terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

204 (III)- JOSÉ SILVEIRA

204 (III)- JOSÉ SILVEIRA
(Extraído de  Nunes da Silva, Maria Elisa LemosJOSÉ SILVERIA E SUAS MEMÓRIAS)
JOSÉ SILVEIRA
*
Nasceu em 3 de novembro de 1904, em Santo Amaro da Purificação, sendo seus pais o engenheiro agrônomo João Silveira e Maria
Blandina Loureiro Silveira.
Com a morte da mãe, passou a residir em Feira de Santana e, pouco depois, em Santo Amaro da Purificação.
Em Santo Amaro fez os cursos primário e secundário e em Salvador realizou os  preparatórios.
Em 1922 ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual foi laureado em 1927.
Um ano após a conclusão do curso médico, defendeu tese de doutoramento, intitulada “Radiografia da descendente”. No mesmo ano, ingressou no corpo docente da Faculdade de Medicina da Bahia, na qualidade de assistente do Prof. Prado Valadares.
A tese de doutoramento repercutiu nos meios científicos, motivo pelo qual foi convidado, em 1930, para realizar estudos complementares na Alemanha e  Suíça.
Na Europa especializou-se em radiologia e tisiologia.
De regresso ao Brasil, tornou-se um tisiologista famoso e desfraldou a bandeira da luta contra a tuberculose.
Em 1936, voltou à Alemanha, a convite do Instituto Ludolf Brauer, a fim de realizar conferências.
Inspirado no Prof. Brauer, regressou para Salvador onde criou, em 21 de fevereiro de 1937, o IBIT (Instituto Brasileiro de Investigação da Tuberculose).
Ao IBIT Silveira dedicou sua vida.
Os primeiros anos do IBIT foram anos de intenso trabalho, pesquisa e publicações,  o que tornou a instituição uma entidade  conhecida em todo o país.
Em 1944, o IBIT  inaugurou  sua sede, localizada no bairro da Federação, em Salvador.
A partir de então, José Silveira passou a ser considerado um cientista de renome internacional e  pesquisador de grande conceito.
“Sem a pesquisa não há ciência; sem ciência, não há estudo; sem estudo não há ensino, nem prática confiável”, dizia ele.
Em 1950, passou, por concurso de provas e títulos, a Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. Logo em seguida, assumiu a cátedra de Tisiopneumologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e da Escola de Enfermagem da UFBa.
O IBIT foi o início de uma série de empreendimentos. O Hospital do Tórax, também criado pelo Prof. José Silveira, passou a ser chamado Hospital Santo Antônio. Outras instituições foram aglutinadas formando, a partir de 1998, a Fundação José Silveira.
A Fundação, financiada pela iniciativa privada, mantém o IBIT, o Hospital Santo Antônio, o Laboratório José Silveira, o Instituto de Reabilitação, o Centro de Saúde Ocupacional, o Núcleo de Toxicologia e outras instituições.
Apesar de seu envolvimento com a cultura européia, Silveira fazia questão de afirmar que era “visceralmente baiano”, motivo pelo qual recusou repetidos convites para trabalhar no Rio de Janeiro e na Alemanha.
Honrado por numerosas instituições nacionais e internacionais, membro de várias sociedades científicas e culturais, autor de produções científicas e literárias, renomado conferencista, José Silveira avulta como uma figura de imensa projeção na galeria dos grande médicos  brasileiros.
Faleceu em Salvador, em 03 de abril de 2002.
Seus restos mortais, e os da sua esposa, d. Ivone, repousam na igreja matriz de Santo Amaro da Purificação.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1.       Benício dos Santos, Itazil –Itinerário de ideais e Compromissos. Salvador, 1987.
2.       Boaventura, Edivaldo Machado – José Silveira. Jornal A TARDE, edição de sábado, 27 de novembro de 2004. Salvador, BA.
3.       Fiocruz, Memória da Tuberculose. Disponível em http://fiocruz.br/coc/
Catalogo-tuberculose/Silveira.html. Acesso em 5 de novembro de 2009.
4.     Fundação José Silveira- Nosso Fundador. Disponível em http://www.fjs.org.br/int_silveira 01.html. Acesso em 5 de novembro de 2009.

