123- ESTÁCIO LUIZ VALENTE DE LIMA
(ESTÁCIO DE LIMA)
PROF. ESTÁCIO DE LIMA
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Nasceu em 11 de junho de 1897, na cidade de Marechal Deodoro, Alagoas. Seus pais foram Luiz Monteiro de Amorim Lima e Maria de Jesus Valente.
Fez os estudos primários em sua cidade natal e realizou o curso secundário em Recife.
Em 8 de fevereiro de 1916, chegou em Salvador.
Aprovado no concurso vestibular, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, colando o grau de doutor em Medicina, no ano de 1921.
Ainda estudante, foi nomeado Interno do Hospital de Isolamento, cujo diretor era o Prof. Couto Maia. Na mesma condição de estudante, foi Interno de Clínica Médica, cujo titular era o Professor Prado Valadares.
Formado, voltou à Alagoas, onde, no exercício da clínica particular, obteve o recurso necessário para realizar viagem de estudos na Europa.
Em Berlim, freqüentou o Serviço de Tanatologia Forense, do Professor Max Koch e o Serviço do Professor Fritz Munch.
Depois, em Strasburgo, estagiou com o Professor Balthazard, do Instituto de Medicina Legal.
Assim preparado, e com vinte e seis anos de idade, retornou a Salvador e concorreu à cátedra de Medicina Legal. Após memorável concurso de títulos e provas, foi aprovado em primeiro lugar. Ficou aguardando sua nomeação, durante longos meses.
Após inexplicável demora, foi nomeado, tornando-se o catedrático mais jovem da Faculdade de Medicina, em toda a existência da instituição.
Em 1929, construiu, e inaugurou, o laboratório de Criminologia Afrânio Peixoto, no Instituto Nina Rodrigues.
Publicou, no período de 1932 a 1934, “Perícia da Paternidade” e “A inversão dos Sexos”, obras de grande repercussão em todo o país.
Em 1937, por razões de ordem política, deixou a direção do Instituto Nina Rodrigues e solicitou licença para se afastar da cátedra, por algum tempo.
Viajou para o Velho Mundo. Em Paris, trabalhou no Hospital de la Pietá. Em Berlim, visitou o Serviços de Medicina Legal, na qualidade de professor visitante. Fez o mesmo em Lyon e Viena. Voltou a Paris, onde trabalhou com o Professor Kohn-Abrest, grande conhecedor de Toxologia.
Regressou ao Brasil em 1939, e reassumiu a cátedra e a direção do Instituto Nina Rodrigues.
Foi nomeado membro do Conselho Penitenciário, assim permanecendo durante quatro décadas.
Em 1951-1952, publicou duas obras notáveis: “Perícias e Pareceres” e “Ensaios de Sexologia”.
Em 1953, tornou-se, por concurso, Professor catedrático de Medicina Legal, da Faculdade de Direito da UFBa.
Em 1956, promoveu e presidiu o Primeiro Congresso Brasileiro de Medicina Legal.
Na mesma época, assumiu a cadeira de Medicina Legal e Deontologia, na Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública.
Diplomado em Odontologia, conquistou, por concurso, a cátedra de Odontologia Legal.
Em 1966, realizou viagem de estudos na África, onde visitou vários paises.
Em seguida voltou à Europa, visitando os Serviços de Medicina Legal de Roma, Lyon, Paris, Amsterdã e Haia.
O grande antropólogo, etnólogo, sociólogo e penalista, professor admirável, faleceu em Salvador, no dia 29 de maio de 1984.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1. Benício dos Santos, Itazil – Itinerários de Idéias e Compromissos. Salva
dor, 1987.
2. Deus e o Diabo na Terra de Lampião – Disponível em http://spbancarios.
com.br/rb79/rb6.htm. Acesso em 6 de fevereiro de 2009.
3. Estácio Valente de Lima – Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Es
t%C3%Alcio_de_Lima. Acesso em 6 de fevereiro de 2009.
4. Medeiro Pacheco, Maria Theresa – A Medicina Legal na Bahia, Início e
Evolução do Ensino. Gazeta Médica da Bahia, 2007, julho-dezembro.
5. Nogueira Brito, Antônio Carlos – A Medicina Baiana nas Brunas do Pass
ado. Salvador, 2002.
6. Sá Menezes, Jayme de – Palavras de Ontem e de Hoje. Salvador, 1993.
7, Tavares Neto, José – Formados de 1812 a 2008 pela Faculdade de Medic
ina da Bahia. Salvador, 2008.
