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By Ferramentas Blog

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

107- EDGARD CERQUEIRA FALCÃO (EDGAR FALCÃO)

107- EDGARD CERQUEIRA FALCÃO
     (EDGARD FALCÃO)


"RELÍQUIAS DA BAHIA", DE EDGARD CERQUEIRA FALCÃO



                                                                                                                  *

Médico, diplomado pela Faculdade de Medicina da Bahia, no ano de 1925.
Aluno laureado com o Prêmio Professor Manoel Vitorino Pereira, com retrato no Panteon da Faculdade, foi agraciado com uma viagem de estudos à Europa.
Regressando do Velho Mundo, fixou residência em Santos,  Estado de São Paulo, onde exerceu, por vários anos, a clínica otorrinolaringológica.
Graças a sua competência, é considerado uma das maiores autoridades, em sua especialidade, no Brasil.
“Alto de espírito, forrado de sólida cultura humanística, de grande sensibilidade artística e científica, elaborou trabalhos que o recomendam à gratidão nacional, e o fez, sempre, com o maior rigor científico, a mais escrupulosa honestidade, o mais primoroso senso estético” (3)
Como fotógrafo amador, retratou as belezas do nosso país, publicando, dentre outras obras, “Brasil Pitoresco, Tradicional e Artístico”, “Encantos Tradicionais da Bahia”, “Relíquias da Terra do Ouro” e “Basílica do Senhor do Bom Jesus de Congonhas do Campo”.
Como historiador da medicina, publicou vários livros, sobretudo a respeito de Manoel Pirajá da Silva (“Manoel Pirajá da Silva, o Incontestável Descobridor do Schistosoma mansoni” e “Achegas”), provando que ao sábio baiano pertence a primazia da descoberta do referido trematóide.
Edgard Cerqueira estudou também, a vida e a obra de Gaspar Viana, e de outros cientistas brasileiros.
Sua vasta e valiosa bibliografia inclui, além dos livros anteriormente citados, obras famosas, tais como “Estudo crítico dos trabalhos de Marcgrave e Piso, sobre a História Natural do Brasil”. Este livro tem por base os desenhos originais dos dois naturalistas.
Outros estudos, igualmente notáveis, são os estudos que Edgard Cerqueira realizou, sobre Joham Gregor Aldembuck ( “Relação da conquista e perda da cidade do Salvador pelos holandeses, em 1624), Zacarias Wegener (“Zoobilion”), Gabriel Soares  de Souza (“Notícias do Brasil”), Bernardino Antônio Gomes ( “Plantas medicinais do Brasil”), Alexandre Rodrigues Ferreira (“Viagem Filosófica às capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá”), além de outros.
Médico e escritor notável, um dos maiores do Brasil, embora vivesse afastado de sua terra natal, nunca deixou de amar a Bahia e sua Faculdade de Medicina.
Morreu aos 82 anos de idade, cercado do carinho e da admiração de seus colegas e discípulos, hoje espalhados pela imensidão do Brasil.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1.     Benício dos Santos, Itazil – Vida e Obra de Pirajá da Silva (2a edição). Brasília, 2008.
2.     Cerqueira Falcão, Edgard – Pirajá da Silva, o Incontestável descobridor do Schistosa mansoni (2a. edição), Brasília, 2008.
3.     Sá Menezes, Jayme – Edgard de Cerqueira Falcão . Anais da Academia de Medicina da Bahia, volume VII, julho 1987.
4.     Tavares Neto, José – Formdos de 1812 a 2008 pela Faculdade de Medicina da Bahia. Feira de Santana, 2008.




