terça-feira, 13 de novembro de 2012

GASTÃO GUIMARÃES



GASTÃO GUIMARÃES
 




Filho de pais pobres, Gastão Guimarães nasceu na cidade de Belmonte, em 1891.
Com dois anos de idade mudou-se, com sua família, para Salvador, onde fixou residência. Por ser uma criança pobre, nunca possuiu um brinquedo. Para contornar a situação, colecionava besouros e aranhas douradas e encantava-se com o original passatempo. Desde cedo, com apenas oito anos, dobrava jornais para ajudar a família.
Fez o curso primário no Colégio São José, cujo diretor era seu padrinho, João Florêncio Gomes. Naquela casa de ensino, foi colega do Monsenhor Mário Bahiense Pessoa da Silva, outro grande benfeitor de Feira de Santana.
Com pouco mais de quatorze anos, ainda de calças curtas, prestou concurso vestibular na Faculdade de Medicina da Bahia.
Formou-se em 1912, após ter a sua tese inaugural aprovada com distinção.
No ano seguinte, fixou residência em Feira de Santana e nessa cidade, terra que me adotou como se eu seu filho fosse, permaneceu até morrer de modo inesperado, em 24 de agosto de 1954.
Registrando o infausto acontecimento, o jornal  “A FOLHA DO NORTE”, de Feira de Santana, assim se pronunciou: “Médico, praticou a medicina como sacerdócio. Veio moço ainda, para Feira e aqui, já encanecido, atingiu o fim da existência tal como aqui chegara: desprendido e amigo, idealista e pobre, de si dando a todos o tudo quanto podia, para si pedindo, requerendo ou solicitando a quem quer que fosse. Professor, exerceu o magistério como apostolado. Beletrista e intelectual, foi brilhante nas múltiplas atividades do seu espírito de eleição. E, entretanto, o que nesse espírito adamantino mais refulgiu e cintilou foi a retidão das atitudes, a reserva de forças morais, a imponência de um caráter sem jaça, o senso de justiça, o amor à verdade. Um grande, preclaro e nobre cidadão”.
O “DIÁRIO DE NOTÍCIAS”, de Salvador, noticiando seu passamento, disse: “Gastão Guimarães, o médico por demais humanitário; o poeta das vlorosas, brilhantes  e saudosas páginas; o escritor das expressões corretas e compreensíveis; o político admirável, incansável e silencioso devoto de Deus; pai amigo e extremoso. Alma nobre, que jamais conheceu a violência e a injustiça. Mestre e amigo, de sadio intelecto e vontade heróica, que ao povo legou mil benefícios !!!”
Aqui deixo, para registro da posteridade, o exemplo de um cidadão perfeito, de um homem admirável, de um poeta invejado, de um mestre venerado e de um médico que foi um exemplo de bondade, de amor e caridade.
Morreu pobre. Feira de Santana, mediante subscrição pública, ofereceu à sua família uma residência própria.
 

domingo, 4 de novembro de 2012

MANOEL SALUSTINO NETO







MANOEL SALUSTINO NETO

 
Manoel Salustino Neto nasceu  no sítio Jurupaity, município de Currais Novos, Estado do Rio Grande do Norte, sendo seus pais Tomaz Salustino Gomes de Melo e Teresa Bezerra Salustino.
Sua família era numerosa, financeiramente abastarda e portadora de  elevados predicados  éticos e morais.
Aprendeu as primeiras letras com uma professora particular. Em seguida estudou no Colégio Diocesano de Santo Antônio, em Natal.
Em  1928, matriculou-se na Faculdade de Medicina de Recife onde cursou o primeiro ano do curso médico. Depois, transferiu-se para a Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual foi diplomado no ano de 1933.
Formado, iniciou a vida profissional em Penedo, Alagoas, onde permaneceu por curto período de tempo.
Especializou-se na Universidade de La Plata, na Argentina.
Regressando ao Brasil, montou consultório em Lagarto, Sergipe.
De Lagarto mudou-se para Anápolis (hoje Simão Dias) onde contraiu casamento com Ana Carmem, neta de Ana Freire de Carvalho, baronesa de Santa Rosa.
Após o casamento, atendendo pedido de seu progenitor, voltou para o Rio Grande do Norte, a fim de gerenciar a Mina Brejui, de propriedade da família paterna.
Fiel ao seu amor à medicina, regressou, depois de algum tempo, para Simão Dias onde permaneceu até o final de sua vida.
Faleceu com 82 anos de idade, no dia 27 de abril de 1989, cercado de parentes, amigos e admiradores.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A MORTE DE NINA RODRIGUES E SUAS REPERCUSSÕES (IV)



