terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

305- THALES OLYMPIO GÓES DE AZEVEDO (THALES AZEVEDO)

                                 SINCERO AGRADECIMENTO AOS

MÉDICOS E ESTUDANTES DE MEDICINA DE

PORTUGAL PELO INCENTIVO AO

DESENVOLVIMENTO DESTE

BLOG
 
 
LISBOA, PORTUGAL
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AOS MÉDICOS E ESTUDANTES DE
MEDICINA DE CABO VERDE
E  FILIPINAS,
NOSSO ABRAÇO FRATERNAL
 
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305- THALES OLYMPIO GÓES DE AZEVEDO
(THALES AZEVEDO)
THALES OLYMPIO GÓES DE AZEVEDO
(THALES AZEVEDO)
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Nasceu em Salvador, no dia 26 de agosto de 1904, sendo seus pais Ormindo Olympio Pinto de Azevedo e Laurinda Góes de Azevedo.
Estudou no Colégio Antônio Vieira (1914-1919), tendo como condiscípulos Anísio Teixeira, Herbert Fortes, Francisco Mangabeira Albernaz, Hélio Simões, Augusto Alexandre Machado e outros expoentes da cultura baiana.
Influenciado por Frederico Edelweis, resolveu, em 1922, ingressar na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual foi diplomado em 1927. Dentre seus colegas de turma, destacamos Alício  Peltier de Queiroz, Bráulio Xavier Filho, Carlos Rodrigues Moraes, Eládio Lassere, Flaviano Marques, Hosanah de Oliveira, Jorge Valente, José Silveira, José Eugênio Mendes Figueiredo, Luiz Rogério de Souza, Mathias Bittencourt, Manoel Jerônimo Ferreira, Raymndo Nonato de Almeida Gouveia e outros luminares da medicina baiana (Tavares).
Ainda estudante de medicina, começou a escrever na imprensa local. Foi revisor do Diário Oficial da Bahia, do Diário da Bahia e do jornal A Tarde.
Na Faculdade de Medicina, foi interno da Cadeira de Clínica Ginecológica, cujo catedrático era o Prof. José Adeodato de Souza (1926) e do Ambulatório de Ginecologia do Hospital Santa Izabel (1927).
Concluído o curso médico, empenhou-se, em 1928, na campanha contra a peste bubônica, em Itambé. Depois, clinicou em Castro Alves (1919-1933).
Trabalho no Serviço de Febre Amarela (1929-1932) e foi Inspetor Estadual de Ensino (1930) nos município de Castro Alves e São Félix.
Em 1931, fez um curso de aperfeiçoamento em Aparelho Digestivo e Tuberculose, com o Prof. Clmentino Fraga, no Rio de Janeiro.
Regressando à Bahia, fixou-se em Salvador, onde iniciou a clínica, ingressou na Secretaria de Educação e Assistência, ensinou Inglês no Colégio dos Irmãos Maristas e História Natural, no Colégio Antônio Vieira.
Estagiou na Clínica de Dermatologia e Sifilografia, com o Prof. Rabello, da Universidade do Brasil, foi Assistente de Zoologia e Botânica do curso de Farmácia da Faculdade de Medicina, e de Parasitologia, no curso de medicina da mesma Faculdade.
Liderou a criação da Escola de Serviço Social da Universidade Católica do Salvador e foi seu Dretor (1944 a 1954).
Integrou o corpo docente da Faculdade de Filosofia, CiênciaS e Letras, criada em 1941.
Em1949, escreveu “Povoamento da Cidade de Salvador”, obra que o credenciou para a dirigir a primeira Cadeira de Antropologia e Etnografia do Brasil, na Faculdade de Filosofia da Bahia.
A partir de então, Thales de Azevedo tornou-se um dos antropólogos e etnólogos mais importantes do Brasil.
Publicou vários trabalhos, muitos dos quais baseados em pesquisas originais. Colaborou como professor e pesquisador em diversas instituições científicas e culturais, na Bahia e em outros estados.
Foi Pro-Reitor da Universidade Federal da Bahia, Professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e ocupou cargos de projeção nacional.
Faleceu em Salvador, no dia 5 de agosto de 1995.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:

