ESTÂNCIA
(CIDADE ONDE BERILO LEITE VIVEU SUA INFÊNCIA)
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Nasceu em 16 de fevereiro de 1878, no Engenho São Félix, município de Santa Luzia (Sergipe), sendo seus pais Sizenando de Souza Vieira e Adelaide de Souza Leite.
Realizou os estudos iniciais em Estância (SE), tendo ingressado na Faculdade de Medicina da Bahia no ano de 1901.
Colou o grau de doutor em Medicina no dia 22 de dezembro de 1906, após defender tese inaugural intitulada “Da Raquistovainização”.
Iniciou a vida profissional em Estância, transferindo-se depois para Aracaju, onde, na expressão de Armindo Guaraná, destacou-se “como um dos membros mais destacados de sua classe”.
Exerceu durante muitos anos o cargo de Inspetor Sanitário dos Portos de Sergipe.
Faleceu em 1º de julho de 1952, em Aracaju, capital de Sergipe.
O jornal “Correio de Aracaju” publicou, por ocasião da sua morte, o seguinte registro:
“Desapare do seio dos vivos um grande vulto da medicina e da sociedade, o estimado clínico Dr. Berilo Vieira Leite.
Espírito calmo e caritativo, homem da Pátria, médico do povo, coração abençoado, era o Dr. Berilo portador de um conjunto de preciosidades que muito enobrece o seu passado. Muito merecidas foram as palavras do poeta Freire Ribeiro em torno do necrologio desse conterrâneo benfeitor.
O seu passado se reflete no presente e se projeta no futuro como exemplo de moral, de ação e de serenidade. Ainda forte, em plena tarde do século, aos 74 anos, foi vencido pela doença e arrebatado pela morte!
Perdeu o município de Santa Luzia um dos seus astros luminosos, como igualmente perdeu Sergipe!”
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
Correio de Aracaju, edição de 3 de julho de 1952.
Guaraná, Armindo – Dicionário Biobliográfico Sergipano. Rio de Janeiro: Editora Pongeti, 1925.
Leite, Geraldo – Reminiscências. Feira de Santana: Editora Universidade Estadual de Feira de Santana, 2007.
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HISTÓRIA DO ENGENHO SÃO FÉLIX
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Engenho São Félix, sua história e a dos seus descendentes é a primeira obra do gênero produzida por não historiadores este ano. Como é fato conhecido, a historiografia não nasceu na Universidade e mesmo depois da institucionalização da disciplina (História) a experiência de pessoas, instituições e eventos continuou a ser narrada por autodidatas. Nada contra a iniciativa. Afinal, uma tarefa tão prazerosa não deveria ser mesmo monopólio de um grupo de acadêmicos. Gozando de tal prerrogativa, a professora Ana Maria Nunes Espinheira registrou flagrantes da trajetória de duas famílias centenárias (Souza Vieira e Leite) que têm pelo menos dois aspectos em comum: viveram em torno do Engenho São Félix (Santa Luzia-SE) e constituíram os troncos ancestrais da própria autora.
O livro da Prof. Ana Espinheira é vertido em linguagem simples e cumpre apenas o objetivo de "manter vivos pessoas e fatos, pelos menos nestas páginas, já que é impossível na realidade." É, claramente, uma história-memória (afetiva, particular, fragmentária, sacralizadora, etc.). Na belíssima capa, fundem-se as imagens dos principais atores; o conjunto arquitetônico do Engenho São Félix; e os brasões das respectivas famílias (Vieira e Leite). O livro é iniciado com uma breve narrativa sobre a formação da grande propriedade que foi o Engenho São Félix e a trajetória do patriarca da família o Tenente Coronel Paulo de Souza Vieira.
Nas páginas que se seguem, a autora narra a experiência de três dezenas de familiares distribuídos por sete gerações entre 1781 e 1984. As filiações genealógicas, os casamentos, a atividade política dos descendentes dão a tônica das biografias. Mas também compõem os textos algumas informações sobre o processo de concentração das terras em torno do Engenho, a tentativa de modernização da empresa, e o desempenho de alguns descendentes nas atividades comerciais. As própria famílias serão, com certeza, as grandes beneficiadas com essa singela obra. Além de atualizarem os seus estoques de lembranças, aprenderão, com a autora, a registrar sua descendência e a dar continuidade às genealogias dos troncos “Souza Vieira” e “Leite”. Para os historiadores dos costumes, o livro da Prof.ª Ana Espinheira fornece indícios que ajudam a caracterizar melhor os códigos sociais em vigor até meados do século XX: casamentos precoces e consangüíneos, prole extensa, longevidade dos patriarcas, particularidades da educação feminina, etc.
Ao leitor comum, a autora frustra algumas expectativas. A história do Engenho, por exemplo, aparece em segundo plano, ao contrário do que anuncia o título. A riqueza do acervo fotográfico das famílias (algumas peças retratando várias gerações) sugere respeito em relação ao passado e uma forte necessidade em registrar a experiência ancestral. Imagina-se que um pouco mais de esforço junto aos depoentes fosse capaz de narrar sobre as atividades desenvolvidas pela propriedade, a representatividade econômica e política na região, o processo de apogeu e crise na produção do São Félix. Por outro lado, alguns episódios (sui generis, trágicos, é bem verdade) poderiam render muito mais à obra se fossem suficientemente explorados pela autora: os casos de amores secretos, os casos de loucura, as mortes acidentais na roda d’água do Engenho deixam no leitor uma inevitável sede de saber mais. A própria história do casal João José de Oliveira Leite (Barão do Timbó) e Joaquina Hermelina é, sozinha, merecedora de um livro. Ambos viúvos e com seis filhos cada um, casaram-se e produziram mais dois sendo que três filhos de Joaquina casaram-se com três filhos do Barão. Bom, isso é apenas desejo do leitor comum. Desejo esse que pode esbarrar na proposta da autora e nos limites estabelecidos pela família sobre que tipo de lembrança deve ou não vir a público. Todavia, ficam registradas as sugestões para a elaboração de outros trabalhos.
Um último lembrete: para quem vê na obra o culto extemporâneo à aristocracia de sangue em Sergipe, é preciso levar em conta que a historiografia não se faz apenas sob o ponto de vista dos proletários, dos religiosos, ou qualquer outro segmento social. Apesar de criticarmos tanto a chamada historiografia tradicional – "triunfante, oficial" –, pouco conhecemos do cotidiano das elites detentoras do mando em Sergipe. A experiência familiar de troncos significativos como os Rolemberg, Faro, Barreto, Franco, Leite, Menezes, permanece em reserva e vai morrendo aos poucos à cada partilha de bens, como, aliás, é o destino de toda lembrança pessoal. Mas essa, com certeza, não será a sorte da memória dos “Souza Vieira” e dos “Leite”. A família deve estar agradecida à Profª Ana Espinheira e os historiadores mais ainda, já que o seu trabalho reúne subsídios para o melhor conhecimento de uma significativa fração da sociedade sergipana.
Para citar este texto:
OLIVEIRA, Itamar Freitas de. História do Engenho São Félix. Jornal da Cidade, Aracaju, p. 6-6, 12 jul. 2000.