assinalou “que Luz, o  formidável e imortal pesquisador brasileiro se inscreve, ao lado de Leiper e de Brumpt, entre os que não fizeram devida justiça ao mérito de Pirajá da Silva, afogando em injustificável silêncio o importantíssimo e fundamental papel por este desempenhado na identificação do Schistosomum mansoni perante o mundo científico”. Atitudes que não se compreendem que não se podem explicar , reflexo, talvez, do quanto há sempre de insondável no coração dos homens, para justificar vários dos seus procedimentos.
Em que pese haver sido de expressão multiforme, a faceta da obra de Pirajá da Silva que o elevou à altura das honrarias que mereceu e transferiu para a Faculdade de Medicina da Bahia, para a Bahia e o Brasil, foi, inegavelmente, a do pesquisador que, estudando, em todos os aspectos, a biologia da nova espécie de Schistosoma prevista por Manson, chegou a caracterizá-la e identificá-la definitivamente.

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