SINCERO AGRADECIMENTO AOS MÉDICOS E ESTUDANTES DE MEDICINA DE
PORTUGAL PELO INCENTIVO AO
DESENVOLVIMENTO DESTE
BLOG MODERNA ESTAÇÃO FERROVIÁRIALISBOA, PORTUGAL *AOS AMIGOS DO EXTERIORBERLIM MODERNA CONTRASTE ENTRE EDIFÍCIOSANTIGOS E UM EDIFÍCIO MODERNO LONDRES, INGLATERRA
SINCERO AGRADECIMENTO AOS
MÉDICOS E ESTUDANTES DE MEDICINA DE
PORTUGAL PELO INCENTIVO AO
DESENVOLVIMENTO DESTE
BLOG
MODERNA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA
LISBOA, PORTUGAL
*
AOS AMIGOS DO EXTERIOR
BERLIM MODERNA
CONTRASTE ENTRE EDIFÍCIOS
ANTIGOS E UM EDIFÍCIO MODERNO
LONDRES, INGLATERRA
Geraldo Leite
"Mais vale ser modesto com os humildes do
(PROVÉRBIOS , 15: 19)
Estas sábias palavras do primeiro dos Livros Sapientais, proferidas nesta noite de tanta alegria , luzes e flores , traduzem de modo admirável o sentimento que me invade a alma .
Fostes humildes , vez que escolhestes como paraninfo da vossa formatura um de vossos mestres mais despretensiosos. Fostes modestos porque elevastes a esta tribuna um de vossos professores menos significativos .
Mereceis, portanto , a singeleza dos ensinamentos que recolhi ao longo dos sete lustros em que vivi a medicina .
Sinto que me deserta o espírito , que me fogem a inspiração e o ânimo , nesta hora de emoções tão fortes . Sirvo-me do exemplo de um pretérito , o inesquecível CLEMENTINO FRAGA , o qual , em situação como esta, assim falou aos seus afilhados : "Suponho que aqui me trouxestes para sentir convosco as justas alegrias da investidura doutoral e por isto não quero, nem devo, desfazer da escolha do vosso paraninfo , receando atritar os sagrados melindres da livre e espontânea determinação , embora acertasse ela de premiar uma vida que à sombra do sossegado retiro , correria de todo esquecida, não fosse o milagre do vosso prestígio e o incentivo da vossa bondade . E mais ainda : "Seria insincero se quisesse dissimular quanto a vossa festa me felicita e comove, e a peso igual o vosso apreço me prestigia e encoraja; chegarei até a confessar se mi permitir , que ela envaidece a quem ~ vaidade , de ânimo advertido, quer resistir , fiel ao conselho de VIElRA, que considera "um grande sinal de não merecer honras quem as pretende com grande ânsia " (IBIDEM ).
Fostes, na verdade , humildes e nisto andaste bem . Disse NEWTON GUIMARÃES que "nenhuma virtude ensina em maior grau a prática da medicina, e nenhuma outra é mais essencial e indispensável ao exercício dessa profissão do que aquela tão sabia e profundamente cristalizada no capítulo terceiro , versículo dezenove do Gênesis" isto é, a humildade :
"COMEREIS O PÃO COM O SUOR DO VOSSO ROSTO , ATÉ QUE VOLTEIS À TERRA DA QUAL FOSTES TI RADO; POROUE SOIS PÓ , E EM PÓ HAVEREIS DE TORNAR ":
- LOUIS PASTEUR, respondeu o jovem , humildemente :
"Mas o século XIX não havia de parar nestes dois nomes apenas . Na Holanda, ainda e sempre dentro de tão extraordinário período , havia um menino estudante a frequentar o curso pré-universitário, da Universidade de Utrecht. Enquanto o professor fazia exposição rotineira da matemática , o menino , com lápis na mão , desenhava figuras geométricas e se aprofundava em equaç8es difíceis, que o explicador não teve condições de percebe-las. Foi expulso da Universidade , por incapaz . O incapaz garoto que em seus desenhos e indagações ultrapassava de muito as rotinas da lição , não era mais , nem menos , que o embrião de um gênio , cujo nome difícil de se pronunciar , não era outro senão o de ROENTGEN, o revolucionário da física e o imortal descobridor dos raios X" (IBIDEM ).