APÊNDICE I
“O DIA EM QUE O MOÇO ESTÁCIO DE LIMA CHEGOU À SALVADOR PARA ESTUDAR MEDICINA”
(Extraído de Nogueira Britto, Antonio Carlos - A Medicina Baiana nas Brumas do Passado. Salvador, 2002)
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“Amanhecer na quinta-feira, 3 de fevereiro de 1916.
Estava demandando à barra da Baia de Todos os Santos, em mar Glauco, o provecto e afadigado vapor nacional “Bahia”, do “Loyde Brasileiro”, procedente de Manaus, “com escala por Pará, Maranhão, Ceará, Natal, Cabedelo, Pernambuco e Maceió”.
O experimentado “lúpus maritimus!, que timonava o paquete deu uma ordem para a máquina e o ofego dos êmbolos tornou-se menor e o ruído dos motores amorteceu. A fragrância que exalava do hálito do mar impregnava o navio.
A madrugada dealbara de uma pureza acrisolada e uma claridade de encantadora formosura alumiava o céu azul-ferrete, sem nuvens para embuçá-lo, dourando toda a paisagem da entrada da barra, dissipando as brumas matinais e desnudando as formas da elegante e mimosa cidade da Bahia.
O vapor-escape do paquete silvou longamente e, mais tarde, o bater da hélice cessou e um grosso calibre foi atado ao molhe. Uma aragem fria, da balsâmica viração da manhã, cortou e perpassou a face dos viajores, que anelavam pelo momento de saltar em terra, porquanto alguns, fracos e descorados, esverdinhados do rosto, padeciam de estuação pelo marulho.
Os viageiros, errando pela toda, de lês a lês,, num bulício de gente, abraçavam-se, apertavam-se as mãos e beijos chilreados de despedida eram trocados.
A seria de bordo berrou e, no portaló, foi arriada a ponte passadiça pelos mareantes.
A amaragem do paquete “Bahia” foi feita sem tardança, pois, naquela manhã gloriosa e consoladora, não havia outros navios vindos do
Sul e do Norte, atopetados de gente a ser posta em terra. Apenas algumas sumacas e alvarengas faziam companhia ao velho “Bahia”, que iria levantar ferro, depois da demora necessária, para Vitória e Rio de Janeiro, tão logo recebesse a carga e passageiros de primeira, segunda e terceira classes.
Sul e do Norte, atopetados de gente a ser posta em terra. Apenas algumas sumacas e alvarengas faziam companhia ao velho “Bahia”, que iria levantar ferro, depois da demora necessária, para Vitória e Rio de Janeiro, tão logo recebesse a carga e passageiros de primeira, segunda e terceira classes.
Os viajantes desceram a escada do portaló e formaram uma fila, algaraviada, de prendadas senhoras e senhorinhas, com caixas de chapéus e de homens e rapazitos, com malas nas mãos, notando-se alguns cavalheiros, elegantes no trajar, verdadeiros “dandies”, empunhando badines.
Saltaram em terra 63 passageiros, incluindo 20 militares de um contigente do exército, além de 4 infantes.
Do Pará, desembarcaram 31 viajantes; 14 do Maranhão; 6 de Pernambuco e 12 de Alagoas.
Em fila, os passageiros se encaminhavam em direção ao “Commissariado de Polícia do Porto”, e foram atendidos por pachorrento amanuense que, dispersivo, assuntava as passagens e mais papéis.
Chamado pelo amanuense, à sua frente, carregando as roupas emaladas, postava-se um pulcro e galhardo mancebo, de média estatura, airosamente aprumado, de enérgico ânimo juvenil, esbelto de corpo, vigoroso e dotado de maneiras resolutas e fidalgas, irradiando a graça de máscula juventude.
Sua harmoniosa cabeça apolínea era coifada por sedoso cabelame castanho claro. Fronte serena, olhos pardos e cismadores, animados por vivo olhar, penetrante e franco. Nariz plasticamente proporcionado e estético. Lábios finos e bem delineados, onde se debuxava a sombra de um buçozinho. Dos seus lábios, tinha-se a impressão de que nunca se apagaria o fulgor de tênue sorriso.
O amanuense molhou a pena e começou a escrevinhar na página 125-v: “ESTÁCIO VALENTE LIMA” e assinalou na coluna correspondente à nacionalidade: “brasileira” e marcou no espaço referente à procedência: “Maceió”. Ao depois, pousou um pedaço de papel mata-borrão sobre as anotações.