NINA RODRIGUES
 RETRATO  A ÓLEO
EXISTENTE NA SALA DOS LENTES DA FACULDADE
DE MEDICINA DA BAHIA
 
 
 
 








Autor: Marcos A.P.Ribeiro



"Às 15:30 horas de 11 de agosto, o paquete inglês “Aragon” fundeia no cais dos navios mercantes de Salvador, trazendo a bordo o corpo de Nina Rodrigues. Ato contínuo, a comissão de recepção, composta por alunos das escolas superiores de Salvador, é conduzida numa lancha e em escaleres para receber os restos mortais. Após as formalidades exigidas pela Inspetoria da Saúde dos Portos, a comissão sobre a bordo do “Aragon” e apresenta, em nome da “mocidade acadêmica da Bahia”, as condolências à viúva Nina Rodrigues e à sua filha, Alice.
O ataúde estava encerrado num volume, guardado no porão da proa. Dois volumes são entregues à comissão: um contém o esquife; o outro, coroas fúnebres. Os volumes são içados, depositados numa galeota, e rebocados por um vapor até o arsenal da Marinha. No arsenal, o esquife já fora do invólucro, é conduzido pelos membros da comissão para um coche de 1ª classe, estacionado em frente a seu portal principal.
O coche fúnebre, acompanhado por numeroso cortejo de alunos e professores das escolas de Medicina, Direito e Politécnica, com os respectivos estandartes envoltos em crepe negro, avança lentamente pelas ruas Arsenal da Marinha, Alfândega, Princesa, Santa Bárbara, Barão Homem de Mello, ladeira da Montanha e praça Castro Alves.
O cortejo fúnebre chega à igreja de São Bento às 18 horas. Professores e alunos retiram o féretro do coche e o transportam até a igreja que, como descreve o jornal da época, “apresentava um aspecto simples, mas de uma severidade expressiva” (1).
Do alto das portas principais pendem cortinas de casimira negra, presas por sanefas de veludo da mesma cor, ornadas de prata; nas portas principais há escudos com inscrições alusivas ao evento. Tribunais, galeria do coro e púlpitos também se encontram ornamentados com casimira e veludos negros. No centro da nave está o catafalco em estilo renascentista, com oito metros de altura, composto de abóboda apoiada em quatro colunatas, sobre a qual ergue-se uma cruz, construído pelos monges do mosteiro anexo. Ladeiam-no incensórios de prata, tocheiras e vasos com flores e crótons. Em frente ao catafalco destacam-se os estandartes das escolas superiores da Bahia: ao centro, o da Faculdade de Medicina; à direita, o da Escola Politécnica; à esquerda,  da Faculdade de Direito.
Quinze turmas, cada uma com quinze estudantes, revezam-se em turnos de uma hora, sem interrupções, no velamento do corpo, até o momento em que o féretro sai da igreja para o cemitério do Campo Santo. Estão presentes às exéquias: Alfredo Britto, diretor da Faculdade de Medicina e concunhado de Nina Rodrigues; Temístocles Nina Rodrigues, irmão do falecido; Antônio Almeida Couto, irmão da viúva; Braz do Amaral, Guilherme Rabello, Pacífico Pereira, Pedro da Luz Carrascosa, Josino Cotias, Bonifácio Costa, professores da Faculdade de Medicina; Alexandre Maia Bittencourt, Archimedes de Siqueira Gonçalves, professores da Escola Politécnica; Carlos Devoto, diretor do Ginásio Estadual.
Pouco antes das 9 horas de 12 de agosto, sábado, a banda do 1º Corpo de Regimento Policial, em uniforme de gala, ataca a primeira marcha fúnebre. Nesse momento a nave está repleta de pessoas: familiares, autoridades civis, militares e eclesiásticas do Estado da Bahia, populares e a imprensa.
As missas começam a ser celebradas pelas 9:30 horas, no altar-mor e nos laterais. A do altar-mor é celebrada pelo prior dos beneditinos; quatro noviços entoam cantos gregorianos. Findos os atos religiosos, uma turma de seis estudantes retira o esquife do catafalco e o deposita sobre o coche fúnebre, conduzido por três parelhas de cavalos castanhos escuros, estacionado à frente do templo.