APÊNDICE IX
DEPOIMENTO DE ITAZIL BENÍCIO DOS SANTOS
(Extraído do jornal A TARDE, edição de 5 de novembro de 1994)
ITAZIL BENÍCIO DOS SANTOS
*
“A passagem dos 90 anos do professor José Silveira não só enseja aos que têm o privilégio de sua convivência um olhar de relance sobre sua atuação , toda ela brilhante, como os induz ao registro desse testemunho.O convívio é o âmago da crônica, daí o meu testemunho, por cerca de 50 anos, de sua atuação legitimar estas notas. Atuação singular, a do prof. Silveira, dentre os que marcaram época na medicina, que exerceu ativamente entre nós, por cerca de 60 anos em diferentes áreas – na clínica, no ensino, na saúde pública, na investigação científica, nas obras de grande alcance social que tem realizado.
Discípulo do prof. Prado Valadares, desde estudante  na Faculdade de Medicina, dele recebeu grande e constante influência. Ao lado do mestre, iniciou a carreira profissional, como interno da “Clínica Propedêutica Médica” e, a seguir, assistente efetivo, depois de diplomado em 1927. Havendo o prof. Alfredo Brito adquirido na Europa, para a “Clínica Propedêutica Médica” um equipamento de Raios X, ainda em 1896, meses após o descobrimento de Roentgen, não tardou que a radiologia  atraísse o recém-formado. Dedica-se à radiologia, defendendo tese de doutoramento sobre “Radiologia da Descendente”: em 1919 é contratado como chefe do  Serviço de Radiologia da Faculdade, e em 1930 viaja à Europa para freqüentar Serviços de Radiologia na França, Bélgica, Suíça e Alemanha.
Mas é ainda nessa viagem que inicia o aprendizado da especialidade que nascia – a tisiologia, a que ligaria toda a sua vida. Retorna, em 1936, à Europa, para estagiar em Serviços de Tuberculose, na Suíça e na Alemanha. De regresso à Bahia, concretiza o que germinava dentro de si, como o seu anseio mais caro – funda, a 21 de fevereiro de 1937, o Instituto Brasileiro de Investigação da Tuberculose.
A fundação do Instituto Brasileiro para a Investigação da Tuberculose, o IBIT, foi um marco plantado na vida da Bahia e na vida de José Silveira. A partir daí, iria viver em função da idéia prodigiosa do seu Instituto, da criação no meio médico da Bahia de então, de uma entidade de pesquisa e ensino, no âmbito da tuberculose e da medicina. Por essa época doutorando era eu, vivendo, então,os dias mais ditosos de um acadêmico de medicina, cabeça cheia de indefinições, teórico e sonhador, sem saber, ao certo, o que iria fazer depois de formado. Por essa época, conheci o professor Silveira – ele próprio uma idéia em marcha. Inquieto, inconformado, era ele, em si, permanente atitude de desaprovação ao favoritismo, e de protesto contra as premiações imerecidas, habituais em nosso meio de então, mas que contrapunham ao seu desenvolvimento. Essa pregação constante, provinda de um homem idealista e de caráter ilibado, encontrava ressonância no seio dos jovens reunidos em torno dele, que não pertencendo à casta influente, destra não usufruíam as oportunidades que lhe sobravam.
Naquele distante 1939 não fui ao encontro do tisiologista, mas do radiologista que também era o Dr. Silveira, exercendo, então, a chefia do Serviço de Radiologia da Faculdade, instalado no subsolo do Ambulatório Augusto Viana. Ali funcionava o IBIT, àquele diretamente ligado, razão pela qual terminei a ele me incorporando, embora não pretendesse especializar-me em tuberculose.
