LIGEIRAS CONSIDERAÇÕES EM DERREDOR DA ESCOLA DE CIRURGIA DA CIDADE DA BAHIA, EM VIRTUDE DE CARÊNCIA DE FONTES PRIMÁRIAS MANUSCRITAS
(Disponível em Gaz.méd.Bahia 2008;78(2):153-154 Considerações sobre a Escola de Cirugia da Bahia 153 www.gmbahia.ufba.br)
Antonio Carlos Nogueira Britto
Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins; Salvador, BA, Brasil
JOSÉ CORREIA PICANÇO
(BARÃO DE GOIANA)
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A gloriosa história da instalação primaz dos ensinos médico e superior na Bahia e no Brasil é tracejada em curtas considerações, porquanto a infinita ampulheta do tempo não admite exposição narrada por miúdo em derredor da épica criação primaz dos ensinos médico e superior na Bahia e no Brasil, no azo da solene celebração de duas centúrias em 18 de fevereiro de 2008, desde a criação da Escola de Cirurgia da cidade da Bahia, funcionando no Hospital Real Militar, situado no Colégio que pertencera aos extintos jesuítas. Desembarcou d. João e sua corte, às 5 horas da tarde de 23 de janeiro de 1808, tendo a nau Príncipe Real, que o conduzia, aportado à Baía de Todos os Santos ao meio dia de 22 de janeiro, sendo festivamente recepcionado pelo então governador, d. João Saldanha da Gama de Mello Torres Guedes de Britto, Conde da Ponte, e peloArcebispo dom frei Joseph de Sancta Escholasticae pelo povo, que viam na chegada do príncipe à Bahia relevante meio para o progresso da opulenta Colônia. Dias depois do desembarque do Príncipe Regente D. João, o Augusto Senhor anuía à solicitação do Conselheiro Dr. Jozé Correa Picanço, Cirurgião-Mór do Reino, ao depois Barão de Goiana, que viera com d. João, de Lisboa, a respeito da ponderação da indispensável criação de uma Escola de Cirurgia na cidade da Bahia. Destarte, o Príncipe Regente ordenou, e foi firmada em 18 de fevereiro de 2008, por d. Fernando Jozé de Portugal, ao depois Marquês de Aguiar, carta a d. João Saldanha da Gama Mello Torres Guedes de Britto, 6.º Conde da Torre, então Governador e Capitão-General da Capitania da Bahia, dando conta da régia resolução de instituir nesta cidade uma Escola de Cirurgia,que seria instalada no Hospital Real Militar, em prédio que fora dos expulsos inacianos. Volvidos alguns dias desde a instalação da Escola de cirurgia pela Carta Régia de 18 de fevereiro de 1808, Jozé Correa Picanço emitiu a Carta Régia de 23 de fevereiro de 1808, nomeando os dois primeiros professores para as cadeiras de que se iram instalar.
Foram indicados os cirurgiões-mores do Hospital Real Militar, instalado nas antigas dependências dos padres jesuítas, Jozé Soares de Castro, português, para lecionar lições teóricas e práticas de Anatomia e as de Operações Cirúrgicas no Hospital Militar desta cidade; e ao cirurgião-mor Manoel Jozé Estrella, natural do Rio de Janeiro, para ensinar a Cirurgia especulativa no dito hospital. Destarte, a Bahia teve a honra de ser a sede do primaz estabelecimento de ensino superior: - a Escola de Cirurgia, que existiu por oito anos no prédio do antigo Hospital Real Militar, no Terreiro de Jesus. O curso era de quatro anos e a matrícula custava 6$400. Os praticantes, como eram chamados os alunos, deviam ser versados no idioma francês. Os estudantes que tivessem 60 faltas, pelo estado valetudinário, perdiam o ano, e os que não justificassem as ausências também eram eliminados, se houvesse oregisto de 20 faltas. Concluído o tirocínio, o praticante realizava a precisa prova, e, em sendo aprovado, proferia juramento aos Santos Evangelhos e era habilitado para cuidar da saúde pública. Tracejando o Barão de Goiana as normas para nortear os dois primeiros lentes, observa-se como era especulativo, verbal e teórico o incipiente ensino médico. “As praticas ou demonstrações sobre cada um dois objetos cirurgicos que se tiverem tratado se farão em uma das enfermarias que lhe serão franqueadas duas vezes por semana, sem, contudo, fazer reflexões à cabeceira do doente, mas si na sua respectiva aula, pois que o curativo pertence ao Cirurgião-Mor do Hospital, que só para isso tem atividade. A “Escola de Cirurgia” tinha como escopo formar “cirurgiões” – “cirurgiões formados” – para extinguir os “cirurgiões licenciados”, habilitados por “cirurgiões-mores” oficiais da junta do “Protomedicato” e foi instituída para formar “cirurgiões”, mas não formaria “médicos”. Somente estudando em Portugal, e outras faculdades de medicina da Europa, poder-se-ia graduar-se em “médicos”. Vários alunos se sobressaíram na Escola de Cirurgia da Bahia: Manoel Jozé Bahia, Jozé Alvares do Amaral (Lente de Cirurgia, Operações e Partos); Francisco Sabino Alves da Rocha Vieira (líder da revolução conhecida como a Sabinada, que eclodiu na província da Bahia em (1837); Antonio Jozé de Souza Aguiar, ao depois cirurgião-mor do Hospital Militar da Bahia; Francisco Gomes Brandão, ao depois Visconde de Jequitinhonha, notável político e membro do Parlamento do Brasil.
JOSÉ CORREIA PICANÇO ENTREGA A D. JOÃO VI CARTA
SOLICITANDO A CRIAÇÃO DA ESCOLA DE CIRURGIA DA BAHIA