1.       Almeida Gouveia, Raymundo de Almeida Gouveia. Anais da Academia de Medicina da Bahia. Volume 2, junho. Salvador, 1979.
2.       Marcílio de Souza – De Nina Rodrigues a Thales de Azevedo: alargando os limites da medicina brasileira. Anais da Academia de Medicina da Bahia, Volume 11, dezembro. Salvador, 1998.
3.       Tavares-Neto, José – Formados de 1812 a 2008 pela Faculdade de Medicina da Bahia. Salvador, 2008.
   4.       Thales de Azevedo. Disponível em http://www.thalesdeazevedo.com.br/bi ografia.htm. Acesso em 30 de novembro de 2009.


APÊNDICE I

O SINCRETISMO AFRO-BRASILEIRO (I)
 (Verger, Pierre Fatumbi –Oruxás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. Salvador, 1981)
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“Os navios negreiros transportaram através do Atlântico, durante mais de trezentos e cinqüenta anos, não apenas o contingente de cativos destinados aos trabalhos de mineração, dos canaviais, das plantações de fumo localizadas no Novo Mundo, como também a sua personalidade, a sua maneira de ser e de se comportar, as suas crenças.
As convicções religiosas dos escravos eram entretanto colocadas a duras provas quando de sua chegada ao Novo Mundo, onde eram batizados obrigatoriamente “para a salvação de sua alma” e deviam curvar-se às doutrinas religiosas de seus mestres.
A extraordinária resistência oposta pelas religiões africanas às forças de alienação e de extermínio com que freqüentemente se defrontavam haveria de surpreender as todos aqueles que tentavam justificar a cruel instituição do tráfico de escravos com o argumento de que as suas atividades – as dos negreiros – “constituíam o meio  mais seguro e mais desejável de conduzir à Igreja as almas dos negros, o que seria mais recomendável do que deixar na África, onde se perderiam num paganismo degradante ou estariam ameçados pelo perigo da sujeição herética às nações estrangeiras, para onde seriam, no mínimo, deploravelmente enviados”. Era assim que3 se exprimiam, em 1698, os “homens de negócios da Bahia” quando tentaram, sem êxito, fundar uma companhia que se propunha construir uma fortaleza em Ajudá, para servir de depósito aos escravos em vias de embarque. Somente vinte e três anos mais tarde é que tal projeto haveria de se concretizar, graças aos esforços do Capitão-de-Mar-e-Guerra Joseph de Torres, estabelecido na Bahia de Todos os Santos.
Com essa preocupação de salvar as almas dos africanos das garras dos heréticos, chega-se ao ponto de proibir, no final do século XVII, que “os estrangeiros protestantes que residem na Bahia comprem e possuam negros, especialmente os recém-chegados, a fim de evitar que lhes sejam inculcados seus próprios erros e para que eles não sejam doutrinados senão na verdadeira fé”. Nos países de religião reformada, as pessoas mantinham os mesmos escrúpulos virtuosos e tentavam preservar esses pagãos dos perigos do papismo. Quanto aos mulçumanos, a preocupação era a mesma: a de conduzir esses idólatras infiéis em direção à Arábia, à Pérsia e à Turquia, a fim de convertê-los à verdadeira fé, mas – já agora—àquela pregada por Maomé.
Vê-se, assim, com que cuidados os negreiros, professando as mais diversas formas de monoteísmo, tentavam “salvar” as almas dos africanos, mergulhados na “trevas” da idolatria”.



