terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

204 (II)- JOSÉ SILVEIRA

204 (II)- JOSÉ SILVEIRA

PROF. JOSÉ SILVEIRA E D. IVONE SILVEIRA
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Nasceu em 3 de novembro de 1904, em Santo Amaro da Purificação, sendo seus pais o engenheiro agrônomo João Silveira e Maria Blandina Loureiro Silveira. 
Com a morte da mãe, passou a residir em Feira de Santana e, pouco depois, em Santo Amaro da Purificação.
Em Santo Amaro fez os cursos primário e secundário e em Salvador realizou os  preparatórios.
Em 1922 ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual foi laureado em 1927.
Um ano após a conclusão do curso médico, defendeu tese de doutoramento, intitulada “Radiografia da descendente”. No mesmo ano, ingressou no corpo docente da Faculdade de Medicina da Bahia, na qualidade de assistente do Prof. Prado Valadares.
A tese de doutoramento repercutiu nos meios científicos, motivo pelo qual foi convidado, em 1930, para realizar estudos complementares na Alemanha e  Suíça.
Na Europa especializou-se em radiologia e tisiologia.
De regresso ao Brasil, tornou-se um tisiologista famoso e desfraldou a bandeira da luta contra a tuberculose.
Em 1936, voltou à Alemanha, a convite do Instituto Ludolf Brauer, a fim de realizar conferências.
Inspirado no Prof. Brauer, regressou para Salvador onde criou, em 21 de fevereiro de 1937, o IBIT (Instituto Brasileiro de Investigação da Tuberculose).
Ao IBIT Silveira dedicou sua vida.
Os primeiros anos do IBIT foram anos de intenso trabalho, pesquisa e publicações,  o que tornou a instituição uma entidade  conhecida em todo o país.
Em 1944, o IBIT  inaugurou  sua sede, localizada no bairro da Federação, em Salvador.
A partir de então, José Silveira passou a ser considerado um cientista de renome internacional e  pesquisador de grande conceito.
“Sem a pesquisa não há ciência; sem ciência, não há estudo; sem estudo não há ensino, nem prática confiável”, dizia ele.
Em 1950, passou, por concurso de provas e títulos, a Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. Logo em seguida, assumiu a cátedra de Tisiopneumologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e da Escola de Enfermagem da UFBa.
O IBIT foi o início de uma série de empreendimentos. O Hospital do Tórax, também criado pelo Prof. José Silveira, passou a ser chamado Hospital Santo Antônio. Outras instituições foram aglutinadas formando, a partir de 1998, a Fundação José Silveira.
A Fundação, financiada pela iniciativa privada, mantém o IBIT, o Hospital Santo Antônio, o Laboratório José Silveira, o Instituto de Reabilitação, o Centro de Saúde Ocupacional, o Núcleo de Toxicologia e outras instituições.
Apesar de seu envolvimento com a cultura européia, Silveira fazia questão de afirmar que era “visceralmente baiano”, motivo pelo qual recusou repetidos convites para trabalhar no Rio de Janeiro e na Alemanha.
Honrado por numerosas instituições nacionais e internacionais, membro de várias sociedades científicas e culturais, autor de produções científicas e literárias, renomado conferencista, José Silveira avulta como uma figura de imensa projeção na galeria dos grande médicos  brasileiros.
Faleceu em Salvador, em 03 de abril de 2002.
Seus restos mortais, e os da sua esposa, d. Ivone, repousam na igreja matriz de Santo Amaro da Purificação.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1.       Benício dos Santos, Itazil –Itinerário de ideais e Compromissos. Salvador, 1987.
2.       Boaventura, Edivaldo Machado – José Silveira. Jornal A TARDE, edição de sábado, 27 de novembro de 2004. Salvador, BA.
3.       Fiocruz, Memória da Tuberculose. Disponível em http://fiocruz.br/coc/
Catalogo-tuberculose/Silveira.html. Acesso em 5 de novembro de 2009.
4.     Fundação José Silveira- Nosso Fundador. Disponível em http://www.fjs.org.br/int_silveira 01.html. Acesso em 5 de novembro de 2009.



