English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified
By Ferramentas Blog

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

197- JOSÉ ADEODATO DE SOUZA

197- JOSÉ ADEODATO DE SOUZA
MATERNIDADE CLIMÉRIO DE OLIVEIRA
SALVADOR, BAHIA
(PRIMEIRA MATERNIDADE CONSTRUIDA NO BRASIL)
*

Nasceu em Cachoeira, Bahia, em 1873 e colou o grau de doutor em Medicina em 1895, na Faculdade de Medicina da Bahia.
Foram seus colegas de turma, além de outros, Egas Muniz Barreto de Aragão e João Américo Garcez Fróes, os quais se tornaram ilustres catedráticos.
José Adeodato de Souza foi Chefe da enfermaria militar provisória, na Faculdade de Medicina, durante a guerra de Canudos; preparador, por concurso,  de Anatomia Médico-Cirúrgica, de 1896 a 1902.
De 1902 a 1911, Professor substituto, por concurso, de Clínica Obstétrica e Ginecológica.
Em 1907, visitou a Europa em viagem de aperfeiçoamento, oportunidade em que frequentou os melhores serviços de Ginecologia do Velho Mundo.
Em 1911, com o desdobramento da cadeira, passou a catedrático de Clínica Ginecológica, assim permanecendo até 1925.
Em 1925, por força da Reforma Rocha Vaz, ficou em disponibilidade.
Mais de cinqüenta trabalhos científicos de grande valor, foram publicados pelo Prof. José Adeodato de Souza, a maioria deles na Gazeta Médica da Bahia e no Brasil Médico, bem como na revista Gynécologie et Obstétrique, e outros  periódicos estrangeiros.
São de sua autoria os livros “Propedêutica Ginecológica” e “Lições de Emenologia Clínica”.
Foi titular da Academia de Medicina da Bahia e de numerosas instituições científicas e culturais do Brasil e do exterior.
Para todos os efeitos, o Prof. Adeodato é considerado o iniciador, na Bahia, da especialidade ginecológica, na qual se consagrou como um dos seus maiores mestres.
Além de grande médico, foi o Prof. Adeodato humanista, escritor, polemista e cidadão extremamente generoso.

FONTE BIBLIOGRÁFICA:
1.      Coutinho, Elsimar Metzker – Discurso de Posse. Anais da Academia de Medicina da Bahia, Volume 6, Julho 1985.
2.      Sá Oliveira, Eduardo de- Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia, concernente ao ano de 1942. Salvador, 1992.
3.      Tavares-Neto, José – Formados de 1812 a 2008 pela Faculdade de Medicina da Bahia. Academia de Medicina de Feira de Santana. Feira de Santana, 2008.