Omitiu o funcionário escrevente, como, de resto, o fizera com o assentamento dos demais passageiros, a averbação, nas colunas respectivas do grande e volumoso livro, dos dados referentes à idade, estado civil e profissão.
Findo o seu registro de entrada, o rapaz Estácio Luiz Valente de Lima, natural de Alagoas, nascido a 11 de junho de 1897, filho do desembargador Luiz Monteiro de Amorim Lima e da virtuosa senhora D. Maria de Jesus Valente de Lima, começou, na pujança dos seus 18 anos, a despedir-se dos companheiros de viagem, vindos de Maceió...”
APÊNDICE II
AS CABEÇAS DE BANDIDOS FAMOSOS
JUCÁ, FELIPE- RECANTO DAS LETRAS, EDIÇÃO DE 15/07/2006. SÃO PAULO, 2006
"LAMPIÃO"
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"Durante vinte e tantos anos, as cabeças de Lampião e de Maria Bonita estiveram expostas no Museu Etnológico e Antropológico Nina Rodrigues, em Salvador. O saudoso Professor Estácio de Lima, seu fundador e diretor até a morte, dizia que elas haviam chegado ao Nina pelas mãos do médico alagoano Lajes Filho, Catedrático de Medicina-Legal, em Maceió.
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O Mestre Estácio, meu inexcedível professor de Medicina-Legal, era um entusiasmado pesquisador da vida dos cabras de Lampião. Com o fim do cangaço, na década de 30, e a conseqüente debandada dos homens de Virgulino Ferreira, Estácio de Lima, num trabalho pioneiro, recuperou vários bandidos, transformando-os em cidadãos de bem; entre eles, o cangaceiro Labareda, que conheci pessoalmente.
Um dia, a pedido dos familiares dos cangaceiros, o Poder Judiciário da Bahia determinou o sepultamento das cabeças, sem exceção. As autoridades, cumprindo a ordem judicial, deram-lhes covas rasas, porem dignas."
APÊNDICE III
OS ORIXÁS DA BAHIA
(EXTRAÍDO DE VERGER, PIERRE FATUMBI – ORIXÁS, DEUSES IORUBÁS NA ÁFRICA E NO NOVO MUNDO. SALVADOR, 1981)
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EXU
“No Brasil, como em Cuba, Exu foi sincretizado como o Diabo. Não inspira, porém, grande terror, pois sabe-se que, quando tratado convenientemente, ele trabalha para o bem, quer dizer, pode ser enviado para fazer mal às pessoas más ou àquelas que nos prejudicam ou, ainda, àquelas que nos causam ressentimentos.
Chamam-no, familiarmente, o “Compadre” ou o “Homem das Encruzilhadas”, pois é nesses lugares que se depositam, de preferência que lhe são destinadas.
O arquétipo de Exu é muito comum em nossa sociedade, onde proliferam pessoas com caráter ambivalente, ao mesmo tempo boas e más, porém com inclinação para a maldade, o desatino, a obscenidade, a depravação e a corrupção”.
OGUM
“ Ogum, no Brasil, é conhecido sobretudo como deus dos guerreiros. Perdeu sua posição de protetor dos agricultores, pois os escravos, nos séculos anteriores, não possuíam interesse pessoal na abundância e na qualidade das colheitas e, sendo assim, não procuravam sua proteção neste domínio. Como deus dos caçadores, Ogum foi substituído por Oxóssi, trazido à Bahia pelos africanos de Kêto, fundadores dos primeiros candomblés desta cidade.
Na Bahia, Ogum foi sincretizado como Santo Antônio de Pádua.
As pessoas consagradas a Ogum usam colares de contas de vidro azul-escuro e, algumas vezes, verde. Terça Feira é o dia da semana que lhe é consagrado.
A segunda-feira é o dia consagrado a ele. As pessoas que procuram a sua proteção usam colares de contas pretas e vermelhas.
O arquétipo de Ogum é o das pessoas violentas, briguentas e impulsivas, incapazes de perdoarem as ofensas de que foram vítimas”
OXÓSSI
“O culto de Oxóssi encontra-se quase extinto na África mas bastante difundido no Brasil. Na Bahia, chega-se mesmo da dizer que ele foi rei de Kêto, onde outrora era cultuado.