Pensastes por acaso o que seria da medicina , sem CLAUDE BERNARD, PASTEUR e ROENTGEN?
CLAUDE BERNARD criou a Medicina Experimental. PASTEUR criou uma ciência inteira e ROENTGEN, o primeiro Prêmio Nobel, ensinou em diversas Universidades e os seus raios X, além das múltiplas aplicações industriais , tornaram-se um dos maiores e mais seguros instrumentos de que se valem, até hoje , o diagnóstico e a terapêutica .
Dos três jovens , sumamente humildes , o que deixou marca mais indelével foi aquele que , segundo MAGENDIE, "não tinha vocação nem talento ". Eu me refiro a CLAUDE BERNARD, o criador da Fisiologia Moderna e da Medicina Experimental. A seu respeito dizia PAULO MANGABEIRA ALBERNAZ: "Para encetar a vida de médico , creio que devia ser obrigatório , nas Faculdades do mundo inteiro , uma prova de conhecimento exato disso que se poderia chamar a "Bíblia do Médico ", na verdadeira acepção do termo . Esta obra , que poucos conhecem, é a "Introdução ao Estudo da Medicina Experimental", de autoria de CLAUDE BERNARD. Quanto mais me passam os anos , mais leio e mais me convenço de que o médico está na obrigação de lê-la, de relê-la, de meditá-la e, sobretudo , de cumprir ·lhe os ensinamentos ".
Concedeis, agora , que eu vos fale daqueles que contribuíram, ainda como estudantes , para o progresso da medicina .
E de GUERREIRO , o que vos disse? Eu não vos contei que ele ainda estudante , foi co-autor de uma reação para o diagnóstico da doença de Chagas , hoje acreditada em todo o mundo ?
De DANIEL ALCIDES CARRION, ainda vos lembrais? Eu não vos contei que ele Inoculou-se, em ambos os braços , com material proveniente de um enfermo com "Verruga Peruana " e que tendo apresentado um quadro grave , considerado pelos clínicos da época como correspondente à chamada "Febre de Oroya", veio a falecer pouco depois ? E mais , eu não vos disse que deste fato se deduziu que ambas as doenças têm a mesma etiologia e são a mesma coisa ? Também não vos disse que ao contrário do que ocorre nos outros países - o dia cinco de outubro , data da morte de CARRION, é, no Peru , o dia do Médico ?
Nenhuma destas contribuições estudantis produziu em mim maior emoção do que a de SCHILLING, o inventor do hemograma.
Puncionada a paciente , realizei o hemograma, o qual , contrariando a expectativa , revelou tratar-se de um processo infeccioso agudo , grave , com pouca reação orgânica e tendência à supuração. Aconselhei, de imediato , a audiência de um cirurgião .
O pai recebeu o laudo do exame como se estivesse sob a ação de um raio , em meio à tempestade . Aflito , pediu o socorro de um cirurgião . Este , após acurado exame da paciente , discordou do hemograma e pediu uma reavaliação .
De imediato foi convocada uma junta médica , com a participação de dois cirurgiões e um clínico , além do angustiado pai da paciente .
Concluídos os exames , procedida a conferência , foi enunciado o veredicto, nos termos seguintes : "Constatada a discrepância entre os dados do exame físico e os do laboratório , os facultativos que assinam o presente , optam pelos dados clínicos , por considerarem a clínica soberana ".
Recebi com humildade a decisão dos colegas , a qual , na verdade , em outras palavras , era o meu atestado de óbito profissional . Solicitei, apenas , repetir , mais uma vez , o hemograma.
Cumpri o dever de levar a notícia ao conhecimento da família e, sem conciliar o sono , me recolhi ao leito .
Ao surgir o novo dia , tive conhecimento que a doente havia sido transportada, em caráter de urgência , para a capital , A laparotomia , realizada no Hospital Manoel Vitorino, sob o comando do saudoso MANUEL VITORINO PEREIRA , constatou tratar-se de apendicite supurada da qual resultou longa e pertinaz peritonite ...
Do exposto se infere, meus afilhados queridos , que o maior de todos os nossos compromissos é o de ser e permanecer sempre humilde .