                                        ANEXO I
                                         
                                            
                           

           O AVÔ DE EDGARD CERQUEIRA FALCÃO


Palestra proferida na Academia de Medicina da Bahia

Geraldo Leite

No livro comemorativo do cinqüentenário da descoberta da cura das leishmanioses por GASPAR VIANA, EDGARD DE CERQUEIRA FALCÃO relatou o seguinte: "desde os bancos acadêmicos na gloriosa Faculdade de Medicina da Bahia, habituara-me a ouvir dos meus mestres, particularmente do Prof. Pirajá da Silva, os mais encomiásticos louvores aos excelsos predicados do inditoso pesquisador, tão cedo roubado ao círculo dos vivos. E ficara indelevelmente gravada em meu cérebro infantil impressionante cena que jamais se esmaeceu e sempre tenho presente diante dos olhos. Foi por volta dos fins de 1911 começos de 1912. GASPAR VIANA não havia ainda lançado sua formidável descoberta. O botão de Brotas (denominação aplicada na Bahia às formas proliferativas da leishmaniose cutânea, constituía molestia infectuosa cujo mecanismo de transmissão se desconhecia então por completo, apesar de se lhe haver esclarecido a etiologia (PIRAJÁ DA SILVA identificara-o, à luz do microscópio, ao famigerado botão do Oriente, nele demonstrando a presença da Leishmania tropica, em 1910). Temia-se o contágio direto de maneira assustadora. Meu avô materno, antigo morador do maior foco da doença na capital da Bahia, o distrito de Brotas, pagava-lhe tributo de forma muito dolorosa. O formigueiro (termo popular empregado outrora na Bahia para designar determinadas feridas da pele, de evolução prolongada, cuja cicatrização se acompanhava do aparecimento de graves e horríveis lesões em certas partes do corpo) que lhe surgira numa das pernas desaparecera, cedendo lugar a devastadoras lesões das mucosas aero­digesticas. Dia a dia seu estado físico decaia. Uma de suas últimas visitas à nossa casa paterna assinalou-se por certo espetáculo que traduz eloqüentemente o pavor atrás referido. Estava a brincar (tinha então 8 anos incompletos) nas vizinhanças de nossa residência quando avistei a figura austera do meu avô, que para se dirigia. Corri-lhe pressuroso ao encontro para tomar a bênção. Num gesto instintivo, evitou-me o contacto, receioso de contaminar-me. Ao mesmo tempo para agradar-me, chamou um vendedor de balas que se encontrava nas proximidades e mandou que escolhesse uma cestinha delas. De posse do presente, corri para casa, antecipando-me à chegada dele. Ao cruzar com meu pai, tive de lhe explicar a origem daquela dádiva, que era para mim do maior agrado. Incontinente, arrebatou-me meu genitor a cestinha em questão e tratou de atirá-la fora. Não houve explicações de minha parte que o dissuadissem de não ter existido o menor contacto do meu avô com o saquinho de balas. Fiquei a chorar num canto, sem compreender que aquela violência representava excesso de zêlo paterno, temeroso do contágio da leishmaniose".

"GASPAR VIANA, alguns meses depois dessa ocorrência, anunciava os primeiros excelentes resultados colhidos com o emprego do tártaro emético estibiado nos casos da horripilante doença. Muitos dos nossos conhecidos, companheiros de desdita do meu avô, vieram a se proteger da enfermidade, graças á ação benfazeja do novo método proposto. E a minha família lamentava apenas que o nosso entre querido não houvesse sobrevivido um pouco mais (seu falecimento ocorreu a 23 de junho de 1912) a fim de beneficiar-se da terapêutica salvadora".
E continua EDGAR CERQUEIRA FALCÃO: "Estereotipados em minha retentiva, desde que me entendi, os horrores que a leishmaniose representava para o gênero humano, antes da era gaspariana, passei a encarar esse benfeitor magno da humanidade nimbado por luminoso halo de taumaturgo. Mais tarde, agigantou-se minha admiração por ele, ao tomar ciência da extensão de benefícios que a sua genial intuição levara aos sofredores de outras paragens, a vitória sobre o Kala-azar indiano ultrapassou o limite dessa admiração, tocando às raias da veneração".

