189- JOÃO DE SOUZA PONDÉ
GUERRA DE CANUDOS
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Nasceu em Itapicurú, no dia 2 de julho de 1874, sendo filho de Pedro Faustino de Souza Pondé e Olívia Batista Pondé.
Relata Antônio Loureiro de Souza que Severino Vieira, afirmava: “Conheci os pais do dr. Pondé. Dois santos. Os sertanejos visinhos, quando passavam em frente da casa da fazenda, descobriam-se como diante de um templo. Os filhos todos o continuaram. A árvore sagrada floresceu e se perpetrou em frutos de perfeição. Ele fez da ciência um apostolado de alturuísmo” (2).
Realizou os estudos iniciais em Salvador, no Seminário de Santa Tereza e no Liceu Baiano, ingressando na Faculdade de Medicina da Bahia, onde colou grau em 14 de dezembro de 1897.
Ainda como estudante de medicina, interrompeu o curso e seguiu para Canudos, a fim de participar da campanha contra Antônio Conselheiro.
Iniciou o exercício da profissão no interior de São Paulo, em Santa Cruz das Palmeiras. Algum tempo depois, se transferiu para a cidade de Madalena, no Rio de Janeiro.
Em seguida, retornou à Bahia, onde foi nomeado médico do Serviço de Profilaxia da Peste Bubônica, ocasião em que – na companhia de Afrânio Peixoto e Gonçalo Moniz—investigou, na cidade de Feira de Santana, a etiologia de uma epizootia murina ali reinante.
Trabalhou no Hospital de Isolamento, em Salvador e dirigiu o Laboratório o Laboratório Municipal de Análises Química e Bromatológica.
Dando início à carreira docente, concorreu ao título de professor livre de Higiene, com a tese “Estudo Químico das Águas Potáveis da Capital”.
Além de competente médico e higienista, era poeta e profundo conhecedor dos clássicos e filósofos.
Seus versos, diz Loureiro de Souza, “têm um sabor nitidamente parnasiano, sem perder, no entanto, um suave lirismo que o definia, ao lado do grande médico que foi, pesquisador honesto e cuidadoso, como um verdadeiro poeta, que a medicina absorveu” (Ibidem).
Disse Plínio Garcês de Sena, dirigindo-se ao Prof. Adriano de Azevedo Pondé: “Tiveste, ilustre Acadêmico, exemplo maior em vosso próprio pai, Dr. João Pondé, admirável figura de médico, mui justamente considerado dos melhores clínicos de sua época, tão grande era o seu conceito e tão impoluto era o seu nome no seio da comunidade baiana” (1).
Faleceu em 11 de setembro de 1934.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1. Garcês de Sena, Plínio – Adriano Pondé. Anais da Academia de Medicina da Bahia, Vol.1, abril 1978.
2. Loureiro de Souza, Antônio – Baianos Ilustres (1564-1925). Salvador, 1973.
APÊNDICE I
JOÃO PONDÉ E CANUDOS
(Extraído de Oleone Coelho Fontes- Euclides da Cunha e a Bahia. Ponto & Vírgula Publicações. Salvador, Ba., 2009)
GUERRA DE CANUDOS
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“João de Souza Pondé (1874-1934) morreu no desconhecimento da extensão de quanto contribuíra para o conhecimento dos estudos sobre Canudos. Graça a um seu achado, toda a história de Antônio Conselheiro e sua comunidade de jagunços e peregrinos assentados às margens o Vaza-Barris foi reestruturada e reformada.
Foi a segunda grande revelação depois de outubro de 1897. A primeira aconteceu de imediato ao fim das hostilidades nos sertões. A sociedade brasileira concluiu que os conselheiristas amotinados não representavam o mais ignoto perigo para a manutenção das instituições republicanas. Canudos fora um grande e lamentável equívoco. A segunda, uma releitura do caráter, personalidade, comportamento e sanidade mental de Antônio Conselheiro. E isso só veio acontecer a partir de 1974, quando Ataliba Nogueira tornou público o ensaio Antônio Conselheiro e Canudos: Revisão Histórica. A obra manuscrita de Antônio Conselheiro e que pertenceu a Euclides da Cunha, acrescida de cartas e apêndices sobre a economia e vida dos canudenses.
Os originais escritos ou ditados por Antônio Conselheiro foram trazidos de Canudos para Salvador graças à bisbilhotice do médico baiano João de Souza Pondé.
Antônio Conselheiro morreu no dia 22 de setembro de 1897, em decorrência de ferimento por estilhaço de granada e, posteriormente, de uma diarréia promovida por depressão diante da tragédia que fizera desmoronar seu projeto de continuar levando aos sertanejos pobres palavras de consolo e esperança.