Do princípio ao fim , do primeiro ao último dia da vossa vida profissional , havereis de ser honestos e humildes .
Daí o conselho de GUIMARÃES: "Apresentei-vos desde o início , a humildade , como a virtude fundamental para a prática da medicina . Podereis retrucar-me que a humildade dissimula e esconde as cintilações do triunfo : que o sucesso , que não se apresenta como tal , não brilha , não refulge, que é discreto , não aparece, não é sucesso " (OBRA CITADA).
"MAIS VALE SER MODESTO COM OS HUMILDES QUE REPARTIR OS DESPOJOS COM OS SOBERBOS ”:
Deixeis, agora , que eu vos transporte nas asas do tempo e recue convosco um século atrás .
O que vedes? O que os vossos olhos contemplam? A Bahia de ontem , a Bahia do século XIX, a Bahia de tantos médicos ilustres , puros , virtuosos e bons . A Bahia, sobretudo , de médicos amados e queridos :
Passei os olhos sobre eles e examinei as suas vidas : JOSE EDUARDO FREIRE DE CARVALHO , ALEXANDRE BITTENCOURT, CEZAR ZAMA, AUGUSTO NOVIS, VIRGILÍO DAMÁSIO, CARNEIRO RIBEIRO , SÁTIRO DIAS , RODRIGUES LIMA , FLORENCIO GOMES, ARTUR RIOS , MANUEL VITORINO, todos pérolas primorosas, esmeraldas benditas da última centúria .
E aquele , como se chama ? CIPRIANO BARBOSA BETÂMIO, eis o seu nome . Sua vida , justiçou MENANDRO NOVAES , "se identifica com aspectos do hagiológio cristão dos grandes santos ". "E uma vida em holocausto da huma nidade", sentenciou BROCHADO PRINCIPE. "Herói excelente " ele foi, na expressão culta de JAYME DE SÁ MENEZES.
CIPRIANO BARBOSA BETÂMIO, "um homem de coração evangélico ", como o chamou FRANCISCO DE PAULA CÂNDIDO , se ofereceu de modo espontâneo pare enfrentar o caos e as atribulações horríveis vividos pelo povo de Santo Amaro da Purificação , durante a epidemia da cólera que dizimou a Bahia.
"Ficai certo de que vou trabalhar sem descanso - disse ele ao Presidente da Província . Vou tomar a dianteira das empreitadas mais arriscadas e não me lembrarei de minha vida . Nada exigirei em recompensa de meus sacrifícios , se puder vencer , mas se sucumbir , Vossa Excelência e o Governo olhem para os meus filhos ". Em seguida , numa expressão jocosa , para serenar a emoção , voltou-se para sua esposa e exclamou: - "Felismina, até a volta , se não for torta ".
Solicitou tropa militar para incinerar os cadáveres , mandou buscar escravos , enxadas , carros de boi , e lenha , nos engenhos próximos . Cremou centenas de cadáveres , requisitou ambulâncias , padiolas e enfermeiros , desinfetou todas as casas e, mercê de Deus , dominou a epidemia . Salvou Santo Amaro mas contraiu a doença e veio a falecer em cinco de setembro de 1855.
Levantai vossos olhos , afilhados meus , e admirai outro médico ilustre . Seu nome é OTTO WUCHERER. Foi por muitos motivos uma figura admirável . Enfrentou a epidemia de febre amarela , cujo diagnóstico esclareceu. Ditou normas , defendeu princípios , impôs argumentos e transformou sua casa em hospital . Lutou com tanto heroísmo que a muitos pareceu ser imune ao vírus amarílico .
E aquele esculápio , também de aparência européia, quem é ele , como se chama ?
Descobri as vossas frontes , paraninfados meus , porque estais diante de um dos vultos mais extraordinários da medicina baiana : Trata-se, nem mais , nem menos , de PATERSON, o médico dos pobres :
A seu respeito , disse SILVA LIMA : "A clientela dos seus compatriotas , somou PATERSON a da população em geral , sobretudo a dos pobres , e de tal modo o fez que , com o andar do tempo chegou, em extensão e trabalho , a proporções verdadeiramente assombrosas e nunca vistas nesta cidade ".