APÊNDICE VI
DEPOIMENTO DE THALES DE AZEVEDO
(Extraído do jornal A TARDE, edição de 18 de novembro de 1994)
THALES DE AZEVEDO
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“Desde  quando o conheci,em 1922, por ocasião da matrícula na Faculdade de Medicina, sou um seu admirador. Porém, mais de um cultor dessa admiração, tornei-me seu amigo, muito próximo, distinguido por sua atenção. Foi assim José Silveira uma pessoa muito digna da estima e da afeição dos colegas daquela feliz turma, a Turma de 27, assim denominada pela diplomação naquele ano.
Havia naquele grupo vários outros colegas, merecedores de estima e de apreço por  qualidades e por seu desempenho no curso que iniciávamos. Mas nenhum se destacava como Silveira, por um conjunto raro de atributos que o distinguiam. Destacava-se pela fisionomia e pelo porte, porém se fazia querido pelo modo educado, pelo trato fino, pelas notas que ganhava nas pro0vas do curso então iniciado. Era, sem dúvida,uma personalidade fora do ordinário.
Quanto a mim, tive a ventura da correspondência de minha admiração e estima, sua amizade pessoal. Acostumei-me a acompanhá-lo de perto na maneira como dava  conta de suas obrigações de estudante. Exercia uma liderança na turma e se fazia seguir pelos colegas. Fui um daqueles que se deixaram impressionar pela sua capacidade de atrair e cultivar seguras amizades e admirações. Também os professores logo divisaram nele um promissor  futuro colega, tanto mais, que vinha recomendado pelo Prof. Prado Valadares, o eminente mestre na congregação da faculdade. Não tardou em assumir uma posição de destaque entre colegas. Estive junto a ele desde aqueles primeiros momentos, encantado com sua excepcionais qualidades.
Tudo que prometia se cumpriu, dadas as suas aptidões e valores. Perto dele estive todos os anos do curso e depois deste. Habituei-me a seguir seus vitoriosos passos e triunfos na carreira nova de radiologista e tisiólogo inovador. Segui com modestos votos de êxito a criação do IBIT e suas realizações com especialistas europeus.
Ponho aqui esta nota de apreço e reverência por seus excepcionais valores e vitórias, desejando-lhe muito mais anos de fecunda e digna existência que agora é alvo de merecidas honras, a que me associo e aplaudo.”