Não obstante o progresso alcançado, o caráter mutilante da forma mucosa provoca, ainda hoje, alterações no relacionamento social. Para medir o nível de tais alterações, TINOCO e Cols. (1990) estudaram a reação psicológica dos moradores aos doentes de leishmaniose na região endêmica do sul da Bahia. Os AA. identificaram diversas crenças falhas e um nível de rejeição bastante forte que admitiu a existência de relação entre o medo do contágio e a atitude de rejeição.

As mutilações causadas pela doença, sobretudo na sua forma mucosa, provocam deformações faciais suficientemente graves, a ponto de determinarem alterações no relacionamento do indivíduo com a família e a sociedade.
O nível de rejeição ao doente portador de leishmaniose tegumentar com úlcera no nariz foi, na região do sul da Bahia, segundo os AA. supracitados, a seguinte:

a)           "Acho que é uma coisa feia mas não sinto repulsa" {43%)

b)           "Evito olhar e chegar perto mas não sinto repulsa" (13%)

c)            "Sinto repulsa e evito demonstrar isso à pessoa" {30°/a)

d)           "Sinto repulsa e não demonstro isso com gestos e ações ( 1 %)

e)            "Sinto repulsa e demonstro isso com gestos e ações " (13%)

                                                          *
                                                         
Foram ouvidos 98 moradores, durante os meses de junho a outubro de 1987.

COSTA e Cols., na mesma época, selecionaram 15 pacientes portadores de leishmaniose cutâneo - mucosa, forma grave, e buscaram , através de entrevista psicológica, conhecer aspectos, da vida de cada um, antes de contrair a doença, no decorrer e após o tratamento: Concomitantemente, realizaram 25 entrevistas com a comunidade onde residem os pacientes, com a intenção de avaliar as reações da mesma ao doente com leishmaniose. Constataram entre os pacientes entrevistados que 73,3% deles sentiam-se marginalizados; 60% sentiram-se afastados do convívio social e 66% tiveram dificuldade de retornar ao trabalho.

Vemos assim que hoje, decorrido quase um século da grande descoberta de Gaspar Viana, os problemas psico-sociais da leishmaniose tegumentar americana são ainda muito graves e afetam  expressiva parte da população.


3 comentários:

  1. Entrei nesta página com muita curiosidade de descobrir algum descendente de dr.Edgard de Cerqueira Falcão. Estou terminando um livro da vida e obras do escultor PEDRO FERREIRA, grande amigo de Dr.Edgard.Tenho do artista, livros com dedicatória do médico.Caso desejem posso contribuir com informações.
    Na minha pesquisa encontrei uma carta de Dr. Edgard para Pedro Ferreira dizendo que estaria se mudando para a casa nova, à rua General Rondon nº17 Santos.Diz ainda que a escultura que lhe foi oferecida, estaria colocando no salão principal da sua biblioteca.Gostaria de saber se a família de dr.Edgard permanece no referido endereço ou se há alguma pista em que possa localiza-los para entrevista.Aguardo informações e desde já agradeço
    Maria Lucila Ferreira de Pinho

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  2. Participei de uma mudança e achei uma rotogravura monocramada da obra "Relíquias da Bahia" com a descrição do próprio Edgard Falcão e sua assinatura se tiver interesse, envie-me um e-mail: f.amorim@dasa.com.br.

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  3. Estimado amigo,

    Acolhi com muito atençao seu comentário sobre Edgard Falcão
    em MÉDICOS ILUSTRES DA BAHIA E SERGIPE.
    São informações resumidas, em torno de 500 palavras, pois o acervo
    é de cerca de 800 médicos.
    Realmente, tenho interesse em sua colaboração.
    Atenciosamente,
    ,
    Geraldo Leite
    P.;s.- ;tenteu usar seu e-mail obtendo resposta "e-mail inválido".

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