NINA RODRIGUES
( Autor: de Marcos A.P. Ribeiro )
Raymundo Nina Rodrigues nasceu
num fazenda no município de Vargem Grande, Maranhão, em 4 de dezembro de 1862.
Estudou Medicina na Faculdade de
Medicina da Bahia e Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, por onde
doutorou-se em 1888, com a tese “Das amiotrofias de origem periférica”.
Após breve passagem por São Luis,
estabelece-se em Salvador (1889), como médico clínico e professor da Faculdade
de Medicina, e inicia uma profícuo carreira intelectual, escrevendo em
dezessete anos cerca de sessenta livros e artigos sobre temas que abrangem
diversas especialidades médicas, particularmente Medicina Legal, Antropologia,
Direito, Psicologia e Sociologia.
Trabalhando na interseção de dois
saberes, o médico e o jurídico, Nina Rodrigues constituiu e institualizou –
através de procedimentos especificamente médico-legais, aceitos como
cientificamente confiáveis por médicos, advogados e policiais – uma nova
especialidade médica brasileira, a Medicina Legal. Utilizando a metodologia
científica mais avançada de sua época, ele foi um dos pioneiros da Antropologia
brasileira, pelos seus estudos sobre a religião, a genealogia, a língua e a mitologia
dos negros afro-brasileiros.
Estes trabalhos, sobretudo, e sua
atividade como professor e pesquisador, trouxeram-lhe notoriedade nacional e
internacional. Correspondia-se com especialistas estrangeiros e foi aceito
membro de várias associações científicas internacionais. Publicou em periódicos
científicos europeus e norte americanos, como The Journal of American Folklore,
Annales Medico-psychologiques, The American Arntiquarian, recebendo resenhas
favoráveis. Foi um dos redatores dos Archivos de Psiquiatria, de Buenos Aires,
e vice-presidente da Sociedade de Medicina Legal de Nova York.
Sobre a obra de Nina Rodrigues já
existem estudos atuais e importantes, como o da professora Mariza Correia (“As
ilusões da liberdade: a escola Nina Rodreigues & a Antropologia no Brasil”,
São Paulo, USP, tese de doutoramento, 1963). Sobre sua vida poucos são os dados
disponíveis: não existe uma biografia de Nina Rodrigues. O estudo biográfico
mais completo é o opúsculo do Dr.Lamartine Lima (*), “Roteiro de Nina Rodrigues”,
publicado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da
Bahia.
Porém, este sucinto trabalho é
insatisfatório: pela sua dimensão e principalmente porque deixa varas perguntas
sem respostas sobre a vida do cientista. Por exemplo: quais as verdadeiras
razões de sua transferência para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro? Teria
sido realmente motivada por doenças? E se o foi, quais eram essas doenças? Teriam
elas relação com a que o fatalizou?
O estudo de Lamartine Lima,
embora meritório, pela diligenciado pesquisador, que visitou os lugares de
nascimento e juventude do cientista, entrevistou familiares e compulsou extensa
documentação, é basicamente descritivo e não explica nem o homem nem o
intelectual Nina Rodrigues.
A grande questão a ser respondida
na vida de Nina Rodrigues é como e por que um médico maranhense, trabalhando na
Bahia no fim do século 19, na periferia da ciência ocidental, pôde, em menos de
dois anos, erigir uma poderosa e original obra intelectual.
Além disso, Nina Rodrigues fez
surgir em torno de si uma legião de admiradores intelectuais, em sua maioria
médicos e juristas, muitos deles autoproclamados discípulos de uma “escola Nina
Rodrigues”. Alguns pesquisadores sugerem que Nina Rodrigues não passa de um
mito, cuidadosamente construído pelos seus discípulos. Se isso é verdade, resta
explicar porque precisamente ele, e não outro qualquer, foi eleito para este
papel.
Creio que o esclarecimento dessas
questões só virá com uma biografia de Nina Rodrigues. Propondo-me a escrevê-la,
encetei investigação a respeito. O material obtido até agora já permite
reconstruir, com razoável precisão, as condições de sua morte e suas
repercussões imediatas, inclusive o esforço da viúva para preservar e divulgar
a obra do marido.
(CONTINUA)
(*) AVULSO: 41 -MÉDICOS ILUSTRES DA BAHIA E
DE SERGIPE – Maio, 2011
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