NINA RODRIGUES
RETRATO A ÓLEI - SALA DOS LENTES
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
PROVIDÊNCIAS PARA O TRASLADO,
EXÉQUIAS E
FUNERAL
A notícia da morte de Nina
Rodrigues chegou à Bahia através de um telegrama particular, provavelmente
emitido por algum dos amigos e colegas que o assistiram em sua agonia, expedido
de Paris às 7.50h do dia 17 de julho, para o diretor da Faculdade de Medicina
da Bahia, seu concunhado e amigo, Dr. Alfredo Tomé de Brito.
Ao tomar conhecimento de sua
morte, Alfredo Brito imediatamente telefona para a secretaria da Faculdade,
determinando a suspensão das aulas e o hasteamento da bandeira nacional a meio
mastro. Este foi o ato inicial que deflagrou a cadeia de homenagens póstumas a
Nina Rodrigues, na Bahia e no Brasil.
No início da tarde de 17 de julho,
uma comissão de alunos do 6º ano da Faculdade vai à casa de Alfredo Brito,
tratar das homenagens que seriam prestadas a Nina Rodrigues.
Na sessão da Congregação da
Faculdade realizada em 18 de julho, Pacífico Pereira, decano dos professores,
faz o elogio fúnebre de Nina Rodrigues, propõe a inserção de voto de pesar na
ata da sessão e sua imediata suspensão. Vários congregados apresentam suas
propostas de homenagens, que em resumo são as seguintes: luto da Faculdade por
oito dias, telegrama de condolências à família, nomear de Nina Rodrigues a
morgue em construção. Todas são aprovadas.
À medida que tomam conhecimento
da notícia, as principais instituições baianas homenageiam Nina Rodrigues. A
Faculdade de Direito e a Escola Politécnica suspendem as aulas, hasteiam seus pavilhões
e a bandeira nacional a meio-mastro, e adotam luto por três dias. O Conselho
Municipal, a Câmara dos Deputados e o Senado Estadual inserem votos de pesar
nas atas das respectivas sessões.
A Academia Nacional de
Medicina,no Rio de Janeiro, realiza em 24 de julho sessão solene em homenagem a
Nina Rodrigues, com a presença do
Ministro do Interior, Felix Gaspar.
O Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia encerra suas atividades e hasteia a meio-mastro a bandeira
nacional. O Colégio Estadual da Bahia suspende as aulas e convida os alunos a
comparecer às exéquias de Nina Rodrigues. O Jornal de Notícias hasteia a
bandeira nacional a meio-mastro.
Em 20 de julho, representantes de
alunos de todos os anos da Faculdade de Medicina da Bahia, presididos pelo
professor João Fróes, decidem o seguinte: solicitar ao Ministro do Interior que
as despesas com o transporte do corpo, exéquias e funeral de Nina Rodrigues
fiquem por conta do Governo Federal, considerando que ele morrera durante uma
viagem oficial, na qual representava o País (o valor das despesas seria de
aproximadamente vinte contos de réis); abrir uma subscrição para publicação da
obra Os africanos no Brasil, então no prelo; nomear uma comissão de alunos
para, junto com representantes da Faculdade de Direito e Escola Politécnica,
organizar as homenagens póstumas, inclusive a recepção do corpo; publicar
poliantéia em sua homenagem.
Porém, o ministro do Interior,
embora lamentando muito, respondeu que não podia atender a solicitação porque a
verba para “eventuais” estava esgotada; um valor daquele montante só poderia
ser liberado através de decreto com autorização do Legislativo (1).
Em 21 de julhos, alguns
maranhenses que estudam em escolas superiores baianas vão a bordo do paquete “Olinda”,
solicitar do conterrêneo, o desembargador e deputado federal Cunha Machado,
intervenção junto ao Governo Federal, para obtenção de pensão para a viúva Nina
Rodrigues. Ele aquiesce.
Em 1º de agosto, o deputado
estadual Souza Britto recebe um telegrama do Governador do Maranhão, Benedicto
Leite, declarando-se pronto para atender o pedido de veerbas para as homenagens
póstumas a Nina Rodrigues, mas dizendo que necessitava que se especificasse o
nome da pessoa que iria receber o dinheiro, porque os telegramas enviados eram
assinados pela “Comissão”.
Entretanto, seja porque o Governo
do Maranhão não estivesse realmente disposto a enviar o dinheiro, seja porque a
comissão encarregada das homenagens não remeteu os dados requeridos, o fato é
que todas as despesas com traslado, exéquias e funeral foram pagas pela
comunidade acadêmica da Bahia. Deste modo, em 13 de agosto, a comissão
encarregada das homenagens póstumas envia, com auto-suficiência irônica, este
telegrama ao Governador do Maranhão: “Terminadas as homenagens em memória ao
Dr. Nina Rodrigues, dispensamos auxílios prometidos” (2).
1)
Gazeta do
Povo, edição de 01.08.1906
2)
Jornal de Notícias, edição de 13.08.1906
3) Diário de
Notícias, edição de 11.0
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