O coche fúnebre abre o cortejo. Em seguida, vêm o estandarte da Faculdade de Medicina e o andor com a coroa desta faculdade; a coroa da família; o estandarte da Faculdade de Direito; o estandarte da Escola Politécnica, com uma coroa em forma de locomotiva, tendo nas laterais da casa de maquinista as datas de nascimento e morte de Nina Rodrigues; encera-o a banda da polícia militar.
Muitas pessoas se aglomeram ao longo das ruas por onde passa o cortejo fúnebre. A chegada ao Campo Santo acontece às 11 horas. Retirado do coche, o féretro é conduzido à capela do cemitério, por professores e alunos da Faculdade de Medicina, e pelo irmão do falecido, Temístocles Nina Rodrigues.
O corpo é encomendado, transferido até a borda da sepultura – aberta à direita da capela, num sítio alto, de onde se avista parte do bairro da Barra – e depositado num estrado de madeira forrado de preto, com franjas prateadas, a poucos metros da tribuna sobre a qual o estudante de Direito Aydano Sampaio pronuncia um discurso. A seguir, fala o professor catedrático da Faculdade de Medicina, Guilherme Rabello.
Guilherme Rabello inicia seu discurso aludindo ao Hamlet, de Shakespeare. Diz que diante do  “túmulo aberto”, os eternos problemas do ser ou não ser, que tanto perturbaram o “merencório príncipe da Dinamarca”, perdem o sentido. Toda discussão intelectual, toda contenda entre sistemas e escolas, e mesmo o mergulho do pensador no “oceano profundo e insondável que é o mundo da inteligência”, nada significam. A vida, segundo ele, só teria sentido na “intransigência destemida e austera ao serviço de um ideal”; não pudesse alguma vez o coração do homem abrir-se para o amor e a justiça, a alma sofreria da “amaríssima súplica de Leconte de Lisle” (2).
Afirma que o corpo de Nina Rodrigues foi recebido na Bahia com 0 mesmo recolhimento e orgulho com que os restos mortais do “heróico prisioneiro de Santa Helena” (Napoleão) fora recebido na França, em 1840. E que diante do corpo inânime do “preclaro colega”, discípulos, colegas, e todos que amam sua obra, terão nela o “nobre estímulo”, para, em nome da ciência, da Faculdade de Medicina e de sua memória, repetirem com  os lábios ungidos, como eco da própria voz de Nina Rodrigues, o “moto supremo” de Goethe moribundo: “Mehr Licht!”
*
Em 26 de maio de 1908, na presença do governador da Bahia, Dr. José Marcelino Souza, a morgue da Faculdade de Medicina é inaugurada e recebe o nome de Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues, em sua homenagem. Nina idealizara e projetara o Instituto, ao qual pretendia incorporar a tecnologia mais avançada de sua época. Como vimos, em seus últimos dias em Paris, doente e debilitado, o professor percorria ruas da cidade visitando possíveis fornecedores e realizava anotações sobre o funcionamento da morgue.
Embora tenha sido um cientista reconhecido nacional e internacionalmente, trabalhando em tempo integral durante toda sua vida adulta, Nina Rodrigues deixou poucos bens e a viúva em situação financeira difícil. A análise de seu testamento revela um sobrado na ladeira de São Bento, onde morava com a família, alguns móveis, entre os quais um piano alemão, e um biblioteca com cerca de mil volumes, principalmente Medicina e Literatura, adquirida pela Faculdade de Medicina por cinco contos de réis. O sobrado media 6.45m de frente; no primeiro pavimento possuía duas salas, uma de visita, uma de jantar, e dois quartos; no térreo, mais duas salas e dois quartos, cozinha e banheiro. Contava também com pequeno jardim gradeado de ferro e um sótão”
 
 
 
 
 
 
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(1)= Diário de Notícias, edição de 11.08.1906

(2)= Diário de Notícias, edição de 12.08.1906

sábado, 22 de setembro de 2012

A MORTE DE NINA RODRIGUES E SUAS REPERCUSSÕES (III)





NINA RODRIGUES
RETRATO A ÓLEI - SALA DOS LENTES
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

 



 

