English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified
By Ferramentas Blog

domingo, 30 de janeiro de 2011

133- FRANCISCA PRAGUER FRÓES (FRANCISCA BARRETTO PRAGUER)

133- FRANCISCA PRAGUER FROES
(FRANCISCA BARRETTO PRAGUER)


FRANCISCA PRAGUER FRÓES



*

Nasceu em 21 de outubro de 1872, na cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano, sendo seu pais  Henrique Práguer (imigrante croata) e Francisca Rosa Barreto Práguer.
Teve primorosa educação e demonstrou, desde criança inteligência privilegiada.
Vencendo o preconceito da época, segundo o qual era vedado às mulheres o exercício da medicina, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, colando o grau de doutora em Medicina, no ano de 1893.
Dentre seus colegas de turma destacamos Gonçalo Moniz Sodré de Aragão e  João Gonçalves Martins, futuros professores da Faculdade.
Para conseguir seu intento, lutou contra a objeção da família, a qual argumentava que a “Medicina é profissão de homem, e não de mulher”.
Efetivamente, a primeira médica do Brasil foi Rita Lobato Velho Lopes, gaúcha, diplomada pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1887.
A Faculdade de Medicina da Bahia, no período de 1888 a 1893, diplomou mais três médicas: Amélia Pedrosa Benebien (cearense),1890; Efigênia Veiga (baiana), em 1890 e  Glafira Correia de Araújo (baiana), 1892.
Francisca Práguer Fróes foi a quinta médica formada pela tradicional casa de ensino, primaz do Brasil.
Ainda estudante, em 1892, foi interna da enfermaria de partos, na Santa Casa de Misericórdia.
Diplomada, exerceu a clínica obstétrica, na Maternidade Climério de Oliveira.
Casou-se com João Américo Garcês Fróes, também médico diplomado na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1895. O Dr. Garcês Fróes conquistou, por concurso, anos depois, a cátedra de Clínica Médica e criou a cadeira de Doenças Infecciosas e Parasitárias.
Uma vez casada, Francisca Práguer Fróes, além de exercer a especialidade obstétrica, iniciou  a luta contra as limitações impostas às mulheres..
Foi a primeira mulher, na Bahia, a dirigir um Serviço de Obstetrícia.
Redatora da Gazeta Médica da Bahia, publicou vários artigos científicos, abordando temas como o parto, a gravidez assistida e as doenças sexualmente transmitidas.
Em 1895, com vinte e três anos de idade, apresentou à Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia, um trabalho fundamentado em sua própria experiência: “Observação de um caso de gravidez extra-uterina abdominal”.
A partir de 1903, começou a defender, publicamente, a emancipação feminina. Naquele ano publicou, na Gazeta Médica da Bahia, um artigo, verdadeiro libelo contra o  preconceito, exigindo que as mulheres tivessem o mesmo direito dos homens, nas Faculdades de Medicina.
Sua luta em favor do feminismo repercutiu em todo o estado, bem como no restante do país.
Nos idos de 1917, defendeu o divórcio, publicando um artigo altamente polêmico.
Ao longo de trinta anos, não mediu esforços no sentido de romper os códigos hegemônicos, e convencer o Brasil sobre a necessidade de emancipar a mulher.
Em 1931, foi eleita presidente da União Universitária Feminina, e colaborou intensamente com a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino.
Médica e líder feminista, ganhou fama nacional, sendo citada em todos os rincões do país.
Faleceu em 1931, quando participava do Segundo Congresso Internacional Feminista.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1.  Francisca Práguer Fróes . Disponível em http: //pt.wikipedia.org/wiki/Fra 
     ncisca_Praguer_F5Cs%B3es. Acesso em 8 de fevereiro de 2009.
2.  Juliska, Elisabeth – Francisca Práguer Fróes.  Disponível em http://www.
     unb.br/ih/his/gefem/labrys8/histoire/elisabeth.htm. Acesso  em 8 de fever
     eiro de 2009.

