sábado, 4 de fevereiro de 2012

181- SERGIPE: JOSÉ ANTÔNIO DE ABREU FIALHO

 
ABREU FIALHO

                                                                                   *
José Antônio de Abreu Fialho nasceu em Aracaju, no dia 20 de janeiro de 1874, sendo seus pais Tito de Abreu Fialho e Maria José de Abreu Fialho.
Realizou os preparatórios no Imperial Colégio Pedro II, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e por ela foi diplomado em 16 de janeiro de 1897.
Sua tese de doutoramento, apresentada em 31 de outubro, versou sobre “A oculística perante a patologia: perturbações oculares nas moléstias cerebrais” e constitui um  marco na história da oftalmologia brasileira.
Ainda estudante, de 1891 a 1896, foi auxiliar do Instituto Vacínico Municipal do Rio de Janeiro e interno do Hospital Geral da Santa Casa (ambos os cargos conquistados por concurso).
Um ano após a formatura, foi nomeado, mediante concurso, professor substituto da clínica de moléstias dos olhos da Faculdade de Medicina, ocasião em que defendeu tese sobre  “Estudo físico-clínico da nutrição ocular”.
Na mesma ocasião, foi nomeado médico oftalmologista dos hospitais da Sociedade Portuguesa de Beneficência, da Santa Casa de Misericórdia, da  Penitenciária Estadual e do Hospital São Francisco de Paula.
Em 1901 e 1902 permaneceu na Europa, onde freqüentou o mais conceituado centro de oftalmologia do Velho Continente, a Clínica Fuchs, localizada na capital vienense.
Ao regressar ao Brasil, foi  considerado o mais destacado oftalmologista do país.
Sua biblioteca atingiu tais proporções que ocupou todos os cômodos de sua residência, transformando-se em sério problema para a convivência com a família.
Em 22 de novembro de 1906 assumiu a cátedra de Oftalmologia. Sylvio Abreu Fialho, em seu livro “Páginas Viradas”, relata que seu pai, no concurso a que se submeteu para a conquista da cátedra, surpreendeu os concorrentes favoritos, isto é, “aqueles cujos nomes granjeavam maior evidência entre as elites. O único trunfo que Abreu Fialho possuía era a enorme confiança no saber acumulado nas vigílias do estudo em que se haviam consumido as melhores horas da sua mocidade” (1).
Professor de invejáveis qualidades, realizou vários melhoramentos em sua cátedra, transformando-se em verdadeiro ídolo para  alunos, colegas  e clientes.
Em 1907 foi comissionado para nova viagem de estudos à Europa, ocasião em que freqüentou hospitais de Berlim, Paris, Viena e outros  centros científicos.
Além de catedrático da Faculdade de Medicina (da qual foi, por 4 anos, operoso diretor), fundou e presidiu a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, foi vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cultura Alemã, membro titular de várias instituições científicas tais como o Instituto Histórico do Ceará, o Instituto Histórico de Sergipe, o American Colege of Surgeons  e várias outras, de São Paulo e de outros estados do Brasil.
Colaborou com diversos periódicos do Brasil e do exterior, notadamente nos anais da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Medicina Militar, no Brasil Médico e em outras revistas de medicina.
Foi escritor notável, sobretudo de fábulas, pelo que mereceu elogios de Anastásio Bonsucesso e de outros mestres daquele gênero literário.
Além das letras vernáculas, incursionou com sucesso na literatura hispânica, sendo, inclusive,  vice-presidente da Casa de Cervantes.
Dominando várias línguas, lia autores estrangeiros no original, especialmente alemães, tendo publicado trabalhos no idioma germânico e presidir a Sociedade Brasileira de Cultura Alemã.
Sua clínica foi a maior do Rio de Janeiro. “Por aproximadamente quarenta anos, a despeito de suas intensas e múltiplas atividades, Abreu Fialho manteve repleto o seu consultório na Rua dos Ourives. Estima-se que atendeu, em toda a sua vida médica, cerca de quatrocentos mil clientes, divididos entre a sua clínica e o hospital, de várias raças e nível sócio-econômico, oriundos de vários lugares” (2).
Assinala Almeida que “Abreu Fialho era capaz de extrair um sorriso de todos, inclusive dos mais carrancudos clientes!”. E acrescenta: “Permitam-me narrar um interessante episódio, testemunhado pelo seu filho Sylvio, quando Abreu Fialho enfrentou o paciente mais casmurro de sua carreira. Tratava-se de um padre taciturno, que insistia em responder monossilabicamente as questões. A consulta chegava praticamente ao fim e o sacerdote não cedia espaço para conversação, prosseguindo na sua atitude de misantropo. O médico parecia derrotado; finalmente, seu lema havia falhado. Eis que o célebre oftalmologista começa a costumeira receita. Mas, ao entregá-la ao padre, o sacerdote abre um largo sorriso: estava escrita em latim! E, coincidentemente, ambos haviam tido o mesmo professor no Imperial Colégio D. Pedro II, o que lhe permitiu encetar um amistoso colóquio” (Ibidem).
Apesar de ter passado toda a sua vida profissional no Rio de Janeiro, Abreu Fialho não esqueceu seu torrão natal. “Em meio aos seus livros e às peças de decoração – diz Marco Almeida – constava, vejam só! O mapa de Sergipe” (2). E mais, do mesmo autor: “A alma sergipana esteve sempre presente na vida e obra de Abreu Fialho. A guisa de exemplo,e apesar de sua civilidade cosmopolita, ele sempre manteve o hábito de ler ao suave embalo de uma rede. Foi também presidente do Centro Sergipano (com sede no Rio de Janeiro, então capital federal), tendo feito nostálgicos louvores à sua terra em vários discursos. Em um deles, assim se pronunciou: “No minúsculo Sergipe bebi eu os primeiros ares de vida, e vivi por alguns anos nesse saudoso rincão do Norte, terra adorada, que já hoje mal entrevejo através das neblinas das lentes, tão longe dela estou pelo tempo que lá se foi” (Obra citada).
Apesar disso, por ocasião da sucessão de Graco Cardoso no governo de Sergipe, o presidente Arthur Bernardes ( que presidiu o Brasil de 1922 a 1926) procurando um sergipano ilustre não envolvido com as lutas políticas do seu estado, lembrou-se do professor Abreu Fialho o qual, de imediato, não aceitou o cargo, oferecendo como justificativa o fato de “não conhecer Sergipe,  pois de Sergipe se afastou há muitos anos” (4). Anos mais tarde, Sylvio Fialho, filho do epigrafado, assim explicou: “Meu pai não nasceu para apajear poderosos ao troco de honrarias” (1).
O lema de Abreu Fialho, repetido em várias ocasiões, era: “Lutar para viver, resistir, persistir, triunfar ou ser vencido com honra e dignidade, vivendo alerta, abraçado com a própria vida”.
Sua bibliografia, por demais extensa, está relacionada - pelo menos no que ela tem de mais importante - no Dicionário Bibliográfico Sergipano, de Armindo Guaraná.
O grande sergipano faleceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de março de 1940, ocasião em que recebeu o tributo de seus amigos, colegas, clientes e admiradores.

BIBLIOGRAFIA:

Abreu Fialho, Sylvio – Páginas Viradas. Rio de Janeiro, 1967.
Almeida Santos, Marcos  Antônio – Discurso de posse na Academia Sergipana de Medicina. Aracaju, 2007.
Guaraná, Armindo – Dicionário Bibliográfico Sergipano. Rio de Janeiro, 1927.
Samarone de Santana, Antônio – José Antônio de Abreu Fialho. Aracaju, 2006.

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