sábado, 28 de maio de 2011

RUY SIMÕES, NOSSO CONVIDADO ESPECIAL



RUY SIMÕES, NOSSO CONVIDADO ESPECIAL

Stela Simões


Terceiro filho dos dez que tiveram Jose Simões e Silva (Juca) e Sizina de Santana Simões, Ruy nasceu e se criou na Vila S.José, na Federação, Salvador, Bahia.
                A Vila, espaço físico amplo e arejado, cheio de árvores frutíferas, favorecendo um intenso contato com a natureza, os irmãos para brincar e brigar, a presença amorosa e vigilante da mãe, o exemplo edificante do pai, forjaram o caráter firme, decidido, solidário e comunicativo de Ruy.
                As primeiras letras foram aprendidas no Colégio Antônio Vieira, ainda com sede na Rua Direita da Piedade e depois já no Garcia, até 1938, quando recebeu o título de Bacharel em Ciências e Letras.
 Atendendo mais ao desejo paterno do que a uma possível vocação, ingressou, após aprovação em vestibular, na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, diplomando-se com a turma de 1952
                Como advogado foi assistente do Departamento de Estradas de Rodagem da Bahia (DERBA), e advogado residente da Sociedade Anônima Magalhães Comércio e Indústria, entre os anos de 1956/59. Breve atuação.
Afeito às letras, possuidor de grande facilidade para escrever, Ruy exerceu, também atividades jornalísticas em sua juventude como repórter de “A Tarde” – 1941/43, e 1953/55, tornando-se mais tarde seu colaborador eventual, Como jornalista também trabalhou nos “Diários Associados” - 1946/52.
                Se o Direito não se confirmou como sua vocação, foi na Filosofia que a encontrou, Não, apenas, a vocação mas a sua realização. Licenciou-se em Filosofia, em 1955 pela Faculdade Católica de Filosofia, hoje integrante da Universidade Católica de Salvador. Diplomado, submeteu-se a concurso de provas e títulos para professor do ensino médio realizado em janeiro de 1955. Obteve o primeiro lugar e, com ele, a vaga que lhe assegurou lotação no Colégio Estadual da Bahia – hoje Colégio Central. Nesse estabelecimento de ensino serviu até 1972, quando, nos termos da lei, foi colocado à disposição da Universidade Federal da Bahia, sob o regime de tempo integral e dedicação exclusiva.
Como professor do ensino médio, lecionou, ainda no Colégio Santíssimo Sacramento (Sacramentinas) e N.S.Auxiliadora (Anfrísia Santiago).
                Em 1960 ingressou na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA, primeiro como professor contratado e, posteriormente, enquadrado como professor adjunto do departamento de Filosofia. Na UFBA  ascendeu em sua carreira universitária. Entre seus títulos magistériais estão: chefe de departamento, professor orientador dos cursos de filosofia, coordenador do colegiado do mesmo curso, vice-diretor e em seguida diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, membro dos Conselhos de Coordenação e Universitário da UFBA, substituto do vice-reitor. Em função de ser o substituto do vice- reitor exerceu o reitorado da UFBA, interinamente, entre janeiro e março de 1984.
                Ainda que estivesse envolvido com funções administrativas, Ruy jamais deixou de exercer o magistério, exceção feita aos meses de reitorado interino.. Não admitia estar longe das salas de aula; seus alunos eram prioridade. Se ensinar era a sua devoção, escrever, uma impulsão. Encontrava, sempre, a palavra certa, no significado exato do que desejava expressar. Seu estilo conciso e simbólico, mesmo em forma de prosa, tantas vezes, atingia a grandeza da poesia. Foram muitos os artigos, palestras e conferências, além de dois livros publicados.
                Ruy Simões entre Médicos Ilustres da Bahia!  Por quê?              
Muitos de seus amigos queridos eram médicos. Entre eles Dr. José Silveira, amizade paternal, tantas vezes conselheira e cuidadosa. Dr. Newton Guimarães, colega no Conselho Universitário da UFBA, Eduardo Dias de Moraes, médico e colega na FCH, Maria Tereza Pacheco, amiga e colega no trabalho da Fundação José Silveira, entre muitos outros.
Em sua juventude e por toda a vida, Ruy privou da amizade de jovens médicos que foram José Maria de Magalhães Neto (Zezito) e Gerson Mascarenhas,
Contudo, uma outra explicação poderia justificar melhor, ainda, Ruy no meio médico. Durante alguns anos, na década de 1970, salvo engano, o Departamento de Filosofia da FCH, ocupou algumas das salas, então disponíveis, da Faculdade de Medicina que se transfira, em parte, para o Vale do Canela, Algumas disciplinas do currículo médico permaneceram no prédio do terreiro, o que mantinha seus professores em convívio com os de Filosofia. Assim, estavam entre eles: Edgard Pires da Veiga, Rodrigo Argollo, Eládio Lassere, José Luiz Pinto, Marbal , cujas companhias Ruy gostava de desfrutar. Procurava, então, chegar com algum tempo disponível, antes das aulas para o “dedo de prosa” habitual antes que cada um se dirigisse às suas respectivas salas de aula.
Quando a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas instalou-se, definitivamente, em S. Lázaro, antigo convento das Ursulinas, depois sede do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) e finalmente, FCH, os encontros escassearam, mas a amizade não arrefeceu.
Foi ali, naquele local aberto, arejado, repleto de árvores, lembrando a Vila S. José de sua infância, que Ruy galgou cada degrau de sua carreira universitária.
Foi também, ali, naquele local sagrado, onde ministrava suas aulas, que lhe foi decretada a aposentadoria compulsória. Ruy completara 70 anos em 22 de abril de 1993; d’agora por diante passava a ser para o governo, inativo, incapaz e inadequado 
São suas as seguintes considerações sobre aposentadoria: “A legislação é uma evidência e impõe a aposentadoria, uma injustiça fria e desumana. Na véspera, funcionário ativo e prestante; no dia seguinte, inativo e imprestável. Em um só ato, desprezo à experiência adquirida, rejeição à sabedoria acumulada, ingratidão aos serviços prestados. Condenação à inação, impulsão à depressão criada pela civilização ocidental, incompreensível aos primitivos, inadmissível aos orientais”.
 Aos 73 anos a morte o levou para outros planos, a percorrer novos caminhos.
“A vida de Ruy foi sempre pautada pelo culto da verdade, o que lhe deu altivez, pelo exercício da bondade, que o fez tão querido, pela cultura o que lhe valeu a distinção entre grandes nomes, pela coragem que não o fez temido mas respeitado.’ Assim referiu-se a Ruy, o professor Ary Guimarães, em discurso público.
Hoje, onde quer que esteja, Ruy estará dizendo: “eu, entre Médicos Ilustres da Bahia: quanta honra, que alegria! "                                                    
                                                                                                                