A morte deste médico foi uma comoção pública . Ei-la, na palavra do mesmo SILVA LIMA :
"Depois de jantar cedo , como costumava sempre , e de algum descanso , montou a cavalo à tarde , nas melhores disposições , e foi visitar um doente na povoação da Barra , em frente ao farol . Era um caso grave que ele via desde algum tempo . O doente estava sentado na cama e o Dr. PATERSON sentou-se também em uma cadeira , adiante e um pouco ao lado dele; depois de o ter examinado detidamente , conversava sobre o estado de sua moléstia , e sobre a conveniência de ouvir a opinião de outro colega . Neste ponto da conversação , o dr. PATERSON calou-se de repente . Imóvel , com o rosto voltado para uma janela que dava para o mar , fixou a vista sobre o sol poente por pouco mais de um minuto , e caiu súbito para o lado da cama , com a cabeça entre os travesseiros . Colhera-o a morte de surpresa no seu posto de honra e no meio da quase divina tarefa de servir e socorrer a humanidade ".
"O Dr. PATERSON morrera a grande distância de sua morada . Os habitantes da estrada da Vitória , que pela tarde o viram passar a cavalo , foram no começo da noite dolorosamente impressionados por um tristíssimo espetáculo . Ele passava outra vez para casa , mas inanimado , conduzido aos ombros de quatro homens , acompanhado pelos amigos , que pelo caminho iam sabendo da infausta nova . Atrás deste fúnebre cortejo ia a passo lento , o seu cavalo ”.
"A notícia do triste acontecimento espalhou-se com grande rapidez surpreendendo penosamente toda a população . Foi imenso o concurso de pessoas que nessa noite foram informar-se do inesperado sucesso que ecoara com a repercussão de um grande desastre ".
"O funeral do Dr., PATERSON, no dia seguinte , foi o mais importante que viu a Bahia. Tornou-se um funeral público . Os ofícios foram celebrados na capela inglesa, do Campo Grande , que estava literalmente coberta de povo ".
Acrescenta SILVA LIMA : "Assistiram à cerimonia grande número de compatriotas , colegas , professores da Faculdade de Medicina , amigos , clientes e outros cidadãos de todas as classes e profissões .
Ao terminarem os ofícios , e no momento em que saía o féretro da capela pare ser depositado no carro mortuário , a multidão que estava fora precipitou-se de súbito para a porte , e apoderou-se à força do ataúde para o levar , à mão , até o cemitério , à ladeira da Barra . Apesar da intervenção do cônsul inglês e de outras pessoas , o povo não desistiu do seu intento , alegando que aos pobres que per diam no Dr. PATERSON um amigo e um pai , ninguém teria a crueldade de impedir aquela homenagem de reconhecimento , a última e única que eles , como filhos e como pobres , lhe podiam prestar ”.
Os médicos baianos sempre mereceram, fora da Bahia, respeito e consideração. Vejamos, por exemplo , o que foi o passamento de FRANCISCO DE CASTRO, ocorrido no Rio de Janeiro . Assim relata IVOLINO DE VASCONCELOS, o seu biógrafo :
"FRANCISCO DE CASTRO fora chamado, em conferência , a ver um doente , afetado de pneumonia pestosa. Examinara o enfermo , com devotamento e a unção , quase religiosa com que procedia, habitualmente , no sagrado mister .
"Em certo momento , de inesperado , fora o enfermo presa de violento acesso de tosse , a cuja contaminação não pudera fugir o médico ”.
"Pouco depois , fora ele a cair doente , e a sucumbir , vitimado pela mesma enfermidade , em meio a surpresa e consternação gerais ”.
"Findara-se, o glorioso mestre , na mais prematura , mas , igualmente , honrosa das mortes , pois imolara sua vida à Medicina , ao pé do leito do enfermo a que tentava salvar ..."
E continua: "O sepultamento foi uma apoteose . Um silêncio apenas interrompido por suspiros de preces ou abafados gemidos , era o imponderável sudário da dor . Arrastavam-se os minutos , sonolentos e tardos , no quadrante das horas , rumo à eternidade . Poderia notar-se, no piedoso velório , o que de ilustre havia, na sociedade carioca - os seus colegas , homens de letras , políticos , jornalistas - que vinham oferecer ao grande mestre a mais completa consagração pública que , até então , tivera a Medicina , em nosso país , numa cerimônia fúnebre".