Seus numerosos iniciados usam colares de contas azul-esverdeadas e quinta feira é o dia da semana que lhe é consagrado.
Oxóssi é sincretizado na Bahia com São Jorge e com são Sebastião no Rio de Janeiro.
O arquétipo de Oxóssi é o das pessoas espertas, rápidas, sempre alerta e em movimento. São pessoas cheias de iniciativas e sempre em vias de novas descobertas ou de novas atividades. Têm senso de responsabilidade e dos cuidados para com a família. São generosas, hospitaleiras e amigas da ordem, mas gostam muito de mudar de residência e achar novos meios de existência em detrimento, algumas vezes, de uma vida doméstica harmoniosa e calma”.
OSSAIN
“No Brasil, as pessoas dedicadas a Ossain usam colares de contas verdes e brancas. Sábado é o dia consagrado a ele e as oferendas que lhe são feitas compõem-se de bodes, galos e pombos. É o deus das folhas e das ervas”
XANGÔ
“O culto de Xangô é mito popular na Bahia. Seus fiéis usam colares de contas vermelhas e brancas, como na África. Quarta-feira é o dia da semana consagrado a ele.
Foi sincretizado como São Jerônimo.
O arquétipo de Xangô é aquele das pessoas voluntariosas e enérgicas, altivas e conscientes de sua importância real ou suposta. São que podem ser grandes senhores, corteses, mas que não toleram a menor contradição, e, nesses casos, deixam-se possuir por crises de cólera, violentas e incontroláveis”.
OIÁ-OIANSÃ
“As pessoas dedicadas a Iansã, nome sob o qual ela é mais conhecida no Brasil, usam colares de contas de vidro grená. A quarta-feira é o dia da semana consagrada a ela, o mesmo dia de Xangô, seu marido.
No Brasil, Oiá é sincretizada com Santa Bárbara.
O arquétipo de Oiá-Iansã é o das mulheres audaciosas, poderosas e autoritárias. Mulheres que podem ser fiéis e de lealdade absoluta em certas circunstâncias, mas que, em outros momentos, quando contrariadas em seus projetos e empreendimentos, deixam-se levar a manifestações da mais extrema cólera. Mulheres, enfim, cujo temperamento sensual e voluptuoso pode levá-las a aventuras amorosas extraconjugais múltiplas e freqüentes, sem reserva nem decência, o que não as impede de continuarem muito ciumentas dos seus maridos, por elas mesmas enganados”.
OXUM
“No Brasil, os adeptos de Oxum usam colares de contas de vidro de cor amarelo-ouro e numerosos braceletes de latão. O dia da semana consagrado a ela é o sábado.
Na Bahia, ela é sincretizada com Nossa Senhora das Candeias.
O arquétipo de Oxum é o das mulheres graciosas e elegantes, com paixão pelas jóias, perfumes e vestimentas caras. Das mulheres que são símbolos do charme e da beleza. Voluptuosas e sensuais, porém mais reservadas que Oiá. Elas evitam chocar a opinião pública, à qual dão grande importância. Sob sua aparência graciosa e sedutora escondem uma vontade muito forte e um grande desejo de ascensão social”.
OBÁ
“No Brasil, assim que Obá aparece num candomblé manifestada em uma de sua iniciadas, ata-se um turbante em sua cabeça a fim de esconder uma de suas orelhas, como recordação da lenda já narrada. Se Oxum manifesta-se no momento, a tradição exige que as duas divindades encarnadas procurem lutar novamente e é preciso, então, intervir energicamente para separá-las.
Ela é sincretizada com Santa Catarina.
O arquétipo de |Obá é o das mulheres valorosas e incompreendidas. Suas tendências um pouco viris fazem-nas freqüentemente voltar-se para o feminismo ativo. As duas atitudes militantes e agressivas são conseqüências de experiências infelizes ou amargas por elas vividas. Os seus insucessos devem-se, freqüentemente, a um ciúme um tanto mórbido”.
IEMANJÁ
“Iemanjá é uma divindade muito popular no Brasil. Seu axé é assentado sobre pedras marinhas e conchas, guardadas numa porcelana azul. O sábado é o dia da semana que lhe é consagrado, juntamente com outras divindades femininas. Seus adeptos usam colares de contas de vidro transparentes e vestem-se, de preferência, de azul-claro.