4.  Tavares Neto, José – Formados de 1812 a 2008 pela Faculdade de Medicina da Bahia. Acesso em 8 de feveriro. Feira de Santana, 2008


APÊNDICE I
DEPOIMENTO DE JORGE CALMON
(Extraído de Calmon, Jorge- João Américo Garcez Froes. Sinopse Informativa. Universidade Federal da Bahia. Vol. II, No II. Outubro. Salvador, 1978)

FRANCISCA PRAGUER FRÓES

JORGE CALMON

*


“Não poucas das observações científicas, que motivaram seus trabalhos, deve ter João Américo Garcez Fróes discutido, antes de divulgá-las, com aquela que, além de esposa, era sua colega de profissão: a Dra. Francisca Praguer Fróes.
Haviam sido contemporâneos e tinham trabalhado juntos na Cadeira de Clínica Obstétrica. Dois anos mais idosa, ela se diplomou também dois anos antes, sendo a quinta médica formada na Bahia. Especializou-se, desde o curso acadêmico em Ginecologia, e aperfeiçoou-se, mais tarde, na Europa, tornando-se profissional de grande competência. Existem publicados em revistas médicas trabalhos de sua autoria.
Guardo de memória a imagem dessa notável mulher. Foi minha madrinha.
Na infância, freqüentei sua residência, no Corredor da Vitória, e a casa de veraneio, na Barra. Esta última casa estava situada numa rua próxima da que veio a ter o seu nome. Chamava-se rua da Baixa da Graça e hoje é a Avenida Princesa Isabel. Era um local arejado e tranqüilo, com uma ou outra construção. Uma trilha de chão batido corria entre os baldios. A algumas centenas de metros apenas da Vitória, era considerado arrabalde, um lugar de veraneio. E ali, em companhia do marido, meu padrinho, a Dra. Praguer passava os meses de estio, entretida com os filhos, os amigos, os gatos e estimação.
Revejo, neste instante, sua fisionomia, grave e serena. E recordo – já à distância – aquele rosto de traços regulares, que poderia ser belo não fora a preocupação de total simplicidade. Tinha a pele muito clara, denunciando a ascendência estrangeira, e dividia ao meio os cabelos castanhos claros, quase ouro.  A mesma despretensão refletia-se no trajar. Questão de gosto, ou imposição do trabalho de médica, que requeria também nas mulheres a severidade de aparência, usava um “tailleur” de cor sóbria. Era de estatura mediana, pequena, talvez, mas a postura altiva, realçada pela austeridade do traje. Essa mulher objetiva e forte, possuía, no entanto, uma imensa generosidade. Discreta na manifestação dos sentimentos, era pontual e solícita no exercício da solidariedade, tanto quanto constante na afeição pelas amigas mais pobres e delicada na prática da caridade.
Morreu em 1931.
Perdida a esposa, os dois filhos que lhe ficaram do primeiro casamento foram os amigos em que de preferência Garcez  Fróes se apoiou. Heitor era o primogênito. O outro, Hélio Praguer  Fróes.  A natureza dotou-o, também, de inclinação para a ciência, mas preferiu a Química à Medicina. È morto, hoje. Desde a infância demonstrava especial propensão para as ciências aplicadas. Lembro-me dele, já adolescente, ocupado em montar e desmontar, na preocupação de aprender, complicados aparelhos. Grande profissional, transferiu-se  para o Rio de Janeiro, onde dirigiu laboratórios de várias organizações industriais e construiu reputação de técnico altamente qualificado”


APÊNDICE II
O FEMINISMO NA BAHIA
(Extraído de Benatte, Antônio Paulo. Disponível em em http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisca_Praguer_Fr%C3%B3es )


            *

“Outras Falas”: Feminismo e Medicina na Bahia (1836-1931).  Autora:  Elisabeth  Juliska   Rago