"Constituíam multidão , os seus alunos , que lhe vinham trazer as últimas e inconsoláveis despedidas ... Viam-se, em toda parte , os seus clientes , e se uniam na mesma dor , os representantes das classes mais abastadas às mais humildes ..."
AZEVEDO SODRÉ, reportando-se ao fato , teceu os seguintes comentário, no "Brasil Médico ": "Os funerais de FRANCISCO DE CASTRO equivaleram, de fato , a uma verdadeira apoteose ; no préstito fúnebre , que se organizou para conduzi-lo à última morada , tomaram parte mais de duas mil pessoas , representando todas as camadas sociais , desde o Presidente da República até o mísero mendigo que , ,com os olhos rasos de lágrimas , imprecava as bênçãos do céu para o seu benfeitor .
O ataúde que conduziu os seus restos mortais foi levado à mão e acompanhado a pé até o cemitério de São João Batista . Em todas as ruas por onde passou era grande o número de pessoas que o aguardavam nas janelas , portas e jardins . Em todos os semblantes transparecia a tristeza e não eram raras as pessoas que prorrompiam em pranto ".
"Entre nós , pondera JOSE SILVEIRA , a figura do médico não era só valorizada e respeitada, como adorada e querida . Do seu indiscutível prestígio vem ainda a onda de jovens , onde , até hoje , domina a preferência pela medicina".
Disse ANTÔNIO JESUÍNO DOS SANTOS NETO , nesta tribuna , há dois anos ; que ser médico , hoje em dia , é algo penoso e difícil . E atuar em unidades mal aparelhadas e desassistidas, é examinar em pouco tempo uma multidão de doentes , é receber pelo seu trabalho , quase sobrehumano, uma remuneração ínfima : A medicina foi massificada e o médico recebe por tudo isso acerbada crítica que não lhe cabe. Alguma parcela de culpa , no entanto está dentro de nós mesmos .
Confessou OSCAR WILDE, atrás das grades de sua prisão , quando escreveu em cartas a tragédia da sua vida : "Ninguém , por grande ou pequeno que seja, poderá perder-se a não ser por meio de suas próprias mãos !"
A mim me parece que a resposta à dolorosa pergunta formulada por JOSÉ SILVEIRA está com MÁRIO RIGATO. Ei-la na íntegra :
"Na verdade , se investigarmos com mais vagar do que eram capazes , os médicos do passado , chegaremos a algumas conclusões , à primeira vista , bastante acabrunhadoras. Tudo Indica que um século atrás - um século na esteira do tempo não é muito - os nossos irmãos de profissão não eram capazes de curar praticamente nada .
. "Se remontarmos à história da medicina , veremos que o século passado foi marcado por notáveis progressos no conhecimento da patologia e do diagnóstico das doenças . Mas em termos de terapêutica , em termos de cura , praticamente nada naquela época se sabia. Os grandes mestres da medicina , de cujos retratos temos cópias a ornamentarem nossos consultórios , prescreviam para os seus doentes sanguessugas . Seis milhões de sanguessugas eram vendidas, por mês , nas farmácias de Paris, ao redor de 1850. A arte , a ciência , não estavam em saber se devia ou não receitar sanguessugas . A arte e a ciência consistiam em saber quantas sanguessugas se deveria receitar para cada moléstia , e por quanto tempo !
"Se os médicos do passado não eram capazes de curar praticamente nada , de onde provinha o seu inegável , o seu extraordinário prestígio ?
"A resposta não é assim tão difícil : sabe-se que , pelo menos , dois terços dos pacientes que batem às portas dos consultórios não possuem doença orgânica . Dois de cada três pacientes não são doentes do ponto de vista físico . São ansiosos e angustiados, em busca de orientação , apoio e conselho . Este fato é tão verdadeiro nos dias de hoje como o foi no passado . O médico do século XIX era um homem que não tinha conhecimentos para poder curar doenças orgânicas. Mas era tão inteligente como nós . Ciente de suas limitações , dedicava um grande calor humano aos que o procuravam. A tomada da anamnese , ao que tudo indica, era feita com extrema atenção e interesse . O exame físico chegava às raias do primoroso. Hoje , não . Hoje nós estamos montados numa ciência real mente poderosa , capaz de curar a maioria das doenças orgânicas e, ao invés de continuarmos humildes , nos tornamos tão orgulhosos que , realmente , já não temos muita consideração para com aqueles que não possuem patologia orgânica .
