PARREIRAS HORTA
Seu avó, o Visconde de Ouro Preto, de nome Afonso Celso de Assis Figueiredo, foi importante político, jurisconsulto e estadista do Império.
Paulo de Figueiredo Parreiras
Horta fez os estudos de humanidades em
sua cidade natal. O mesmo ocorreu com sua formação superior. Formou-se
inicialmente em farmácia, em 1903, pela Faculdade de Farmácia do Rio de
Janeiro. Depois, em 1905, concluiu o curso de medicina, na Faculdade de
Medicina da mesma cidade, oportunidade em que defendeu sua tese de doutoramento,
intitulada “Contribuição para o Estudo das Septicemias Hemorrágicas”, a qual
foi aprovada com distinção.
Henrique Batista e Silva, em seu
discurso de posse na Academia Sergipana de Medicina, relata que Parreiras
Horta “na apresentação da sua tese de
formatura, declarou que a medicina experimental exerceu sempre a maior
fascinação no seu espírito e sua maior aspiração nos últimos anos da sua
formação acadêmica era conseguir apresentar como trabalho original, um estudo
cujo desenvolvimento exigisse a aplicação dos seus métodos e suas leis” (1).
Ainda estudante, freqüentou o
Instituto Manguinhos, onde foi discípulo de Oswaldo Cruz e de outros notáveis
cientistas da época. Um de seus condiscípulos foi o sábio Henrique da Rocha
Lima, também formado em 1905 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Rocha Lima, (1879-1956) eminente sanitarista,
patologista e bacteriologista brasileiro, descobriu, anos depois, o agente
causador do tifo exantemático, a bactéria Rickettsia prowazekii.
A tese de Parreiras Horta é
dividida em três partes: a
primeira, trata das septicemias
hemorrágicas em geral; a segunda, aborda a septicemia dos coelhos; a terceira, é dedicada à septicemia dos coelhos de Manguinhos.É um monumento à medicina experimental.
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Concluído o curso médico,
Parreiras Horta seguiu para a Europa, onde durante dois anos (1906 e 1907), estudou
Microbiologia no Instituto Pasteur de
Paris.
De volta ao Brasil, foi nomeado
Assistente do Instituto Manguinhos.A convite de Oswaldo Cruz, desenvolveu estudos sobre micoses do couro cabeludo, especialmente sobre um novo tipo de “Piedra negra”, causada pelo Piedraia hortai (hortai, em homenagem a Parreiras Horta—nome proposto por BRUMPT, grande parasitologista francês).
Além do P. hortai, Parreiras Horta descreveu outras espécies de cogumelos, tais como Trichosporum flavescens, Trichosporum ramose, Cladosporum wernecki e Madurella osvaldai (em homenagem a Oswaldo , Cruz).
De março a setembro de 1911,
dedicou-se ao estudo de uma epidemia de raiva que acometia os gados bovino e
equino de Santa Catarina e que ameaçava estender-se por outras unidades da
federação. Parreiras Horta combateu a
epizootia, controlou a doença e organizou a produção e distribuição de uma
vacina, tanto para a raiva humana quanto para a raiva de outros animais.
Em 1917, assumiu a cátedra de
Microbiologia e Parasitologia dos Animais Domésticos, na Escola Superior de
Agricultura e Medicina Veterinária do Rio de Janeiro.
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Com a entrada do Brasil na 1ª
Guerra Mundial, Parreiras Horta foi comissionado, com outros professores, no
posto de Tenente Coronel, para trabalhar no laboratório do Instituto
Buisson-Bertrand, da Faculdade de Medicina da Universidade de Montpellier, na
França.
Foram comissionados, com o mesmo
posto e a mesma missão, os professores Maurício Campos de Medeiros, Bruno
Álvares da Silva Lobo, Eduardo Ribeiro Borges da Costa, Benedito Montenegro, e
os Drs. Luiz Felipe Baeta Neves, Maurício Gudin, Adolfo Luna Freire, Jorge de
Toledo Dodsworth e Augusto Torreão Roxo.Todos eles trabalharam nos hospitais de Montpellier e nos de Beziers, Cette, Norbonne e Caracassone, integrando a Missão Militar Brasileira.
Parreiras Horta foi nomeado chefe do laboratório do Hospital Brasileiro em Paris, adjunto efetivo e chefe de equipe, em Montpellier.
Referindo-se aos esforços do
nosso homenageado, Henrique Batista e Silva, obra citada, relata que o General
Simonin, em nome da 16ª Divisão Sanitária, registrou na ordem do dia de 24 de dezembro de 1918, o seguinte: “Sinto-me
feliz em prestar pública homenagem à dedicação e à ciência dos representantes
da nação amiga que, sob o vosso comando, trouxeram aos hospitais e laboratórios
desta região em concurso precioso, deixando aos soldados franceses saudosas
recordações dos seus cuidados e esclarecimentos e da sua bondade cativante. Os
militares franceses, com os quais partilhastes alegremente a tarefa imposta,
reconhecem em vós os dignos representantes da grande nação que é o Brasil”.
Regressando ao Brasil, em 1919,
Parreiras Horta assumiu a direção da Escola Superior de Agricultura e Medicina
Veterinária e ingressou na equipe da
Policlínica Geral do Rio de Janeiro.
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No rol de suas relações contava
Parreiras Horta com a amizade de Maurício Graco Cardoso, governador de Sergipe,
o qual o convidou para vir a Sergipe e construir em Aracaju um Instituto de
Pesquisa capaz de ampliar suas ações no campo da Saúde Pública.
Atendendo ao convite, Parreiras
Hortas chegou à capital sergipana no início de 1923, como hóspede oficial, em
companhia da esposa e filhos.Em Aracaju dedicou-se de corpo e alma ao grande empreendimento. O objetivo era a produção de insumos básicos, o combate a raiva e a produção de vacina antivariólica. O Instituto deveria contar com laboratórios de patologia clínica, de bacteriologia e de química, capazes de propiciar a implantação da pesquisa científica no Estado.
O Instituto foi inaugurado em 5
de maio de 1924, com os laboratórios acima referidos e o setor de produtos
biológicos(para a produção das vacinas
contra a varíola, a raiva e as febres tifoidoide e paratifoide).
Em dezembro de 1925, Parreiras
Horta concluiu sua missão e retornou para o Rio de Janeiro, deixando em seu
lugar o Dr. João Firpo Filho.
O governo de Sergipe, num ato de
justa homenagem, deu ao seu Instituto de Pesquisa o nome de INSTITUTO PARREIRAS
HORTA.
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Do currículo do ilustre sergipano
honorário constam, dentre outros, os seguintes títulos: professor catedrático
de Dermatologia e Sifilografia da Faculdade Fluminense de Medicina; professor
catedrático de Microbiologia e Parasitologia dos Animais Domésticos, na Escola
Superior de Agricultura e Medicina Veterinária da Escola Superior de
Agricultura e Medicina Veterinária do Rio de Janeiro; prof. Catedrático e honorário da Escola de Medicina e
Cirurgia do Rio de Janeiro; membro
efetivo do Conselho Nacional de Educação; chefe da Secção Técnica da Diretoria
Geral do Serviço de Veterinária do Ministério da Agricultura, Indústria e
Comércio; membro efetivo da Academia Nacional de Medicina.
É portador de numerosas
condecorações, dentre as quais destacamos a
famosa Cruz de Ferro, a mais alta horária da Alemanha.Parreiras Horta faleceu no Rio de Janeiro, no dia 29 de julho de 1961.
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