O IBIT, na sua concepção, abrangia numerosas faces a serem encaradas. O diagnóstico, o tratamento, a profilaxia da tuberculose e os obscuros aspectos desses problemas a serem investigados  constituíam sério desafio à instituição nascente. Na medida em que se formava seu corpo clínico, construía o Instituto sua sede, graças ao trabalho obstinado do seu criador e seu prestígio no seio da sociedade. Na sede, de pequenas proporções, à época, foram previstas condições técnicas indispensáveis ao que se propunha. Não tardaria, entretanto, a qualidade do trabalho ali realizado a exigir a contratação de especialistas estrangeiros e da ida de médicos do seu corpo clínico para outros países em busca de melhor adestramento. Sem demora impunha-se a ampliação da sede do IBIT, para aumentar a sua prestação de serviços, o que o professor Silveira concretizou em cerca de um ano.
O tempo, em seu curso, envolve, revolve, evolve, remove obstáculos,    senhor de tudo, traz, de passagem, soluções. Não fugiria à ação do tempo a evolução da terapêutica da tuberculose, em cerca de 50 anos. Métodos de tratamento que estiveram em voga, como o clima, a alimentação e o repouso passariam por ineficiência absoluta: a colapsoterapia, isto é, o pneumotórax artificial, complementado por intervenções cirúrgicas, embora trazendo a esperança de curas reais, passaria, cederia lugar às drogas específicas sucessivamente desenvolvidas em laboratórios internacionais. O advento da quimioterapia e da estreptomicina, em 1944 e, a partir daí, das drogas subseqüentes, com os diferentes esquemas de tratamento, levou à meta perseguida – negativação do escarro do paciente e desaparecimento das lesões identificadas à radiologia. Não deixaria de ocorrer a simplificação do procedimento diagnóstico e terapêutico – o achado do bacilo no escarro e a aplicação das drogas dentro do esquema indicado. Era a perspectiva do fim da tuberculose, mas era, também, o ocaso de uma especialidade, e de todo o arsenal, cirúrgico inclusive, que envolvia – a prescrição das drogas e o acompanhamento do paciente, até a cura, podiam ser feitos pelo clínico. Não tardaria essa realidade  a refletir-se nos índices epidemiológicos da tuberculose que caiam sensivelmente. A perspectiva de erradicação da tuberculose torna-se meta atingível, alcançada, infelizmente não atingida, pela influência de fatores socioeconômicos, em países subdesenvolvidos. Vencida estava a tuberculose, dispunha-se dos meios para vencê-la.
Todavia, vencida a tuberculose, afloravam outros aspectos da patologia pulmonar, doenças de natureza não tuberculosa, verdadeiro desafio, ontem e hoje. Novos rumos impuseram-se a especialistas e instituições especializadas, ao IBIT inclusive, que se achavam empenhados no combate exclusivo à tuberculose.
Em meio a essa luta, o professor Silveira não esqueceu a parte propriamente pessoal, no âmbito profissional, científico e social. Foi professor de tisiologia, através de concursos para  a Docência Livre, no Rio de Janeiro, e para a cátedra na Universidade Federal da Bahia; participou, praticamente, de todos os congressos da especialidade,no Brasil e no estrangeiro; organizou e dirigiu outros tantos certames científicos, de âmbito nacional inclusive; proferiu inúmeras lições e conferências, aqui e fora daqui, presidiu instituições como a Associação Bahiana de Medicina e a Academia de Medicina da Bahia. É membro titular da Academia de Letras da Bahia e professor emérito da UFBa. Dotado de sensibilidade, interessou-se pela preservação e desenvolvimento artístico e cultural da Bahia, como o demonstra sua atuação na Sociedade Amigos da Cidade do Salvador e na Sociedade de Cultura Artística da Bahia. Recebeu prêmios e condecorações, no Brasil e no estrangeiro. E, como quem sabe fazer o tempo e domá-lo, deu vazão à sua tendência inata de escritor, publicando  vários livros, o último deles ainda esta semana, na linha memorialista sobretudo.
São múltiplas, além do apostolado da medicina por ele exercido, as faces do homem e da obra. Uma refletindo a outra, vida e obra completas, inspirada no ideal que a motivou, a impulsionou, cedo antevista e amparada pela alma sensível da Bahia.”