               

               
               


               


3 comentários:

  1. Achei por acaso o texto acima da viúva do saudoso professor Ruy Simões, de quem fui aluno no Colégio da Bahia, nos anos de 1965 e 1967, e de quem vim a ser amigo. Dele guardo, entre tantas lições ricas, a do senso de humor, a da ironia, quando necessária, a recusa a tudo que é enfático ou grandiloquente, a atenção constante que merece a ética, sem cujos princípios a vida não vale nada. Alegra-me saber mais a respeito da história de vida de Ruy, como conta, e bem, Stela, o que muito contribui para prolongar a figura dele na dimensão da memória. Valdomiro Santana

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  2. Achei por acaso o texto acima da viúva do saudoso professor Ruy Simões, de quem fui aluno no Colégio da Bahia, nos anos de 1965 e 1967, e de quem vim a ser amigo. Dele guardo, entre tantas lições ricas, a do senso de humor, a da ironia, quando necessária, a recusa a tudo que é enfático ou grandiloquente, a atenção constante que merece a ética, sem cujos princípios a vida não vale nada. Alegra-me saber mais a respeito da história de vida de Ruy, como conta, e bem, Stela, o que muito contribui para prolongar a figura dele na dimensão da memória. Valdomiro Santana

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  3. Deixou muitos ricos interiormente! Valeu, Querido Mestre.

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