PROVIDÊNCIAS PARA O TRASLADO, EXÉQUIAS E
 FUNERAL

 
 
Marcos A.P. Ribeiro


A notícia da morte de Nina Rodrigues chegou à Bahia através de um telegrama particular, provavelmente emitido por algum dos amigos e colegas que o assistiram em sua agonia, expedido de Paris às 7.50h do dia 17 de julho, para o diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, seu concunhado e amigo, Dr. Alfredo Tomé de Brito.
Ao tomar conhecimento de sua morte, Alfredo Brito imediatamente telefona para a secretaria da Faculdade, determinando a suspensão das aulas e o hasteamento da bandeira nacional a meio mastro. Este foi o ato inicial que deflagrou a cadeia de homenagens póstumas a Nina Rodrigues, na Bahia e no Brasil.
No início da tarde de 17 de julho, uma comissão de alunos do 6º ano da Faculdade vai à casa de Alfredo Brito, tratar das homenagens que seriam prestadas a Nina Rodrigues.
Na sessão da Congregação da Faculdade realizada em 18 de julho, Pacífico Pereira, decano dos professores, faz o elogio fúnebre de Nina Rodrigues, propõe a inserção de voto de pesar na ata da sessão e sua imediata suspensão. Vários congregados apresentam suas propostas de homenagens, que em resumo são as seguintes: luto da Faculdade por oito dias, telegrama de condolências à família, nomear de Nina Rodrigues a morgue em construção. Todas são aprovadas.
À medida que tomam conhecimento da notícia, as principais instituições baianas homenageiam Nina Rodrigues. A Faculdade de Direito e a Escola Politécnica suspendem as aulas, hasteiam seus pavilhões e a bandeira nacional a meio-mastro, e adotam luto por três dias. O Conselho Municipal, a Câmara dos Deputados e o Senado Estadual inserem votos de pesar nas atas das respectivas sessões.
A Academia Nacional de Medicina,no Rio de Janeiro, realiza em 24 de julho sessão solene em homenagem a Nina Rodrigues, com a  presença do Ministro do Interior, Felix Gaspar.
O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia encerra suas atividades e hasteia a meio-mastro a bandeira nacional. O Colégio Estadual da Bahia suspende as aulas e convida os alunos a comparecer às exéquias de Nina Rodrigues. O Jornal de Notícias hasteia a bandeira nacional a meio-mastro.
Em 20 de julho, representantes de alunos de todos os anos da Faculdade de Medicina da Bahia, presididos pelo professor João Fróes, decidem o seguinte: solicitar ao Ministro do Interior que as despesas com o transporte do corpo, exéquias e funeral de Nina Rodrigues fiquem por conta do Governo Federal, considerando que ele morrera durante uma viagem oficial, na qual representava o País (o valor das despesas seria de aproximadamente vinte contos de réis); abrir uma subscrição para publicação da obra Os africanos no Brasil, então no prelo; nomear uma comissão de alunos para, junto com representantes da Faculdade de Direito e Escola Politécnica, organizar as homenagens póstumas, inclusive a recepção do corpo; publicar poliantéia em sua homenagem.
Porém, o ministro do Interior, embora lamentando muito, respondeu que não podia atender a solicitação porque a verba para “eventuais” estava esgotada; um valor daquele montante só poderia ser liberado através de decreto com autorização do Legislativo (1).
Em 21 de julhos, alguns maranhenses que estudam em escolas superiores baianas vão a bordo do paquete “Olinda”, solicitar do conterrêneo, o desembargador e deputado federal Cunha Machado, intervenção junto ao Governo Federal, para obtenção de pensão para a viúva Nina Rodrigues. Ele aquiesce.
Em 1º de agosto, o deputado estadual Souza Britto recebe um telegrama do Governador do Maranhão, Benedicto Leite, declarando-se pronto para atender o pedido de veerbas para as homenagens póstumas a Nina Rodrigues, mas dizendo que necessitava que se especificasse o nome da pessoa que iria receber o dinheiro, porque os telegramas enviados eram assinados pela “Comissão”.
Entretanto, seja porque o Governo do Maranhão não estivesse realmente disposto a enviar o dinheiro, seja porque a comissão encarregada das homenagens não remeteu os dados requeridos, o fato é que todas as despesas com traslado, exéquias e funeral foram pagas pela comunidade acadêmica da Bahia. Deste modo, em 13 de agosto, a comissão encarregada das homenagens póstumas envia, com auto-suficiência irônica, este telegrama ao Governador do Maranhão: “Terminadas as homenagens em memória ao Dr. Nina Rodrigues, dispensamos auxílios prometidos” (2).
 