No Brasil, Iemanjá é sincretizada com Nossa Senhora da Imaculada Conceição, festejada no dia 8 de dezembro. Ela é mais ligada às águas salgadas, porém, as pessoas fazem abstração, na Bahia, do sincretismo que liga Oxum a Nossa Senhora das Candeias, festejada no dia 2 de fevereiro, pois é nesta data que se organiza um solene presente para Iemanjá. Isso mostra que o sincretismo entre os deuses africanos e os santos da Igreja Católica não é de uma rigidez e de um rigor absolutos.
Tomamos emprestada a descrição do arquétipo de Iemanjá a Lydia Cabrera, sua filha, certamente a mais competente de todas aquelas que nos foi dado o prazer de conhecer: “As filhas de Iemanjá são voluntariosas, fortes, rigorosas, protetoras, altivas e, algumas vezes, impetuosas e arrogantes; têm o sentido da hierarquia, fazem-se respeitar e são justas mas formais; põem à prova as amizades que lhes são devotadas, custam muito a perdoar uma ofensa e, se a perdoam, não a esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são maternais e sérias. Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam do luxo, das fazendas azuis e vistosas, das jóias caras. Elas têm tendência à vida suntuosa mesmo se as possibilidades do cotidiano não lhes permitem um tal fausto”.
OXUMARÉ
“No Brasil, as pessoas dedicadas a Oxumaré usam colares de contas de vidro amarelas e verdes; a terça-feira é o dia da semana consagrado a ele.
Na Bahia, Oxjumaré é sincronizado com São Bartolomeu. Seus fiéis se encontram no dia 24 de agosto, a fim de se banharem numa cascata coberta por uma neblina úmida, onde o sol faz brilhar, permanentemente, o arco-íres de Oxumaré.
Oxumaré é o arquétipo das pessoas que desejam ser ricas; das pessoas pacientes e perseverantes nos seus empreendimentos e que não medem sacrifícios para atingir seus objetivos. Suas tendência à duplicidade podem ser atribuídas à natureza andrógina de seu deus. Com o sucesso tornam-se facilmente orgulhosas e pomposas e gostam de demonstrar sua grandeza recente. Não deixam de possuir certa generosidade e não se negam a estender a mão em socorro àqueles que dela necessitam”.
OBALUAÊ
“Na Bahia, é sincretizado com São Lázaro e São Roque e com São Sebastião no Recife e Rio de Janeiro.
As pessoas que lhe são consagradas usam dois tipos de colares: o lagidiba, feito de pequenos discos pretos enfiados, ou o colar de contas marrons com listas pretas.
Segunda-feira é o dia da semana consagrado a ele. Nesse dia, o chão do adro da Igreja de São Lázaro, na Bahia, é coberto de pipocas para que as possam em seus próprios corpos para se preservarem de possíveis doenças contagiosas, associando, assim, numa mesma manifestação, a sua fé à força do deus africano e do santo católico.
O arquétipo de Obaluaê é o das pessoas com tendências masoquistas, que gostam de exibir seus sofrimentos e as tristezas das quais tiram uma satisfação íntima. Pessoas que são incapazes de se sentirem satisfeitas quando a vida lhes corre tranqüila. Podem atingir situações materiais invejáveis e rejeitar, um belo dia, todas essas vantagens por causa de certos escrúpulos imaginários. Pessoas que em certos casos senteem-se capazes de se consagrar ao bem-estar dos outros, fazendo completa abstração de seus próprios interesses e necessidades vitais”.
NANÃ BURUKU
“É sincretizada com Sant´Ana, no Brasil. Os colares de contas de vidro, usados por aqueles que lhe são consagrados, são na cor branca com listas azuis. Segundo uns, o seu dia é a segunda-feira; segundo outros, é o sábado.
É considerada a mais antiga das divindades das águas, não das ondas turbulentas do mar, como Iemanjá, ou das águas calmas dos rios, domínio de Oxum, mas das águas paradas dos lagos e lamacentas dos pântanos.
Nanã Buruku é o arquétipo das pessoas que agem com calma, benevolência, dignidade e gentileza. Das pessoas lentas no cumprimento de seus trabalhos e que julgam ter a eternidade à sua frente para acabar seus afazeres. Elas gostam das crianças e educam-nas, talvez, com excesso de doçura e mansidão, pois têm tendência a se comportarem com a indulgência dos avós. Agem com segurança e majestade. Suas reações bem-equilibradas e a pertinência de suas decisões mantêm-nas sempre no caminho da sabedoria e da justiça”.
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