APÊNDICE II
O SINCRETISMO AFRO-BRASILEIRO (II)
 (Verger, Pierre Fatumbi –Oruxás, Deuses Iorubás na África e no
 Novo Mundo. Salvador, 1981)
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Thales de Azevedo  (em sua obra “Os nomes de naus portuguesas nos séculos XVIII e XIX”. Bahia, 1955), chamou a atenção para a predominância, até o século XIX, dos nomes de santos em embarcações lusitanas, verificando ainda uma indiscutível preferência pelo nome de Nossa Senhora.
Passando em revista os nomes dos navios relacionados em diversos documentos, observamos que, até 1800 aproximadamente, todos aqueles dedicados ao tráfico de escravos encontravam-se sob a proteção da Virgem Maria, de Cristo, dos santos e, até mesmo, das almas.
Corvetas, galeras e sumacas  tinham belos nomes, como: Nossa Senhora da Conceição e Esperança-Nossa, Senhora Mãe dos Homens, Santo Antônio dos Pobres e Alma-Nossa Senhora da Ajuda, Santo Antônio e Almas.
Tentamos investigar sob qual denominação Nossa Senhora era mais frequentemente  invocada para proteger a tarefa de salvação das almas dos escravos. Por outro lado, procuramos saber quais eram os santos solicitados com maior insistência, a fim de proteger e levar a bom porto os rolos de tabaco, nas viagens de ida, em direção à África, e os carregamentos de escravos, nas viagens de volta, com destino à Bahia.
Partindo de indicações recolhidas nos registros de patentes concedidas para carregar os rolos de tabaco, destinados ao tráfico de escravos, constatamos que “Nossa Senhora” encontra-se mencionada 1.154 vezes, sob 57 invocações diferentes, sendo que as mais populares apresentam-se na seguinte ordem decrescente: Nossa Senhora da Conceição, 324 vezes; Nossa Senhora do Rosário, 105; Nossa Senhora do Carmo, 98; Nossa Senhora da Ajuda, 87; Nossa Senhora da Piedade,48; Nossa Senhora de Nazaré, 39, etc. O “Bom Jesus”, encontra-se citado apenas 180 vezes, sob onze invocações distintas, sendo que Bom Jesus do Bom Sucesso figura 29 vezes;  O Bom Jesus de Bouças, 26; Bom Jesus do Bonfim, 24, etc. Santos e santas aparecem 1.158 vezes, destacando-se, dentre os mais prestigiosos, Santo 43. Antônio, mencionado 695 vezes, e acompanhado das Almas, 508; São José,, 107; Sant´Ana, 88; São João Batista, 43. Curiosamente, o nome de São Jorge aparece, apenas, uma vez ...”








APÊNDICE III
O SINCRETISMO AFRO-BRASILEIRO (III)
 (Verger, Pierre Fatumbi –Oruxás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. Salvador, 1981)
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“Voltando aos santos do paraíso católico, é certo que eles ajudaram os escravos a lograr e a despistar os seus senhores sobre a natureza das danças que estavam autorizados a realizar, aos domingos, quando se reagrupavam em “batuques” por nações de origem. Em 1758, o Conde dos Arcos, sétimo vice-rei do Brasil, mostrava-se partidário de distrações dessa natureza, não por espírito filantrópico, mas “por julgar útil que os escravos guardassem a lembrança de suas origens e não esquecessem os sentimentos de aversão recíproca que os levavam a guerrear em terras da África”. Assim divididos, eles não se arriscariam a um levante em conjunto, como iriam fazê-lo cinqüenta anos mais tarde contra os seus senhores. Estes últimos, vendo os seus escravos dançarem de acordo com os seus hábitos e cantarem nas suas próprias línguas, julgavam não haver ali senão divertimentos de negros nostálgicos. Na realidade, não desconfiavam que o que eles cantavam, no decorrer de tais reuniões, eram preces e louvações a seus orixás, a seus vodum, a seus inkissi. Quando precisavam justificar o sentido dos seus cantos, os escravos declaravam que louvavam, nas suas línguas, os santos do paraíso. Na verdade, o que eles pediam era a ajuda e a proteção aos seus próprios deuses”.



