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By Ferramentas Blog

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A MORTE DE NINA RODIGUES E SUAS REPERCUSSÕES (I)









NINA RODRIGUES



( Autor: de Marcos A.P. Ribeiro )



Raymundo Nina Rodrigues nasceu num fazenda no município de Vargem Grande, Maranhão, em 4 de dezembro de 1862. Estudou  Medicina na Faculdade de Medicina da Bahia e Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, por onde doutorou-se em 1888, com a tese “Das amiotrofias de origem periférica”.
Após breve passagem por São Luis, estabelece-se em Salvador (1889), como médico clínico e professor da Faculdade de Medicina, e inicia uma profícuo carreira intelectual, escrevendo em dezessete anos cerca de sessenta livros e artigos sobre temas que abrangem diversas especialidades médicas, particularmente Medicina Legal, Antropologia, Direito, Psicologia e Sociologia.
Trabalhando na interseção de dois saberes, o médico e o jurídico, Nina Rodrigues constituiu e institualizou – através de procedimentos especificamente médico-legais, aceitos como cientificamente confiáveis por médicos, advogados e policiais – uma nova especialidade médica brasileira, a Medicina Legal. Utilizando a metodologia científica mais avançada de sua época, ele foi um dos pioneiros da Antropologia brasileira, pelos seus estudos sobre a religião, a genealogia, a língua e a mitologia dos negros afro-brasileiros.
Estes trabalhos, sobretudo, e sua atividade como professor e pesquisador, trouxeram-lhe notoriedade nacional e internacional. Correspondia-se com especialistas estrangeiros e foi aceito membro de várias associações científicas internacionais. Publicou em periódicos científicos europeus e norte americanos, como The Journal of American Folklore, Annales Medico-psychologiques, The American Arntiquarian, recebendo resenhas favoráveis. Foi um dos redatores dos Archivos de Psiquiatria, de Buenos Aires, e vice-presidente da Sociedade de Medicina Legal de Nova York.
Sobre a obra de Nina Rodrigues já existem estudos atuais e importantes, como o da professora Mariza Correia (“As ilusões da liberdade: a escola Nina Rodreigues & a Antropologia no Brasil”, São Paulo, USP, tese de doutoramento, 1963). Sobre sua vida poucos são os dados disponíveis: não existe uma biografia de Nina Rodrigues. O estudo biográfico mais completo é o opúsculo do Dr.Lamartine Lima (*), “Roteiro de Nina Rodrigues”, publicado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia.
Porém, este sucinto trabalho é insatisfatório: pela sua dimensão e principalmente porque deixa varas perguntas sem respostas sobre a vida do cientista. Por exemplo: quais as verdadeiras razões de sua transferência para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro? Teria sido realmente motivada por doenças? E se o foi, quais eram essas doenças? Teriam elas relação com a que o fatalizou?
O estudo de Lamartine Lima, embora meritório, pela diligenciado pesquisador, que visitou os lugares de nascimento e juventude do cientista, entrevistou familiares e compulsou extensa documentação, é basicamente descritivo e não explica nem o homem nem o intelectual Nina Rodrigues.
A grande questão a ser respondida na vida de Nina Rodrigues é como e por que um médico maranhense, trabalhando na Bahia no fim do século 19, na periferia da ciência ocidental, pôde, em menos de dois anos, erigir uma poderosa e original obra intelectual.
Além disso, Nina Rodrigues fez surgir em torno de si uma legião de admiradores intelectuais, em sua maioria médicos e juristas, muitos deles autoproclamados discípulos de uma “escola Nina Rodrigues”. Alguns pesquisadores sugerem que Nina Rodrigues não passa de um mito, cuidadosamente construído pelos seus discípulos. Se isso é verdade, resta explicar porque precisamente ele, e não outro qualquer, foi eleito para este papel.
Creio que o esclarecimento dessas questões só virá com uma biografia de Nina Rodrigues. Propondo-me a escrevê-la, encetei investigação a respeito. O material obtido até agora já permite reconstruir, com razoável precisão, as condições de sua morte e suas repercussões imediatas, inclusive o esforço da viúva para preservar e divulgar a obra do marido.
 
                                                   (CONTINUA)
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(*) AVULSO: 41 -MÉDICOS ILUSTRES DA BAHIA E DE SERGIPE – Maio, 2011
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