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By Ferramentas Blog

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

212- JOHN LIGERTWOOD PATERSON

212- JOHN LIGERTWOOD PATERSON
"O MÉDICO DO PÔVO"
*
Nasceu em 14 de setembro de 1820, no condado de Aberdeen, na Escócia. Realizou o curso médico na Universidade local, concluindo-o em 29 de abril de 1841.
Logo depois rumou para Londres, com o propósito de ser admitido no Real Colégio de Cirurgiões.
Conseguido o ambicionado título, freqüentou hospitais e privou com os mais notáveis professores da França, Suíça, Itália e Áustria.
 Em 1842, depois de voltar á terra natal e desfrutar por certo tempo o alegre convívio paterno, tomou o primeiro navio e rumou para Recife. Alí não encontrou ânimo para maior delonga, seguindo para a capital da Paraíba onde iniciou a vida profissional.
Quando percebeu que a clínica começava a se tornar estável e promissora, teve de renunciar e vir para a Bahia, a fim de socorrer seu colega e irmão mais velho, Dr. Alexander Paterson, que estava incapacitado de continuar à frente de sua clínica.
Submeteu-se ao exame de suficiência e de verificação de título, na Faculdade de Medicina da Bahia e obteve a licença para o exercício legal da profissão.
À clientela dos seus compatriotas somou Paterson a da população em geral e de tal modo o fez que, segundo afirma Silva Lima, “com o andar do tempo chegou, em extensão e trabalho, a proporções verdadeiramente assombrosas e nunca vista em nossa cidade”.
Bem cedo conquistou a estima e o respeito do povo e da classe médica, graças não somente à sua alta qualificação como também aos dotes pessoais de fino cavalheiro e de homem de letras.
A sua faina começava cedo, quase sempre pela alta madrugada. Ao cabo de duas horas, ou pouco menos, interrompia o exame dos doentes pobres e, depois de uma refeição ligeira, montava a cavalo e fazia suas visitas até as duas horas da tarde; depois de um jantar frugal saía outra vez, e voltava à casa à hora incerta da noite, e às vezes tão tarde e  tão fatigado que caia a dormir  vestido, em uma cadeira de descanso, durante as três ou quatro horas que lhe restavam para repouso.
Houve tempo em que foi obrigado a ocultar-se em outra casa, a alguma distância da sua, nas noites em que lhe era absolutamente necessário estudar ou dormir em liberdade.
Com Otto Wucherer e Silva Lima plantou as bases da Tropicologia Brasileira. Sua vida foi totalmente devotada à Medicina, dedicando-se de corpo e alma aos pacientes desfavorecidos. Daí  ser conhecido como o “médico dos pobres”.
Faleceu em 9 de dezembro de 1882.
O funeral do Dr.Paterson, no dia seguinte, foi mais importante que  a Bahia até então assistiu. Tornou-se um funeral público. O povo invadiu a igreja e apoderou-se à força do ataúde para o levar, à mão, até o cemitério. Apesar da interferência do Consul inglês e das demais autoridades presentes, o povo não desistiu do seu intento, alegando que aos pobres ninguém poderia impedir aquela prova de gratidão.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1.       Leite, Geraldo – Paterson, um século ! – Anais da Academia de Medicina da Bahia, Volume 5, julho 1983. Salvador, 1983.
2.       Retirada do Dr. Paterson- Gazeta Médica da Bahia. Ano3, n. 07,Bahia, 15 de maio de 1869.

APÊNDICE I
A CHEGADA DE PATERSON À CIDADE DA BAHIA

Fonte: NOGUEIRA BRITO, ANTÔNIO CARLOS – História da Medicina,artigo 09



PATERSON


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“Na manhã de sexta-feira, 19 de agosto de 1842, arribou ao molhe-cais do porto da cidade da Bahia, o médico Dr. John Ligertwood Paterson ( *)
No dia seguinte, o moço inglês solicitou à polícia desta cidade o título de residência nesta capital. Assim está lavrado o documento: “Aos vinte dias do mês de Agosto de mil oitocentos e quarenta e dois anos, em presença do Desembargador Chefe de Polícia da Província, Antônio Simões da Silva compareceu nesta Secretaria de Polícia John L. Paterson, súbdito português natural digo inglês, natural da Inglaterra, idade vinte e dois anos, solteiro, idade vinte e dois anos, a de ser médico, veio para o mesmo fim, declarou residir na rua dos Barris casa rosa; e ter chegado a esta Cidade no dia dezenove do mês de agosto do ano corrente no navio inglês Broad Oak vindo de Liverpool. Apresentou  documento que ficou arquivado; obteve título de residência pelo prazo de um ano, e para cumprimento do exposto assinou o presente. Eu, Manoel Joaquim Garcia o escrevi”.