 
 
 
 
 
 
1)       Gazeta do Povo, edição de 01.08.1906
2)      Jornal de Notícias, edição de 13.08.1906
        3)     Diário de Notícias, edição de 11.0

A MORTE DE NINA RODIGUES E SUAS REPERCUSSÕES (II)






NINA RODRIGUES
RETRATO A ÓLEO, EXISTENTE NA
SALA DOS LENTES - FACULDADE DE
MEDICINA DA BAHIA







O PROCESSO DA MORTE


Em 5 de abril de 1906, Nina Rodrigues é indicado pela Congregação da Faculdade de Medicina da Bahia delegado ao IV Congresso Internacional de Assistência Pública e Privada, que se realizaria em Milão, entre os dias 23 e 27 de maio daquele ano.
Em 4 de maio ele emite seu último parecer como médico-legista, sobre “lesões contundentes seguidas de morte”. No documento, o professor registra, com letra trêmula e insegura, que seu precário estado de saúde não permitia “Fundamentar largamente a consulta pedida”, limitando-se por isso a responder estritamente aos quesitos forenses(1,2).
Nos últimos meses, Nina Rodrigues andara alquebrado; adquirira grave infecção em viagem ao Conde, no litoral norte da Bahia. Tentando recuperar-se, fez vilegiatura em Alagoinhas, aprazível cidade, 100km a noroeste de Salvador. Retorna parcialmente reabilitado à capital baiana. Então recebe o convite para representar o Brasil em Milão.
Mas, no dia do embarque para sua primeira viagem à Europa está pálido, débil, descrente de sua recuperação. Assim mesmo parte.
Nina Rodrigues, sua mulher, Maria Amélia Couto Nina Rodrigues, e a filha de doze anos, Alice Nina Rodrigues, chegam a Lisboa em 17 de maio. Hospedam-se no Hotel de Inglaterra. A longa viagem marítima provavelmente fizera recrudescer a doença. E na  própria noite do desembarque Nina Rodrigues apresenta uma crise de hemoptise. Os médicos são chamados.
A conferência dos médicos lisboetas, realizada em 19 de maio, afasta a hipótese de tuberculose pulmonar, pela transparência das radiografias pulmonares; porém, a exclusão dessa suspeita diagnóstica não pode ser assegurada: casos de tuberculose pulmonar confirmados pelo exame de escarro e sintomatologia, coexistem com a transparência radiográfica dos pulmões.
Um jornal de Lisboa, o “Correio da Europa”, assim descreve: “Compungia vê-lo! Um homem de tanto conhecimento, contando apenas 44 anos de idade tão bem aproveitada em trabalhos tão úteis e de incontestável valor, estava inteiramente perdido! Sofria de um cancro do fígado. A operação era impossível, atenta a fraqueza do enfermo (3).
Na capital portuguesa, as suspeitas diagnósticas oscilam entre “cancro do fígado” e colecistite calculosa; segundo os médicos portugueses, o caso só se resolveria com uma intervenção cirúrgica, da qual Nina Rodrigues declina.
Ele segue para Paris, centro médico mais importante, onde é conhecido entre os especialistas franceses, os quais, segundo Afrânio Peixoto, “o recebem festivamente”. Chega em 19 de junho (4).
Os colegas franceses fazem os mais desencontrados diagnósticos: dilatação do coração e da aorta, tuberculose do pericárdio, abcesso aureolar do fígado, tuberculose das serosas (pleura, pericárdio e diafragma). A doença avança.