                                     APÊNDICE VII


APÊNDICE VIII
DEPOIMENTO DE JOSÉ AUGUSTO BERBET DE CASTRO
(Extraído do jornal A TARDE, edição de 3 de novembro de 1994)
JOSÉ AUGUSTO BERBET DE CASTRO
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“O Professor José Silveira completa hoje 90 anos. Nasceu, como todos sabem, em 3 de novembro de 1904, num sobrado de Santo Amaro, filho de um ilustre agrônomo, que era diretor da Escola de Agronomia de São Francisco do Conde. Hoje, 90 anos depois, aquele menino é o maior baiano vivo. Sua vida começou difícil, perdeu o pai muito cedo, perdeu a jovem mãe e, alguns anos depois, sua única irmã. Foi criado pela avó dedicada, a quem devota o maior carinho e respeito e pelo tio e tias. Melhor aluno, desde o curso infantil, veio paira Salvador estudar Medicina, contando apenas com sua fibra e determinação. Não vou repetir sua biografia, muito conhecida de todos.
O que ele conseguiu realizar é quase fantástico. Tudo em que se meteu levou adiante e se transformou em modelo. Sua maior obra é, fora de dúvida, o IBIT (Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose), que se transformou, no gênero, no maior centro científico do Brasil, da América Latina, no estudo e combate da terrível doença. O IBIT é o órgão científico mais respeitado no exterior, principalmente na Europa, pela seriedade dos trabalhos, pelas pesquisas, pelo conceito do seu fundador.
Silveira recebeu as maiores condecorações e prêmios médicos, tornou-se um nome internacional, sem ter ocupado cargos públicos ou gozado da intimidade de poderosos. Em sua vida teve apenas um curto período como diretor da Saúde Pública na Bahia, no glorioso governo de Octávio Mangabeira, quando ajudou o governador a derrotar a tuberculose, então a doença que mais matava em nosso estado. Ficou pouco tempo, saiu meio desiludido, não encontrou quem quisesse realmente trabalhar, e não podia obrigá-los a tanto. Mangabeira lamentou, mas compreendeu sua atitude.
O que eu quero chamar a atenção, nessa pequena homenagem a ele, é que tudo que José Silveira fez foi triunfo. Ainda estudante, criou a Semana do Doutorando, que existiu por muitos e muitos anos, eu ainda a alcancei em 1949. Formado, criou o Núcleo de 27, para congregar sua turma de grandes mestres, destacando-se Hosannah de Oliveira, Alício Peltier de Queiroz (ambos vivos), Carlos Morais, Jorge Valente, Luís Rogério, para só falar nos professores da sua faculdade.
Foi quem fundou a Associação Bahiana de Medicina: antes existia uma porção de entidades médicas, uma para cada especialidade. Silveira conseguiu reunir todas numa só, trabalho quase inacreditável naquela época em que se dizia que “médicos e relógios nunca estão de acordo entre si”. Foi aperfeiçoar-se na Alemanha e, na volta, fundou o IBIT, maior orgulho científico da Bahia, que dispensa maiores comentários.Construiu o Hospital Santo amaro, hoje sede da Fundação José Silveira.
Teve a sorte de ter como esposa uma senhora tão capaz como ele, D. Ivone, que se dedicou às obras sociais do IBIT, realizando trabalho meritório de que sou testemunha.
Não foi só na área médica que ele se destacou. Poucos sabem, por exemplo, que Silveira fundou o Clube de Xadrez da Bahia, que existe até hoje, fundou a Associação dos Amigos de Salvador, foi um rotariano perfeito e responsável por muitas campanhas de sucesso. Foi quem criou a Campanha Contra o Fumo na Bahia, hoje com muitos pais. Foi também quem primeiro trabalhou pela recuperação da Faculdade de Medicina do Terreiro, e defendo que, quando estiver recuperada, tem de ser colocado o busto dele, em reconhecimento. Entrando para a Academia de Leras da Bahia, tornou-se um memorialista de primeira classe, escrevendo dezenas de livros que ficarão para sempre em nossa literatura. Fez parte, agora emérito,da Academia de Medicina da Bahia, onde foi o maior nome.
Em gesto único, doou o sobrado onde nasceu, reformado com ajuda do então governador João Durval, sendo nele instalado o NICSA (Núcleo de Incentivo à Cultura de Santo Amaro), a Casa de José Silveira, a melhor casa de cultura da Bahia. Doou quase todos os seus objetos pessoais,e, de D. Ivone, alguns valiosíssimos. E, no seu testamento, deixa quase tudo que ainda tem em seu nome para o IBIT e até para a Academia de Letras da Bahia criar um prêmio anual para o melhor trabalho literário sobre o Recôncavo baiano.
Na certa não falei na maioria de suas realizações. As que citei, porém, bastam para comprovar que ele é o maior baiano vivo. Sua passagem pela Faculdade de Medicina, como titular de Tisiologia, foi um marco. Espero estar vivo quando ele completar seu centenário.”

DEPOIMENTO DE ÉDIO SOUZA
(Extraído do jornal A TARDE, edição de 29 de abril de 1994)