(*) John Ligertwood Paterson nasceu em 4 de setembro de 1820 no condado de Aberdeen, na Escócia, onde graduou-se em medicina no dia 28 de abril de 1841. Antes de chegar à cidade da Bahia, em 19 de agosto de 1942, exerceu a profissão de médico na capital da Paraíba. Na cidade da Bahia, falecerá em 9 de dezembro de 1882. Com Ottto Edeward Henry Wucherer, nascido na cidade do Porto em 7 de julho de 1820, filho de pai  alemão e mãe flamenga, e ao lado de José Francisco da Silva Lima, nascido em15 de janeiro de 1826, na aldeia de Vilarinho, em Portugal, serão os precursores da medicina experimental no Brasil, no âmbito das moléstias tropicais, na segunda metade do século XIX, formando a notável Escola Tropicalista da Bahia.


APÊNDICE II
UMA VIDA AGITADA
Fonte: LIMA, J. A. Silva. Dr. Paterson: Sua Vida e Sua Morte. Bahia. Imprensa Popular. 1886.

 *
“Até 1857, relata Silva Lima, o Dr. Paterson não tinha família. Vivendo só, consagrava seu tempo e sua atividade aos seus doentes e aos seus estudos, em proveito próprio e deles. Raríssimas vezes era visto na sociedade, mesmo nas dos seus compatriotas. Em público só era encontrado no trabalho, quase sempre a cavalo, de dia e de noite, a correr, ao sol e à chuva, em toda a parte, e a toda hora”.
Sua faina começava cedo, quase sempre pela alta madrugada.  “Depois de infalível banho frio de imersão começava a consulta matinal, quase sempre à luz do gás. Ao cabo de duas horas, ou pouco menos, interrompia o exame dos pacientes, pela maior parte de pobres, e despedia os restantes até o dia seguinte”. Prossegue Silva Lima: “Depois de uma refeição ligeira montava a cavalo, fazia as suas visitas até as  duas horas da tarde; depois de um jantar frugal saia outra vez, e voltava à casa à hora incerta da noite, e às vezes tão tarde e tão fatigado que caía a dormir vestido, em uma cadeira de descanso, durante as três ou quatro horas que lhe restavam para repouso. Não raro era interrompido por chamadas de urgência. Houve tempo em que ele se viu obrigado a ocultar-se em outra casa, a alguma distância da sua, nas noites em que lhe era absolutamente necessário estudar ou dormir em liberdade. Algumas vezes notavam os colegas nas conferências, que afrouxando um pouco a conversação, ou não tendo ele de falar, caíam-lhe as pálpebras, irresistivelmente vencidas por uma sonolência inoportuna”. Para atender atividade tão exaustiva e incomum, “era-lhe necessário ter prontos e à mão pelo menos três cavalos, para fazer as mudas necessárias ao serviço do dia e da noite”

APÊNDICE III
GAZETA MÉDICA DA BAHIA
(IBIDEM)