APÊNDICE X
DEPOIMENTO DE MARIA TEREZA DE MEDEIROS PACHECO
Extraído De ARQUIVOS DA FUNDAÇÃO JOSÉ SILVEIRA, Edição Especial/1995.Vol. 1- Salvador, Bahia, Brasil.
MARIA THERESA DE MEDEIROS PACHECO
*
“Ontem – uma vela acesa
Hoje- todas as luzes das madrugadas, todas as claridades dos dias ensolarados, todos os rubores dos poentes de verão, toda a luminosidade das noites enluaradas ou cheias de estrelas.
Se é possível traduzir, aí está, distanciando-se, ainda que muito, da realidade – o que significa o homem: José Silveira.
A história de sua vida em:
- Santo amaro da Purificação
- São Bento das Lajes
- Feira de Santana
- Novamente em Santo Amaro
- No Ginásio da Bahia
- Calouro de Medicina
- Calouro de Hospital
- Doutorando
- Repúblicas e Pensões
- Formatura
- Tese de doutoramento- com a láurea do Prêmio Alfredo Brito.

Nestes curtos noventa anos, sim, meus senhores, observava meu Mestre Estácio de Lima quão diminuta é a vida humana.A tartaruga, réptil da ordem dos quelônios,tem vida em torno de meio milênio ou mais,enquanto o homem, com os poderes inenarráveis da inteligência, capaz que é para tantos feitos tem vida muito efêmera. Imaginem o Prof. Silveira com mais noventa garantidos, triplicaria as medalhas mundiais de que é detentor, medalhas de ouro, prata, Ordem do Infante D. Henrique-Portugal, todas as honrarias brasileiras e mais tudo aquilo que conseguiu fazer e compõe o seu curriculum vitae  em livro de aproximadamente mil páginas; é a história de sua vida que a Bahia Médica, a Bahia das letras, a Bahia das artes,a Bahia e o seu povo culto,mas, também os pobres desamparados, seus clientes do IBIT, todos os conhecem...
É a bendita solidariedade aos mais fracos que norteou a alma e a paixão de José Silveira na luta pela vida.
Os povos se desunem, as nações se despedaçam nas lutas mais acerbas, nas pelejas mais cruéis quando se afrouxam os laços da solidariedade humana... Silveira amparou a comunidade pobre da Bahia, com os recursos que arrancou do nada, pode-se dizer, porque a ciência descobre, o trabalho aperfeiçoa e o sentimento da beleza em servir gera a divina inspiração...
Atenho-me a exaltar a figura do mestre – Professor de nossa gloriosa Faculdade. Mais uma vez, em sua vida, a luta para ali chegar.
Confessa-nos o Mestre q        ue  teria sido o grande Professor Couto Maia quem despertara em seu espírito a idéia de vir a ser Professor na Faculdade de Medicina.
Realmente, é de todos sabido que o eminente Professor do Hospital de Monte Serrate escolhia da lista de acadêmicos de Medicina aqueles de melhores notas, nos quais pressentia de maior talento e seguras possibilidades de triunfo, para Interno, ainda  acadêmico, do Hospital da ponte de Itapagipe.
Manteve, então, o nosso homenageado de hoje, o vislumbre de vir, um dia a ser Catedrático de sua Escola do Terreiro de Jesus.
O ensino da clínica tisiológica quase não existia, em nosso meio.
Coube a Mazzine Bueno  o pioneirismo no Brasil, especificamente em Niterói, do ensino da Tisiologia em curso e cátedra orientadas na matéria. Também na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro eram ministradas aulas da especialidade.
Na Bahia, década de 30, na graduação de então, escassos eram os ensinamentos sobre o assunto.
O gérmen de Koch quase desconhecido pelo alunado; Prof. Ignácio de Menezes, nos começos do ano de 1932, acudiu para a necessidade de transmissão de conhecimentos dos alunos do quinto ano médico sobre Tisiologia, introduzindo, inclusive, informações atualizadas sobre a cirurgia da enfermidade em seu curso de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental. Convidou, então, o Prof. Silveira para ministrar a disciplina. Por mais de 10 anos ininterruptos, ali compareceu, com a freqüência própria de quem sempre se considerou escravo das horas: se o relógio marca 10 horas, significa o ponteiro menor nesse número e o grande em meio dia; nem mais, nem menos, segundo revela o homenageado; distinto disso é a impontualidade. Depois disso, outros professores o convidaram a dar lições de Tisiologia em suas cátedras.
Em 1937, César de Araújo e José Silveira inauguraram os primeiros cursos de especialização, autorizados pelo Conselho Técnico da Faculdade de Medicina, englobando todos os aspectos da Tuberculose.
Até que em 1938,após lutas pertinazes, o Ministro da Educação e Saúde , a frente o grande baiano Clemente Mariani e a decisão de Odilon Soares, conseguiram levantar a bandeira da Tisiologia, criando a Cátedra a ela destinada em todas as Faculdades oficiais.
Então livre docente pela Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, em concurso brilhante que lhe valeu o convite formulado para concorrer à Cátedra da especialidade naquela Escola de Medicina e Cirurgia. Não aceitou, porque o seu ideal era ensinar e servir na Bahia.
Inscreveu-se o Prof. José Silveira à Cátedra recém criada, candidato único. Apresentou-se às provas do concurso aludido recebendo da Banca Examinadora de Professores de fora e da própria Bahia a aprovação unânime, com distinção. Mas a nomeação não se fez.