Aproveitando breve arrefecimento dos sintomas, Nina Rodrigues visita tradicionais fornecedores da Faculdade de Medicina da Bahia, na rue de Bac, para escolha dos instrumentos que equipariam o instituto médico-legal em construção na Bahia.
Em 3 de julho, seu irmão mais próximo, o tenente Temístocles Nina Rodrigues, viaja a Paris para assiti-lo na doença.
Em 10 de julho, durante visita à morgue de Paris, onde assiste autópsias e coleta informações sobre o funcionamento do serviço, Nina Rodrigues subitamente desfalece, sendo conduzido ao hotel.
Em 13 de julho, em seu hotel, o Nouvel Hotel, rue Lafayete, 49, pelas 3 horas da madrugada, Nina Rodrigues é acometido de forte hemoptise e fica muito prostado. Diz aos amigos: “Isso é o começo do fim”(5).
Um médico português residente em Paris, cujo nome não foi identificado, acompanha seus últimos momentos, passando as noites ao seu lado. Um colega brasileiro, Dr. Eduardo Moraes, também está presente. As visitas são suspensas. E apenas os médicos ficam à volta do leito, calados.
Nina Rodrigues mantém a lucidez até o fim. Percebendo a aproximação da morte, pede um padre e se dirige à esposa: “Sei que vou morrer: cuide de nossa filha, e vá para a Bahia no dia 27, em companhia do Dr. Eduardo de Moraes e família” (6). Ele comprara passagens de volta para si e sua família num vapor inglês que partiria para o Brasil em 27 de julho.
Nina Rodrigues morre às 7 horas de 17 de julho de 1906, em seu quarto de hotel parisiense. A autópsia do corpo é realizada por Paul Brouadel (a quem Nina Rodrigues admirava), importante legista francês, diretor da Faculdade de Medicina de Paris e fundador do Instituto Médico-Legal e Psiquiátrico da mesma faculdade (7).
Práticos dos anfiteatros de anatomia da Faculdade de Medicina de Paris, que Nina Rodrigues costumava freqüentar, embalsamaram o cadáver, no fim da tarde de 17 de julho, na presença do comissário de polícia e amigos, entre os quais os colegas Eduardo Morae, Anísio Circundes de Carvalho e João Cerqueira. Após o embalsamento, o corpo é depositado num ataúde duplo de zinco e madeira, guarnecida de prata.
No início da manhã de 18 de julho, acompanhado de pequeno cortejo de carros, o ataúde é transportado em coche fúnebre para a igreja de Nossa Senhora de Lorette, onde é depositado num catafalco. Às 9 horas é celebrada a missa de encomendação do corpo, assistida por algumas famílias brasileiras e colegas da Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Piauí e Pernambuco, presentes em Paris naquela época.
Findo os atos religiosos, o esquife, coberto de coras de flores, é conduzido para um estrado de ferro, junto à porta lateral direita. Depois do lacramento do caixão pelo comissário de polícia, este descende a uma cavidade subtérrea, fechada por portas metálicas rentes ao chão, onde aguardaria o transporte para a Bahia.
(CONTINUA)
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Notas de rodapé
 