ÉDIO SOUZA
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“Santo Amaro, pleno de júbilo, lá para o fim do ano (3 de novembro), assistirá as festividades com que toda a Bahia culta, inteligente e generosa, num pleito justo e carinhoso, celebrará o transcurso do nonagésimo aniversário natalício daquele que é, sem sombra de dúvida, o maior dos seus filhos vivos, o que certamente não impede de ao mesmo tempo poder ser lembrado como um dos mais brilhantes baianos  entre os brasileiros mais ilustres deste século – José Silveira.
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Não é possível se tracejar  num artigo como este o perfil de uma personalidade tão complexa como a desse emérito homem de ciência que, imortalizado pela Academia de Letras da Bahia na qualidade de um expoente de valor, a partir desse instante passa a desenvolver uma atividade literária intensa, surpreendente e admirável.
Desse modo, o pneumologista famoso transforma-se em literato fecundo; o devoto e percuciente  doutor em medicina revela, em boa hora, a sua entranhada vocação de beletrista. E as letras baianas ganham um senhor memorialista; e ele passa a publicar um atrás do outro mais de uma dezena de livros apreciáveis.
Melhor do que tentar falar aqui sobre essa admirável figura humana, e acabar por dizer pouco ou quase nada, seria, convenhamos, ouvi-lo outra vez, por exemplo, rememorando as suas palavras conceituosas publicadas neste jornal no dia 15 de novembro de 1986, um sábado, data por sinal de eleição para a Constituinte. (Daqui até novembro tempo suficiente para se apreciar vários aspectos do gênio polifacetado deste homem extraordinário, que certamente deverão ser ventilados por quem  bem e adequadamente possa vir fazê-lo). Sim, um colunista entrevista o nosso Silveira e o inquire sobre a Constituinte, restringindo três itens à sua sugestão. O velho “Cavaleiro Andante’ (ele às vezes se tem comparado ao herói manchego, talvez o maior personagem da ficção universal) então investe alçando o gládio do seu sublimado idealismo:
“1- Valorização da pesquisa científica, no mais amplo sentido, criando, estimulando, desenvolvendo as verdadeiras vocações, atendendo aos mais puros ideais,dos que, abandonando os interesses mesquinhos da fortuna, noite e dia obstinadamente se devotam à busca da verdade, dando-lhes  não somente salários justos, senão, também, reconhecendo seu valor moral, social e sobretudo econômico; e pondo à sua disposição facilidades de informação, intercâmbio universal, aparelhagem adequada e necessária, ambiente sadio, pessoal auxiliar competente e, sobretudo, liberdade de ação e pensamento. Só assim, poderia o Brasil, milionário de possibilidades econômicas e culturais, sair da situação humilhante de subdesenvolvimento em que se encontra, condenado pelo domínio injusto das chamadas superpotências.
2-  Amparo físico, intelectual e moral à criança, sem preconceitos de raça, condição social ou poder econômico. Educação ampla, completa, integral, não só com o propósito de ensinar a ler e escrever mas também com a preocupação de formar o seu caráter preparando-a para os embates da vida.
3- Garantia de assistência médica humana e eficiente, levando-se em conta que a saúde é o bem maior da vida. Não mais se perdoando que apertos financeiros de déficits orçamentários justifiquem a prática de  uma medicina de primeira para os ricos e de terceira ou quinta classe para os pobres e desamparados. Luta, sem tréguas, contra a exploração dos médicos por clínicas pouco escrupulosas, hospitais gananciosos ou institutos que têm dinheiro para tudo, menos para atender aos compromissos sagrados da sua inteira responsabilidade: Combate intenso ao uso e abuso de drogas alucinógenas, do álcool e do fumo, os inimigos maiores do século”.
Esta foi e certamente ainda é parte da sua visão humanística dos óbices sociais que até agora perduram, mas, se superados, poderão mudar a situação do nosso povo profundamente iníqua em todos os aspectos, para outra mais compatível com a condição humana, mais equânime, menos dolorosa, mais harmoniosa e solidária com os princípios  e objetivos democráticos, onde, ao menos, não possa subsistir a fome, nem prevalecer o desespero.
Aninhando esses sentimentos pela sua longa vida fora, o seu coração e o seu espírito não envelheceram, apesar das fadigas experimentadas numa existência inteira de lutas, sem quietação, nem descanso; e não foi por outra razão que o grande Manoel de Abreu referindo-se ao seu idealismo escreveu: “Você, Silveira, é o homem novo do Brasil”.
É-nos agradável e oportuno finalizar estas breves considerações face à perspectiva afortunada de vê-lo atingir a gloriosa marca dos noventa janeiros, com aquelas mesmas palavras com que o saudoso amigo e poeta Nestor de Oliveira encerrou belo artigo e um dos nossos efêmeros periódicos saudando-o logo após o lançamento do seu livro “A Sombra de uma Sigla”:
“Em verdade há por ai muito jovem sem esse teor de sensibilidade, sem a vitalidade de sua alma, feita, Silveira, para siderar-se às grandes causas e, impavidamente, construir pensando tão só em seus semelhantes, o seu empolgante destino”

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