“Razões burocráticas, refere, escondendo forças ocultas que logo depois se tornaram muito claras a isso se opunham; o impasse se desfez quando o Dr. Simões Filho, assumindo o cargo de ministro da Educação e Saúde, resolveu sancionar sua nomeação”

Eis o professor, de fato, de direito, por  vocação, ação e empreendimento. A luta para conseguir edificar o prédio da Clínica Tisiológica foi insana onde chegou a ter 100 leitos em benefício do povo pobre da Bahia, destinado a pesquisa e ao ensino, com todas as exigências naturais do espírito lúcido, obstinado, correto e sábio de Mestre Silveira, conseguindo a duras penas, graças a um grupo de verdadeiros amigos, baianos  na maioria, por conhecerem o trabalho próprio e tenaz do menino de Santo Amaro.
Saindo da Bahia, a conselho de seu inesquecido Prof. Valadares, em busca da Alemanha singular, para melhor especializar-se naquilo que elegeu dentro da Medicina, a radiologia, levou consigo um exemplar de sua tese que versava sobre “Radiologia da descendente” e, em Berlim, encetou seus primeiros estudos na clínica do notável Prof. Finck que se encontrava, em férias, à oportunidade; mas, a clínica em pleno funcionamento.
Falando de sua técnica radiológica e seus resultados promissores foi convidado a apresentá-la em reunião da Sociedade Alemã de Radiologia. Confessa, hoje, seu grande nervosismo, ao comparecer a programada sessão científica. Qual não foi sua surpresa quando se viu aclamado, ao final.
Um professor daqueles que compunham a mesa, dele desconhecido, com sua barba e bigode bastante encanecidos, pediu a palavra e parabenizou o jovem médico numa homenagem que se estendia a seu pai, assim se expressando: “Li, há algum tempo, sobre essa interessante e nova exposição da aorta descendente, trabalho de um brasileiro que vem a ser, certamente seu genitor, porque o nome é quase o mesmo”, ao que o Prof. Silveira lhe respondeu que seu pai era engenheiro agrônomo e não médico, e que a observação e técnica eram próprias, então com 26 anos! Maior admiração e surpresa ficou o homenageado de hoje, quando o Prof. Finck, recém-chegado de suas férias, levantou-se e veio beijar-lhe a testa!