1)Lamartine Lima, “Roteiro de Nina Rodrigues”, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais?UFBa, 1980, pg.8).  Sobre Lamartine, ver MÉDICOS ILUSTRES DA BAHIA E  SERGIPE, maio de 2011.
 2)Correio da Europa. edição de 19.09.1906
 3)Correspondência da viúva Nina Rodrigues; nota manuscrita de Afrânio Peixoto.
4)Jornal de Notícias, edição de 10.08.1906.
5)Ibidem
7)Paul Brouadel, ardente republicano desde os últimos dias do II Império, participou como médico da Comuna de Paris. Professor de medicina legal na Faculdade de Medicina de Paris em 1879, reformou o ensino da disciplina. Fundou o Instituto Médico-Legal e Psiquiátrico da Universidade de Paris, que a partir de 1903/1904 formou especialistas respeitados nos meios médicos e jurídicos (Ruth Harris, Assassinato e loucura: medicina, leis e sociedade no “fin de siécle”. Rio de Janeiro, Rocco, 19920.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

 

 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A MORTE DE NINA RODIGUES E SUAS REPERCUSSÕES (I)









NINA RODRIGUES



( Autor: de Marcos A.P. Ribeiro )



Raymundo Nina Rodrigues nasceu num fazenda no município de Vargem Grande, Maranhão, em 4 de dezembro de 1862. Estudou  Medicina na Faculdade de Medicina da Bahia e Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, por onde doutorou-se em 1888, com a tese “Das amiotrofias de origem periférica”.
Após breve passagem por São Luis, estabelece-se em Salvador (1889), como médico clínico e professor da Faculdade de Medicina, e inicia uma profícuo carreira intelectual, escrevendo em dezessete anos cerca de sessenta livros e artigos sobre temas que abrangem diversas especialidades médicas, particularmente Medicina Legal, Antropologia, Direito, Psicologia e Sociologia.
Trabalhando na interseção de dois saberes, o médico e o jurídico, Nina Rodrigues constituiu e institualizou – através de procedimentos especificamente médico-legais, aceitos como cientificamente confiáveis por médicos, advogados e policiais – uma nova especialidade médica brasileira, a Medicina Legal. Utilizando a metodologia científica mais avançada de sua época, ele foi um dos pioneiros da Antropologia brasileira, pelos seus estudos sobre a religião, a genealogia, a língua e a mitologia dos negros afro-brasileiros.
Estes trabalhos, sobretudo, e sua atividade como professor e pesquisador, trouxeram-lhe notoriedade nacional e internacional. Correspondia-se com especialistas estrangeiros e foi aceito membro de várias associações científicas internacionais. Publicou em periódicos científicos europeus e norte americanos, como The Journal of American Folklore, Annales Medico-psychologiques, The American Arntiquarian, recebendo resenhas favoráveis. Foi um dos redatores dos Archivos de Psiquiatria, de Buenos Aires, e vice-presidente da Sociedade de Medicina Legal de Nova York.
Sobre a obra de Nina Rodrigues já existem estudos atuais e importantes, como o da professora Mariza Correia (“As ilusões da liberdade: a escola Nina Rodreigues & a Antropologia no Brasil”, São Paulo, USP, tese de doutoramento, 1963). Sobre sua vida poucos são os dados disponíveis: não existe uma biografia de Nina Rodrigues. O estudo biográfico mais completo é o opúsculo do Dr.Lamartine Lima (*), “Roteiro de Nina Rodrigues”, publicado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia.
Porém, este sucinto trabalho é insatisfatório: pela sua dimensão e principalmente porque deixa varas perguntas sem respostas sobre a vida do cientista. Por exemplo: quais as verdadeiras razões de sua transferência para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro? Teria sido realmente motivada por doenças? E se o foi, quais eram essas doenças? Teriam elas relação com a que o fatalizou?
O estudo de Lamartine Lima, embora meritório, pela diligenciado pesquisador, que visitou os lugares de nascimento e juventude do cientista, entrevistou familiares e compulsou extensa documentação, é basicamente descritivo e não explica nem o homem nem o intelectual Nina Rodrigues.
A grande questão a ser respondida na vida de Nina Rodrigues é como e por que um médico maranhense, trabalhando na Bahia no fim do século 19, na periferia da ciência ocidental, pôde, em menos de dois anos, erigir uma poderosa e original obra intelectual.
Além disso, Nina Rodrigues fez surgir em torno de si uma legião de admiradores intelectuais, em sua maioria médicos e juristas, muitos deles autoproclamados discípulos de uma “escola Nina Rodrigues”. Alguns pesquisadores sugerem que Nina Rodrigues não passa de um mito, cuidadosamente construído pelos seus discípulos. Se isso é verdade, resta explicar porque precisamente ele, e não outro qualquer, foi eleito para este papel.
Creio que o esclarecimento dessas questões só virá com uma biografia de Nina Rodrigues. Propondo-me a escrevê-la, encetei investigação a respeito. O material obtido até agora já permite reconstruir, com razoável precisão, as condições de sua morte e suas repercussões imediatas, inclusive o esforço da viúva para preservar e divulgar a obra do marido.
 
                                                   (CONTINUA)
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(*) AVULSO: 41 -MÉDICOS ILUSTRES DA BAHIA E DE SERGIPE – Maio, 2011
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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

ANTÕNIO CARLOS COELHO FILHO






JOÃO CARLOS COELHO FILHO
 
 
 