APÊNDICE IV
O SINCRETISMO AFRO-BRASILEIRO (IV)
 (Verger, Pierre Fatumbi –Oruxás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo. Salvador, 1981)
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“É difícil precisar o momento exato em que esse sincretismo se estabeleceu. Parece ter-se baseado, de maneira geral, sobre detalhes das estampas religiosas que poderiam lembrar certas características dos deuses africanos.
Pode parecer estranho, à primeira vista, que Xangó, deus do trovão, violento e viril, tenha sido comparado a São Jerônimo, representado por um ancião calvo e inclinado sobre velhos livros, mas que é frequentemente acompanhado, em suas imagens, por um leão docilmente deitado a seus pés. E como o leão é um dos símbolos da realeza entre os iorubas, São Jerônimo foi comparado a Xangô, o terceiro soberano dessa nação.
A aproximação entre Obaluaê e São Lázaro é mais evidente, pois o primeiro é o deus da varíola e o corpo do segundo é representado coberto de feridas e abscessos.
Iemanjá, mãe de numerosos outros orixás, foi sincretizada com Nossa Senhora da Conceição e Nanã Buruku, a mais idosas das divindades das águas, foi comparada a Sant`Ana, mãe da Virgem Maria.
Oiá-Iabsã, primeira mulher de Xangô, ligada às tempestades e aos relâmpagos, foi identificada com Santa Bárbara.
A relação entre o Senhor do Bonfim e Oxalá, divindade da criação, é mais dificilmente explicável, a não ser pelo intenso respeito e amor que ambos inspiram.
Na Bahia, São Jorge é identificado com Oxóssi, deus dos caçadores, mas, no Rio de Janeiro, é ligado a Ogum, deus da guerra, o que compreensível em relação aos dois orixás,  pois São Jorge é apresentado nas gravuras como um valente cavaleiro, vestido em brilhante armadura, montado sobre um cavalo ricamente ajaezado em ferro, que bate no chão com as patas e caracola. Armado com uma lança, São Jorge da Capadócia mata um dragão enfurecido, caça predileta do deus dos caçadores. Para maior satisfação do deus dos guerreiros, “no Rio de Janeiro, desde os tempos do Império”, segundo Arthur Ramos, “São Jorge aparecia nas procissões montado num cavalo branco com honras de coronel e recebendo as continências da tropa à sua passagem”. Na Bahia, porém, é com Santo Antônio que Ogum vai ser sincretizado”.



                         APÊNDICE V
O SINCRETISMO AFRO-BRASILEIRO (V)
 (Verger, Pierre Fatumbi –Oruxás, Deuses Iorubás
 na África eNovo Mundo. Salvador,1981)


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“Ao que parece, certos membros do clero católico julgaram conveniente favorecer esse sincretismo, como o Padre Bouche havia sugerido, na própria África, ao descrever a estátua de Iangbá, mulher de Oxalá, nos seguintes termos: “Esta deusa que muito se parece com a Santa Virgem, pois tanto uma como a outra salvaram os homens”.
Os santos católicos ao se aproximarem dos deuses africanos, tornaram-se mais compreensíveis e familiares aos recém-convertidos. É difícil saber se essa tentativa contribuiu efetivamente para converter os africanos, ou se ela os encorajou na utilização dos santos para dissimular as suas verdadeiras crenças. É o que Nina Rodrigues indagava em 1890, numa época em que o sincretismo entre orixás e santos católicos ainda estava em formação e onde a equivalência entre eles era flutuante variável de acordo com os terreiros. Existia ainda, na época, a tendência de se identificar Xangô com Santa Bárbara, como se vê até hoje em Cuba, apesar da diferença de sexo, pois o argumento das relações com o trovão parecia dominar. Nina Rodrigues escrevia, então: “Aqui na Bahia, como em todas as missões de catequese dos negros africanos, sejam elas católicas, protestantes ou maometanas, longe de o negro converter-se ao catolicismo, protestantismo ou ao islamismo, acontece, ao contrário influenciá-los com seu “fetichismo” e adaptá-los ao animismo do negro”.
Nos candomblés, as duas religiões permanecem separadas, e Nina Rodrigues constatava que, em fins do último século, “a conversão religiosa não fez mais que justapor as exterioridades muito mal compreendidas do culto católico às suas crenças e práticas fetichistas que em nada se modificaram. Concebem os seus santos ou orixás e os santos católicos  como de categoria igual, embora perfeitamente diferentes”.
Com o passar do tempo, com a participação de descendentes de africanos e mulatos cada vez mais numerosos, educados num igual respeito pelas duas religiões, tornaram-se eles tão sinceramente católicos quando vão à igreja, como ligado às tradições africanas, quando participam, zelosamente, das cerimônias do candoblé”.
 

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