O homem tem o direito e o dever de resolver o problema do próprio destino, Mestre Silveira.
E repetindo Miguel Ângelo: Só o trabalho e a exaltação de crer é que conferem à existência: por si mesma  ela não tem valor”

Grande era o seu interesse pelo Magistério, tanto assim que convidado para a direção da Saúde Pública Estadual, no governo do seu amigo Dr. Otávio Mangabeira, ali permaneceu por pouco tempo preocupado em preparar-se para o curso que sofregamente aguardava.
Também declinou do honroso convite do Exmo. Sr. Ministro da Educação de então, Dr. Simões Filho, para dirigir o Departamento Nacional de Saúde, por se achar envolvido e  responsável  pela organização da Cátedra recém-nascida.

“Um soldado, dirão. Os belos sonhos, porém, sapo úteis, quando há quem os saiba realizar”

Olhos voltados para o ensino da Tisiologia, para isso, aguardou vinte anos, “a criação da referida cátedra, tendo de vencer, com ânimo sereno e vontade firme, as tormentas e as borrascas, conforme refere, chegando, afinal, à meta entresonhada”.
À sua posse  na qualidade de Catedrático em Tisiologia da Faculdade de Medicina  da Bahia compareceram eminentes colegas e amigos da Bahia, do Brasil e do exterior, conferindo brilhantismo invulgar àquela solenidade em formosa lição de verdadeiro espírito universitário. Dentre eles, faço aqui menção, à presença da Profa  Graciela Beretervide  - o ínclito Prof. De Tisiologia – Prof. Dr. Ronaldo Eyherabide, personalidade invulgar que clinicou até os 91 anos de idade, na Argentina.
Foi saudado, à oportunidade, pelo Prof. Nicolas Romano, também de Buenos Aires que, ao lado de Eduardo Astarlôa, trouxeram-lhe os augúrios auspiciosos dos médicos argentinos como se fora, afirmava, os loiros de Silveira uma vitória da americanidade, irmanados na comum expectativa, de receberem, em breve, novos benefícios de seu saber e de seu ensinamento.
Continuou a luta para iniciar com firmeza o ensino oficial – da Tisiologia. De  1976 a 1994, a cada ano, cursos eram ministrados aos acadêmicos de Medicina, graduandos e post-graduandos, por Professores, Técnicos e Pesquisadores do mundo inteiro conforme podemos observar em documentação minuciosa apresentada em “A sombra de uma sigla ou 40 anos do IBIT”.
Construiu-se a Clínica Tisiológica, futura sede da Disciplina, ao lado do Hospital das Clínicas, graças a vontade decidida de Clemente Mariani, então Ministro da Educação e Saúde.
Com a fundação da Escola Baiana de Medicina pelo eminente Prof. Jorge Valente e colaboradores, recorreram ao IBIT, entregando-lhe o ensino da nova disciplina, ensino que regularmente se fez até 1974, quando, por idade, oposentou-se seu titular, o Prof. José Silveira.
Nenhum instrumento de ensino entretanto, mais proveitoso, e, em caráter  permanente, deu o IBIT à Bahia do que a sua Biblioteca. Nela, os companheiros estudantes da minha época, e eu ali encontrávamos os ensinamentos e as orientações mais atualizadas nas revistas e periódicos especializados, na revelação constante do dia do trabalho científico universal. Colaboradores foram muitos: dentre estes, a Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia e, no que diz respeito às publicações alemães, sempre caras pela Deutche Forschungsge-Mein-Shaft. Em menor grau, o British Council e a Aliança Francesa.
Mas, a vida das Instituições Científicas em nosso país tem passado por dificuldades intransponíveis que, as mais das vezes, fazem-nas perecer pela falta de apoio econômico . Assim aconteceu ao IBIT que foi levantado pela idéia de seu insigne fundador, de ali construir o Hospital Santo Amaro, inicialmente voltado para as doenças do tórax, o que daria suporte a manutenção e continuação da obra magnânima – o IBIT.
O Hospital Santo Amaro passou a padecer das mesmas dificuldades, quando surgiram novos rumos e metas de salvação, embora modificado o seu verdadeiro destino. Nasceu, assim, a Fundação José Silveira, agora sob a orientação administrativa de um homem de ação e sentimento, empresário  de reconhecido e vitorioso trabalho internacional, o Dr. Norberto Odebrecht, com o auxílio de uma plêiade de homens da mais alta estirpe cultural de nossa sociedade, com o intuito de dar continuidade a obra incomensurável do seu idealizador.
E aí estão, à nossa vista e à vista dos vindouros, o Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose, a Fundação José Silveira, realidades materiais imponentes resultantes de sua sempre presente confiança em si mesmo e nos amigos que o ampararam na caminhada, para que suas ações sejam admiradas e consigam ressonâncias na consciência das gerações futuras.
Hoje, aqui comparecemos para, uma vez mais, assistir o lançamento da obra que vem de concluir sob o título de “Uma doença esquecida – História da campanha da Tuberculose na Bahia”.