Gaúcho, diplomado em 1973 pela Fundação Faculdade Católica de Medicina, em Porto Alegre.
Patologista e Investigador na área de Patologia Cirúrgica Pulmonar e Mediastinal, atuando nos últimos dez anos como Coordenador Científico do Instituto Brasileiro Para Investigação da Tuberculose e Coordenador Técnico do Laboratório de Patologia da Fundação José Silveira, em Salvador, Bahia.
Residência médica na Universidade Federal da Bahia (1974 a 1976).
Especialização em Patologia Pulmonar, no Brompton Hospital, Instituto Cardiotorácico de Londres, Inglaterra.
Cursos de especialização em Provas Laboratoriais em Clínica Médica (Faculdade Católica de Medicina, Porto Alegre); Diagnóstico, Tratamento e Prognóstico de Câncer (na mesma Faculdade), Introdução à Citologia Ginecológica (Instituto de Patologia para Médicos Residentes) e Medicina de Urgência (Faculdade Católica de Medicina, Porto Alegre).
Coordenador do Laboratório de Patologia da Fundação Bahiana Para o Desenvolvimento das Ciências (Salvador, Ba), Professor Titular de Anatomia Patológica da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (Salvador, Ba – 1979-2000).
Patologista do Hospital Aristides Maltez (Salvador, Ba).
Vários artigos completos publicados em periódicos, como autor ou co-autor, sobre temas de sua especialidade.
 
Trinta e sete participação em congressos, seminários e outros eventos médico-científicos, notadamente nas áreas de Patologia Geral, Mastologia, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Clínica Médica, Citologia, Oncologia, Histologia, Pneumologia e Tisiologia
 
 
 


domingo, 16 de setembro de 2012

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sábado, 15 de setembro de 2012

Médicos Ilustres da Bahia e de Sergipe: SÍLVIO MARTINS FONTES

Médicos Ilustres da Bahia e de Sergipe: SÍLVIO MARTINS FONTES: SÃO CRISTÓVÃO, ANTIGA CAPITAL DE SERGIPE http://www.google.com.br/search?num=10hl         Nasceu em São Cristóvão, a...

SÍLVIO MARTINS FONTES







SÃO CRISTÓVÃO, ANTIGA CAPITAL DE SERGIPE
 
 
 
 
Nasceu em São Cristóvão, antiga capital de Sergipe, no dia 11 de fevereiro de 1858, sendo seus pais José Martins Fontes e Francisca Fontes.
Diplomou-se em medicina pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1881.
Estabeleceu-se na cidade de Santos, São Paulo, onde foi um dos clínicos mais conceituados da província.
Fundou o Centro Socialista de Santos, o jornal "A Questão Social", tornando-se, em pouco tempo, um grande divulgador do pensamento marxista em nosso país.
Publicou artigos de propagação marxista em diversos jornais.
É autor do "Manifesto Socialista", de grande repercussão em todo o país.
Homem de grande inteligência e erudiçãi, gozou de notável prestígio na cidade santista.
Faleceu em 27 de junho de 1828, em Santos.
 
 
FONTE BIBLIOGRÁFICA:
Samarone de Santana, Antônio - Os médicos e a luta republicana em Sergipe. Aracaju, 2004.
Homem de grande inteligência
 
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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Médicos Ilustres da Bahia e de Sergipe: SEBASTIÃO DA SILVEIRA ANDRADE

Médicos Ilustres da Bahia e de Sergipe: SEBASTIÃO DA SILVEIRA ANDRADE: SÃO SEBASTIÃO   https://www.google.com.br/search?num=10&hl=pt-BR&site=imghp&tbm=isch&source=hp&biw=1366&bih=673&q=Itabaiana&oq=Itaba...

SEBASTIÃO DA SILVEIRA ANDRADE

SÃO SEBASTIÃO
 
 
 
 
 
Nasceu em 20 de janeiro de 1859, no município de Itabaiana, Sergipe, sendo seus pais Manoel José de Andrade e Luiza Francisca da Silveira Andrade.
Realizou os preparatórios em Capela e em Aracaju (no "Parthenon Sergipano", dirigido pelo Prof. Ascendino dos Reis) concluindo-os na "Colégio São José" (na capital baiana).
Ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual foi diplomado em 23 de dezembro de 1885.
Sua tese de doutoramento versou sobre "Formas Clínicas da Uremia".
Formado, exerceu a profissão na cidade de Capela.
Em 1890, mudou-se para Maruim, onde participou ativamente da política partidária.
Foi delegado literário de Capela, delegado de higiene em Maruim e  deputado estadual, na Constituinte de Sergipe (1891).
Faleceu no dia 18 de fevereiro de 1900, em Maruim, cidade onde viveu os dez últimos anos de sua vida.
 
 
 
 
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
 
Dória, Epifânio - Efemérides Sergipanas, Volume I , 2a. edição. Aracaju, 2009.
Guaraná, Arbmindo - Dicionário Bio-bibliográfico Sergipano. Rio de Janeiro, 1927.