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Nos doze anos que se seguiram ao casamento, permaneceu Paterson nessa trepidante atividade, e a partir de 1865, instituiu amigáveis e interessantes palestras noturnas em que, duas vezes por mês, tomavam parte Wucherer, Antônio José Alves, Januário de Farias, Pires Caldas, José Francisco da Silva Lima, Pacífico Pereira, Silva Araújo, Almeida Couto, Hall, Santos Paiva, Vitorino Freire, Ludugero Ferreira, Maia Bitencourt e Almeida Marques. Nessas conversações periódicas eram apresentados “casos clínicos ocorrentes, exames microscópicos e oftalmológicos, inspeção de algum doente afetado de moléstia importante ou questões e novidades científicas concernentes à profissão ou de algum modo relacionadas com ela. Foi nestas palestras noturnas por diversas vezes interrompidas e recomeçadas, diz Silva Lima (LIMA, J. A. Silva. Dr. Paterson: Sua Vida e Sua Morte. Bahia. Imprensa Popular. 1886.), que apareceu e se fez por obra, em 1866, a idéia da publicação da nossa GAZETA MÈDICA, que tão bons serviços tem prestado à profissão e à literatura médica brasileira (opilação ou cansaço) e as suas relações com o Ancylostoma duodenale de Dubin, a hematoquilúria e a filaria aqui primeiro descoberta por Wucherer nas urinas quilosas e depois, independentemente, em 1872, nas Índias Orientais, acahada também  no sangue humano por Lewis, cujo representante adulto feminino foi alguns anos mais tarde, em 1876, encontrados por Bancroft, na Austrália. Foi ali, finalmente, que por muitas vezes veio à tela da discussão a singular moléstia que desafiava a sagacidade dos médicos da Bahia, e que se achou ser, idêntica ao beribéri indiano, descoberto há mais de dois séculos por Bontius, e se ventilaram muitas outras questões de interesse geral, ou particularmente utilizáveis em suas aplicações práticas à medicina ou à cirurgia” (Ibidem).
 
 
APÊNDICE  IV
A “GAZETA MÉDICA DA BAHIA”, FOI REALMENTE A PRIMEIRA PUBLICAÇÃO MÉDICA DO BRASIL?
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DA BAHIA
*
“Partindo da máxima do orador romano Cícero, o psiquiatra Gabriel Cedraz Neri e a bibliotecária Margarida Pinto Oliveira decidiram se dedicar, no final dos anos 80 (século XX), a um levantamento sobre as publicações científicas realizadas na Bahia.
Durante os cinco anos em que os pesquisadores fizeram o levantamento dos periódicos editados em mais de cem anos de história, muitos aspectos curiosos foram sendo descobertos. O primeiro desmente a versão de que a Gazeta Médica da Bahia teria sido a primeira revista científica do Brasil. Os estudos comprovaram que antes de 1866, mais especificamente em 1847, a primeira capital do país publicava uma revista muito similar (inclusive no título), denominada Gazeta Médica-Bahia, que sofreu diversas interrupções durante a sua existência (a revista aparece novamente em  1856, 1860 e 1861). Três anos mais tarde, surgiu também o Boletim de Saúde Pública, editado sob a responsabilidade dos alunos e professores da Faculdade de Medicina. A publicação era dominical e sua impressão era feira na Gráfica Epiphanio Pedrosa, localizada na cidade baixa.
Nesse mesmo período a população alfabetizada do Império podia se deleitar com as informações veiculadas, a cada quinzena, na revista Médico do Povo que, durante três anos, tratou exclusivamente da homeopatia. A publicação – rodada na tipografiade  M.J. Sepúlveda – tinha como editores os médicos Alexandre Moraes e João Vicente Martins (que era português). Para Neri, a descoberta desse periódico demonstra  a popularidade alcançada por uma área da medicina que ainda enfrenta  tanto preconceito. “Não deixa de ser emocionante encontrar referências sobre um aspecto  da área biomédica que ainda encontra tanto preconceito. A popularidade da especialidade e a sua aceitação desde o século XIX, sem sombra de dúvidas, abrem um espaço para a reflexão dos profissionais contemporâneos”, completa o médico. Assim como na Europa, as publicações científicas  proliferaram Bahia. A única diferença é que os periódicos locais não conseguiram uma existência longa.
Em 1866,surge a Gazeta Médica da Bahia. Editada inicialmente pelos médicos José Francisco da Silva Lima (português), Otto Wucherer (alemão), Jonh Paterson (escocez), e os fundadores da Escola Tropicalista da Bahia, Antônio Januário de Farias e Manuel Pires Caldas, a revista contava com enorme prestígio no país. Sua direção ficava a cargo do médico Virgílio Clímaco Pereira e suas primeiras impressões foram feitas na tipografia de João Gonçalves Tourinho.”