"O pouco tempo de que dispomos para ouvi-los, a presteza com que nos dispomos e pedir exames complementares , e longa romaria pelos laboratórios clínicos , radiológicos , eletrocardiográficos , endoscópicos, anatomopatológicos a outros que tais , acabam infundindo, mais e mais , no paciente angustiado, e certeza de uma patologia que ele não tem.
"Outra razão pela qual , eu acredito, os médicos do presente têm menos prestígio do que os médicos do passado , diz MÁRIO RIGATO, é a sua menor exposição ao mundo afetivo dos pacientes . Não me causa surpresa que uma recepcionista de uma Olimpíada tivesse se tornado a esposa do monarca que lhe coube receber e acompanhar durante aquele festival de esportes . Pois não foi ela que o esperou no aeroporto ? Não foi ela que o acompanhou ao hotel ? Não foi ela que o levou ao estádio ? Não foi ela que lhe fez companhia às refeições ? Não foi ela que o transportou até o avião do retorno ? Este longo convívio permitiu que florescessem simpatias e se revelassem atrações . Mas se o Rei da Suécia tivesse sido recebido por uma jovem , levado ao hotel por uma segunda , conduzido à praça de esportes por uma terceira , acompanhado ao Hotel por uma quarta , Jantado com uma quinta , seria crível , ou pelo menos provável , que ele se casasse com a equipe assim constituída?
"Pois eu acho que entre o médico do passado e o médico do presente está acontecendo a mesma coisa . Quem ouvia a história de um doente de um século atrás , era o seu médico . Quem o examinava depois da história contada, era o seu médico . Quem fazia as investigações complementares , ainda que simples , tal como o primitivo exame de urina , era o seu médico . Quem prescrevia a medicação , ainda que ineficaz , era o seu médico . E quem passava e vir vê-lo, dia após dia , noite após noite , até que o alívio ou a morte chegassem era o seu médico . Seria de surpreender que se criasse entre este médico e este paciente uma notável relação com grande , ampla e sólida afetividade ?"
SÊDE HUMILDE E AMAI O VOSSO PACIENTE COMO SE ELE FOSSE O VOSSO PAI OU O VOSSO FILHO .
A Escola , paraninfados da minha alma , discípulos queridos que os anos não me trarão jamais , há de ser , hoje e sempre , o farol das vossas vidas .
É pensando nela que concluo esta Oração de Paraninfia. Concluo repetindo o que vos disse quando me comunicastes a vossa escolha , isto é, retiro das reminiscências do passado , o meu primeiro livro de leitura : "CORAÇÃO ", de EDMUNDO D'AMICIS. Abro-o! Quantas lembranças ! Em cada página uma recordação da infância . Elas compõem, nesta noite de luzes e flores , minhas palavras de despedida , as quais , impressas em vosso convite de formatura , estão dirigidas a cada um de vós , nos termos seguintes :
"A ESCOLA , MEU FILHO , É UMA MÃE . ELA RECEBEU DE MEUS BRAÇOS UMA CRIANÇA E ME DEVOLVEU UM HOMEM . ABENÇOADA, POIS , A TUA ESCOLA . TU NÃO A OLVIDARÁS JAMAIS É IMPOSSIVEL QUE A ESOUEÇAS! VIAJARÁS PELO MUNDO , VERÁS CIDADES E MONUMENTOS E DE MUITOS DESTES TE ESOUECERÁS, MAS AQUELE EDIFÍCIO MODESTO, AQUELA PORTA E AOUELE PÁTIO ONDE DESABROCHARAM O TEU SABER E A TUA CIÊNCIA , VE-LO-ÁS ATÉ O ÚLTIMO DIA DA TUA VIDA , COMO EU , TUA MÃE , VERE! PARA SEMPRE A CASA EM QUE OUVI PELA VEZ PRIMEIRA , O TEU VAGIDO !"
IDE, DEUS VOS ACOMPANHE!
ESTAMOS DESPEDIDOS
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