O arraial caiu no dia 5 de outubro de 1897, e o rescaldo, demolido com explosões de dinamite, incinerado a fogo de muitos galões de querosene. Por pouco não mandaram salgar o chão sagrado, profanado pelo fervor republicano de destruição e em obediência a resolução presidencial para que não remanescessem pedras sobre pedras.
Por indicação do prisioneiro Antônio Beatinho, localizaram a sepultura do Peregrino. Fora enterrado no altar da Santíssima Trindade, junto a uma parede, no Santuário onde morou, quase pegado à Igreja Nova. Esta, inacabada, estava praticamente arrasada por muitos dos incontáveis projéteis contra ela lançados. Tais petardos, maciços e inteiriços, dotados de ponta de aço, haviam sido fabricados pela Casa da Moeda, no Rio de Janeiro, especialmente para serem utilizados pelo Exército contra as couraças dos navios de guerra da Marinha, durante a Revolta da Esquadra, em 1893. Em Canudos, disparados de doze canhões Krupp de 75 milimetros.
Os restos mortais de que3m em vida fora também chamado de Santo Antônio Aparecido, exumados na presença do alto comando e do corpo de saúde, forma conduzidos para a arruinada praça do arraial, identificados depois de submetidos a exame cadavérico.
O comandante da primeira coluna da quarta expedição, João da Silva Barbosa, veterano da guerra do Paraguai, pediu a Flávio de Barros para tirar fotos de corpo inteiro do outrora chefe da comunidade destruída. A foto é a única existente, excelente documento entregue pelo profissional baiano à posteridade.
Em seguida foi formada uma comissão para examinar o ilustre cadáver. Compuseram-na o major médico José Miranda Curio, os capitães médicos Alexandre da Silva Mourão e Gouveia Freire, o tenente médico Jacó Almeida de Souza Gaioso e o sextanista de Medicina João de Souza Pondé.
Pondé não só conhecera, mas também, adolescente, beijara a mão de Antônio Conselheiro, quando das jornadas do calejado cearense pela localidade baiana de Itapicuru.
Os observadores julgaram o defunto com sessenta ou cinqüenta e cinco anos. Conselheiro estava próximo de completar 68 invernos. Logo, era um homem bem conservado, ou as pessoas, nesse período, envelheciam prematuramente. Daí o equívoco do cálculo.
Coube ao médico Miranda Curio levar a cabo a decapitação cirúrgica do cadáver, colocar o crânio dentro de um receptáculo que continha cal. O recipiente foi mandado, por intermédio do doutorando João de Souza Pondé, para ser entregue nas mãos do médico Júlio Afrânio Peixoto. Este, por seu turno, passou-o ao destinatário, doutor e professor Raimundo Nina Rodrigues.
Nina Rodrigues e Antônio Pacífico Pereira, este o diretor, receberam a “relíquia”, no Laboratório de Medicina Legal da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus.
Oito anos mais tarde, em 1905,no dia 2 de março, a célebre instituição de ensino seria destruída pelo fogo, que também consumiu o crânio do imortal Antônio Vicente Mendes Maciel.
Nina Rodrigues, sabe-se, sob a inspiração do Congresso de Antropologia Criminal de Paris (1889), já havia feito as análises antropométricas de segmentos cefálicos de dois famigerados bandoleiros: o norte-rio-grandense Jesuíno Alves de Melo Calado, o Jesuíno Brilhante e Lucas Evangelista, latrocida baiano conhecido como Lucas da Feira, além de certa quantidade de negros criminosos baianos.
Veredicto: O crânio de Antônio Conselheiro contrariava as teorias sustentadas por Césare Lombroso!
A cabeça foi cuidadosamente estudada com a assistência do preparador da cadeira de Nina Rodrigues, médico Eduardo de Sá Oliveira, e o laudo é um primor de concisão: “...O crânio de Antônio Conselheiro não apresentava nenhuma anomalia que denunciasse traço de degenerescência: é um crânio de mestiço onde se associam caracteres antropológicos de raças diferentes...
... É um crânio dolicocéfalo e mesorrino, quase sem dentes e com notável atrofia das arcadas alveolares. É, pois, um crânio normal.”
Depois,, registrou-se a capacidade craniana: 1670 centímetros cúbicos, que corresponde ao peso encefálico de 1450 gramas. Não foram esquecidas dimensões outras da cabeça e da face.
Em razões finais, lê-se ainda no conciso informe científico:
“... Não podemos criticar os dados da antropologia criminal prendendo-nos preconcebidamente aos caracteres físicos, com a exclusão de uma sábia análise psicológica. É preciso, antes de tudo, fazer dos criminosos um estudo completo”.
Foi também João Pondé, como assinalamos, o portador de um manuscrito, por ele achado numa arca nas ruínas do arraial, de autoria do bondoso Peregrino".
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