APÊNDICE V
GAZETA MÉDICA DA BAHIA(II)
(Extraído de Nogueira Brito, Antônio Carlos – Gazeta Médica da Bahia,2010;80:2(Mai-Jul):46)
*
“No ano de 1855, o imortal Pasteur, mostra ao mundo os organismos microbianos que estabelecem a fermentação do leite, gerado, destarte, a concepção dos microrganismos e o conceito da patogenia dos micróbios.
Portanto, reflete-se no Brasil, no alvor de 1866, com o nascimento da Gazeta Médica da Bahia, fundada a 10 de julho do dito ano, divulgação da boa nova das mais recentes descobertas e orientações da medicina. E esse novo método científico penetra na Faculdade de Medicina da Bahia do Terreiro de Jesus, e os apologistas dos ultrapassados sistemas carentes de fundamentos científicos da fisiologia hipotética se rendem aos estudos e pesquisas. A Gazeta Médica da Bahia divulga as novas e revolucionárias idéias médicas do século XIX, fundamentadas na ciência experimental, que tem como lídimos precursores três celebrados médicos, todos estrangeiros, Otto Edward Henry Wucherer (1820-1873), John Ligertwood Paterson e João Francisco da Silva Lima, que não pertenciam aos quadros docentes da Faculdade de Medicina da Bahia, e que semeiam por meio do sobredito prestigioso e primaz jornal médico do Brasil a fascinante e novel medicina científica, fundamentada na ciência experimental. Tais celebrados pesquisadores fazem parte da história da medicina dos trópicos, eminentemente experimental e são considerados como os iniciadores da primaz Escola Tropicalista da Bahia.”


APÊNDICE V
A MORTE DE PATERSON
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 Embora com a saúde abalada, não suspeitava o extraordinário médico quão próximo estava o seu fim.  A 9 de dezembro de 1882 viveu  Bahia um dia muito triste para a medicina. Silva Lima, em obra citada no Apêndice anterior, relata assim: “Depois de jantar cedo, como costumava sempre, e de algum descanso, montou à cavalo à tarde, nas melhores disposições, e foi visitar um doente na povoação da Barra, em frente ao farol. Era um caso grave que ele via desde algum tempo. O doente estava sentado na cama e o Dr. Paterson sentou-se também em uma cadeira, conversava sobre o estado de sua moléstia, e sobre a conferência, no dia 11, aquele a quem agora cabe o triste encargo de narrar com os atos da sua vida, o melancólico epílogo que a fechou para sempre. Neste ponto da conversação, o Dr. Paterson calou-se de repente. Imóvel, com o rosto voltado para uma janela que dava para o mar, fixou a vista sobre o sol poente por pouco mais de um minuto, e caiu súbito para o lado da cama, com a cabeça entre os travesseiros. Colhera-o a morte de surpresa no seu posto de honra, e no meio da quase divina tarefa de servir e socorrer a humanidade !
O Dr.Paterson morrera à grande distância de sua morada. Os habitantes da estrada da Vitória, que pela tarde o viram passar à cavalo, foram no começo da noite dolorosamente impressionados por um tristíssimo espetáculo. Ele passava outra vez para casa, mas inanimado, conduzido aos ombros de quatro homens, acompanhado por alguns poucos amigos, que pelo caminho iam sabendo da infausta nova. Atrás deste fúnebre cortejo ia a passo lento, o seu cavalo.
A notícia do triste acontecimento espalhou-se com grande rapidez, surpreendendo penosamente os amigos do falecido e toda a população. Foi imenso o concurso de pessoas de todas as classes que nessa noite foram informar-se do inesperado sucesso, que ecoara por toda a cidade com a repercussão de um grande desastre.
O funeral do Dr. Paterson, no dia seguinte, foi o mais importante que tem visto a Bahia há longos anos. Tornou-se um funeral público. Os ofícios foram celebrados na capela inglesa, do Campo Grande, que esta literalmente coberta pelo povo.
Assistiram à cerimônia grande número de compatriotas, colegas, professores da Faculdade de Medicina, amigos, clientes e outros cidadãos de todas as classes e nacionalidades. Ao terminarem os ofícios, e no momento em que sai o féretro da capela para ser depositado no carro mortuário, a multidão que estava hora precipitou-se de súbito para a porta, e apoderou-se à força do ataúde para o levar, à mão, até o cemitério, à ladeira da Barra. Apesar da intervenção do Cônsul inglês e de outras pessoas, o povo não desistiu do seu intento, alegando que aos pobres que perdiam no Dr. Paterson um amigo e um pai, ninguém teria a crueldade de impedir aquela homenagem de reconhecimento, a última e única que eles, como filhos e como pobres,  lhe podiam prestar”.

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