“A vida e José Silveira deixa de forma indelével a marca de seus passos ao longo de sua existência.
É que a sabedoria acumulada em nossa caminhada nos profetiza que a vida não poderá ser medida no exíguo lapso de tempo – que medeia entre o nascimento e o desaparecimento.
Entre ambos encontra-se o interstício que outorga ao ser humano a oportunidade de perenizar com carinho pessoal as marcas do nosso trânsito pela vida.
E estas só se tornarão imorredouras  quando cunhadas no metal nobre da abrangência social, tendo como destinatário a própria humanidade”
O Prof. José Silveira sempre se refere a dois grandes privilégios a ele concedidos por Deus: um deles, a fortuna de jamais ter sido obrigado a abandonar a Bahia; o outro, sublime: a dádiva suprema de ter sido acompanhado durante mais de meio século pela mulher de sua maior paixão: aquela que, sem lhe ter dado um filho sequer, tem sido, a um só tempo, a filha que desejou, as irmãs que perdeu a mãe que o destino lhe roubou; sem única deixar de ser a esposa dedicada e boa, a companheira compreensiva e tolerante, a namorada de todos os dias... É o afeto, D. Ivone.
Senhoras e Senhores: o que o Mestre Silveira edificou pertence, realmente, às futuras gerações!...
Para louvá-lo o grande poeta, filósofo e literato Prof. Ruy Simões dedicou-lhe lindos versos que são a continuação de outros que edificou e pronunciou pelo octogésimo aniversário do Prof. Silveira.
Com a licença de Carlos Drummond de Andrade e de Ruy Simões, peço permissão para ler umas “rimazinhas” talvez sem métrica ou que lá seja, porém, colhidas do coração com a simplicidade e a coragem de quem acreditou naquilo que nos disse o grande e aplaudido escritor patríci: “Olhai os lírios dos campos que eles não tecem e nem fiam...”

ASSIM, SILVEIRA 90

I
“E agora, José”?
Você nasceu
Você cresceu
Você viveu
Mas você venceu
Prof. Silveira

II
Menino de Santo Amaro
Olhando o carro de boi
Relembrando o que se foi
O estudante Zequinha
Com orgulho sempre será
O neto de D. Sinhá

III
- Na palavra de Sadock
Silveira, o homem
Silveira, o cristão
Silveira, o esposo
Silveira, o lutador
Silveira, o sábio
Silveira, o professor.

IV
Quem é Silveira?
Ele é Santo Amaro
É o seu IBIT
É o Pesquisador
É a Academia
É o escritor
Ele á a Bahia

V
Viver para a frente
Ivone ao seu lado
O casal unido
Os amigos presentes
Por toda a gente
Homenageado.

VI
Completados oitenta
Agora noventa
O futuro a Deus pertence
Permanente “vela acesa”
Pelo coração
A filha Maria Thereza”.












 

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