APÊNDICE I
DEPOIMENTO DE JOSÉ ADEODATO DE SOUZA FILHO
(Extraído e Adeodato de Souza Filho, Jose- José Adeodato de Souza. Sinopse Informatiiva.
Universidade Federal da Bahia, Vol. II, NO II, Outubro. Salvador, 1978)
br&source=imghp&biw=1362&bih=595&q=MATERNIDADE+CLIMERIO+DE+OLIVEIRA&btnG=Pesquisar+imagens&gbv=2&aq=f&aqi=&aql=&oq=
*
“Não posso dizer se os professores daquela época eram melhores ou piores do que os de hoje – eram os da época. Eram, entretanto, figuras respeitáveis, gozando de conceito e privilégios sociais incomparáveis. O simples título  que conquistaram garantia um status social elevadíssimo. Como Mestres o que lhes caracterizava, salvo algumas inevitáveis exceções, era uma cultura profunda e diversificada, que a vida agitada de hoje dificilmente permite. Grande parte deles se distinguia por uma oratória eloqüente e vibrante, que tanto concorreu para a fama dos baianos.
Havia também os inclinados à investigação científica, como Pirajá da Silva, Nina Rodrigues e outros que, embora limitados pelos recursos da época, produziram trabalhos da mais alta valia.
O Professor Adeodato não era nem uma coisa nem outra; nem um grande pesquisador nem um orador eloqüente. Era, antes de mais nada, um professor com uma inteligência privilegiada e uma cultura humanística invejável. Júlio Adolfo, grande e famoso baiano, pai de nosso Mestre José Olímpio e nosso colega Júlio Olimpo, costumava emitir um conceito a respeito de Adeodato e que era muito repetido por outros: “Adeodato sabe muito e tudo o que sabe traz na ponta da língua”. De fato dificilmente se pode ouvir explanações, de improviso, com tanta segurança e precisão, sobre assuntos tão variados, especialmente de Medicina, como se costumava ouvir do Prof. Adeodato.
Dedicava-se a fundo aos estudos das línguas, tendo sólidos conhecimentos de latim e grego. Falava correntemente cinco línguas estrangeiras: francês, inglês, italiano, alemão e espanhol. Ouvi, certa vez, um médico italiano, que esteve algum tempo aqui  na Bahia perguntar a meu pai quantos anos ele tinha estado na Itália e ficou muito surpreendido com a resposta de que nunca tinha estado ali. Mais surpreendido  ainda ficaria se soubesse, como eu, que nunca teve professor daquela língua. Nem de italiano, nem de espanhol, que também falava fluentemente, com pronúncia correta.
Era igualmente um dos grandes cultores da língua pátria, sendo considerado um grande purista da linguagem falada ou escrita. Nos últimos anos de vida vinha escrevendo para o vespertino “A TARDE” uma série de artigos semanais, sobre terminologia médica, com invulgar repercussão. Quando faleceu tinha, em elaboração, um livro em que enfeixava em forma adequada, os assuntos publicados, estimulado pelos constantes e numerosos leitores.
Dentro da Medicina seus conhecimentos eram igualmente sólidos, alicerçados em vasta cultura de ciências básicas.
Era um dos mais destacados Anatomistas de seu tempo. Quando Preparador de Anatomia, além das aulas que era incumbido de dar por dever de ofício, ministrou muitos cursos particulares, que lhe melhoravam os recursos financeiros  que eram poucos naquela fase da vida.
Outro traço dominante da personalidade do professor Adeodato é ter sido um grande e famoso polemista. Discutia sobre os mais variados assuntos com os grandes conhecedores. De suas polêmicas, duas ficaram famosas.
Num congresso médico em São Paulo, defrontaram-se Fernando Magalhães a figura da Obstetrícia Brasileira, literato de renome e também famoso polemista, e José Adeodato, a divergir quanto ao melhor método de drenagem uterina para tratamento de aborto. Magalhães defendia a drenagem metálica por intermédio do dreno de Muchote e Adeodato preferia a drenagem capilar por meio de gaze hidrófila.
A discussão deu pano para as mangas, cada qual mais ardoroso, cada qual mostrando maior segurança de conhecimentos básicos de Medicina. Só terminou porque um dos dois, não sei qual, saiu-se inopinadamente com esta:  ”Então o senhor fique com seu pensamento que eu fico com o meu”.
Desde aí se tornaram grandes amigos até o fim da vida.
A outra famosa polêmica em que se viu envolvido, e ainda freqüentemente relembrava, especialmente aqui na Bahia, foi com outra das grandes figuras de nossa Faculdade – o Professor Eduardo de Morais.
Num dos mais famosos concursos que aqui se realizaram, disputavam a Cadeira de Anatomia Topográfica e  Cirurgia Experimental, os professores Ignácio de Menezes e Fróes da Fonseca. O concurso em si mesmo já estava tendo repercussão habitual em prélios que tais aqui na Bahia, pelo alto gabarito dos concorrentes.
O Professor Adeodato focalizava as atenções pela solidez de conhecimentos quando a certa altura criticou a tese de Fróes por nomear o órgão da audição em seu todo de orelha. Conforme o argüente, a designação certa era ouvido; orelha seria apenas o pavilhão do ouvido, parte do ouvido externo. Com este modo de pensar não se conformou o candidato e houve discussão mais ou menos acalorada no momento. Mas a discussão ainda cresceu, mais tarde, nas Sociedades Médicas e na Imprensa, porque o grande Mestre Morais, ainda jovem então, igualmente brilhante e culto, esposou o modo de pensar de Fróes.
Foram às raízes dos temas; os clássicos foram consultados; o ardor da discussão crescia em artigos e conferências sucessivas, mas o trato fino não foi abalado, a estremecer uma velha amizade de colegas que se admiravam.
A certa altura dos debates, Adeodato sugeriu a Morais ironicamente que mudasse seu anúncio para especialista de moléstias das orelhas e não de doenças dos ouvidos, como estava na placa do consultório. E Morais, para ser coerente, mudou mesmo. Creio que ele e o filho Carlos, foram os únicos especialistas brasileiros a se dizerem especialistas das doenças das orelhas.
Vejam a que leva o ardor de uma discussão !
A repercussão desta polêmica foi enorme, até do outro lado do Atlântico. Cândido Figueiredo, o notável dicionarista, criticado por meu pai, por adotar a terminologia por ele condenada, agradeceu o opúsculo em que enfechou toda a polêmica, com um amável cartão, em que dizia depois de outras coisas: “Agradeço, concordo e aplaudo”. E completou a satisfação íntima do autor, modificando seu dicionário, no termo em debate e corrigiu na nova edição o seu primitivo modo de pensar.
Como professor é que Adeodato era o máximo. Era professor nato e metodicamente aperfeiçoado. A propósito dos mais variados assuntos dava longas e claras preleções, em casa aos filhos, ou no hospital aos seus discípulos e colaboradores. Era claro, preciso, conciso e empolgante. Prendia, de saída, os ouvintes e ia até o fim do assunto sem provocar cansaço.
O Professor Adeodato era também um clínico esclarecido e hábil, chegando a ser possuidor de uma vasta e selecionada clientela. Como cirurgião e obstetra operava com grande destreza e segurança, podendo ser tido como um dos precursores da estandartizaçao cirúrgica, que tanto impulso trouxe à Medicina operatória. Entre as modificações que imprimiu à Cirurgia Ginecológica, uma teve especial relevo e foi adotada por outros também fora da Bahia. Refiro-me à “Histeropexia ligamentar a Gilliam-Adeodato”, assunto de minha tese de doutoramento.
Dos numerosos trabalhos publicados pelo Professor José Adeodato de Souza, três se salientaram pelo mérito invulgar: a tese de doutoramento, intitulada “Considerações sobre o Botão Endêmico dos Países Quentes” – cuidadoso estudo de uma doença que constituía importante problema de Saúde Pública, hoje conhecida como Leishmaniose Americana e praticamente vencida. “Lições de Emenologia Clínica”, monografia de 250 páginas, editada pela Livraria Catalina, em 1913, com edição esgotada, apesar das deficiências de organização editorial da Livraria – na época foi o estudo mais completo e bem elaborado sobre a fisiologia e a clínica da menstruação, escrita em língua portuguesa (o neologismo “Emenologia” foi do autor); “Propedêutica Ginecológica”, também impressa e editada na Bahia, sendo considerado em todo o país como um dos trabalhos clássicos, que nenhum outro superou.
Numerosos outros trabalhos foram por ele publicados em revistas médicas, nacionais e estrangeiras, de circulação internacional”.







Nenhum comentário:

Postar um comentário