“Outras falas é fruto de tese de doutorado em Ciências Sociais defendida na PUC-SP em 2005. O subtítulo, Feminismo e medicina na Bahia, revela de imediato uma dupla contribuição: à história das relações de gênero e à história do saber médico no Brasil, especialmente a medicina da mulher. Há tempos a evidência do protagonismo da mulher na história não é mais uma novidade historiográfica; apesar disso, o trabalho de Elisabeth Juliska Rago vem somar a esse campo uma contribuição importante por várias razões, das quais elencarei duas ou três.
A proposta do estudo é "fazer emergir historicamente as condições de vida de mulheres e as diferenças geracionais de práticas feministas que envolveram suas respectivas ações" . O livro insere-se plenamente no conjunto daqueles trabalhos que não apenas afirmam o papel atuante da mulher como sujeito histórico, mas também, nas palavras da autora, reivindicam "uma releitura do passado que permita pluralizar a percepção das subjetividades femininas constituídas na experiência da vida cotidiana" . Trata-se de uma história eminentemente biográfica, gênero que vem sendo redimido e redimensionado nos últimos anos. O que faz com que a obra não recaia na biografia tradicional, factual e sem profundidade analítica, é o seu consistente embasamento teórico, especialmente quanto à história e à sociologia das relações de gênero na modernidade ocidental.
O livro abrange um quase século de história brasileira. Narra os trabalhos e os dias de Francisca Rosa Barreto Praguer e Francisca Praguer Fróes, mãe e filha, nascidas na Bahia provinciana, senhorial e escravocrata do século XIX, e que se rebelaram contra o "destino" que lhes era imposto enquanto mulheres. Francisca Rosa, a mãe, destacou-se como literata atuante na imprensa em defesa da emancipação feminina; Francisca Praguer Fróes foi uma das primeiras formandas em medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1893, especializando-se em ginecologia e obstetrícia; na trilha da mãe, criticou a dominação masculina e defendeu publicamente idéias feministas.
Quanto às fontes primárias, a documentação é ampla, rica, variada e bem explorada. Trata-se, em ambos os casos, de mulheres de letras. O meio letrado, a ambiência na cultura escrita deixou uma série de documentos: memórias, crônicas, poemas, diários, cartas, discursos, artigos científicos, prontuários médicos, panegíricos, necrológios, etc. Esse corpus é complementado com depoimentos orais recolhidos de uma descendente das duas Franciscas. Há, assim, uma cuidadosa heurística das fontes textuais produzidas pelos sujeitos biografados e sua família, ou que direta ou indiretamente a eles dizem respeito. Na falta de indícios diretos, não deixou a autora de recorrer à história comparada, referindo-se às trajetórias de outras mulheres em contextos e situações semelhantes ou diferentes.
É notável, ao longo de todo o estudo, a concretude da análise que recusa noções abstratas e universais em prol de particularidades concretas e contingentes, vale dizer, históricas: "... não se adota aqui uma perspectiva essencialista da mulher, o que forçosamente dissiparia os contornos de classe, raça, geração, cultura e religião" . A "mulher" não é nunca considerada um ente universal abstrato, mas um sujeito constituinte da história e por ela constituído, com relativas margens de autonomia, conforme os contextos que lhes foram dados viver. Semelhantemente aos indivíduos, os grupos sociais: as famílias baianas da elite são situadas num período histórico complexo, de modernização conservadora da economia e da sociedade e de transformações políticas e culturais abrangentes. Por conseguinte, há, ao longo da narrativa, um constante movimento dialético do micro para o macro-histórico, um deslocamento que vai do cotidiano até abarcar a realidade social mais ampla que envolve indivíduos e grupos e, sem determinismos de quaisquer tipos, marca profundamente suas trajetórias existenciais.
A obra tem, portanto, virtudes metodológicas para além do tema propriamente dito, qual seja, a equilibrada complementaridade dos olhares micro e macro: busca-se sempre, como diz a autora, "retraçar momentos de experiências vividas como expressão de processos historicamente situados" . Ainda nesse sentido, a autora, sem fazer propriamente micro-história, é muito atenta ao que denomina "as miudezas aparentemente insignificantes da vida cotidiana, tanto na esfera pública quanto na privada" . Longe de ser anedótica, essa atenção é determinante no gênero biográfico adotado, pois contribui para a riqueza da análise e para a própria fluência da narrativa. Ela aparece tanto na saborosa análise das memórias de Francisca, a mãe, sobre a Vila da Cachoeira, na Bahia provinciana de meados do XIX, quanto na descrição da trajetória de Francisca, a filha, na Salvador da República Velha. Ou seja, os indivíduos e grupos são constantemente colocados diante de estruturas e conjunturas que eles próprios contribuem para conservar e transformar. A variação de escala permite à autora realizar uma "hermenêutica do cotidiano" sem desligá-lo dos processos mais amplos que o situam e circunscrevem. Esse jogo ininterrupto entre o macro e o micro torna possível iluminar existências pontuais sem obscurecer o entorno, e vice-versa, e essa me parece uma das principais virtudes do estudo.
A autora, movida por sensível empatia, evita o criticismo a posteriori que freqüentemente julga e condena a ação de indivíduos do passado conforme critérios supostamente mais "progressistas" do presente do próprio "juiz". Essa atitude, no fundo anacrônica, é muito comum em campos densamente ideologizados, como o é o feminismo e os estudos de gênero. Conscientemente, Elisabeth Rago critica essa postura a fim de melhor compreender o pensamento e a ação possíveis no contexto dos indivíduos, sem hipostasiar qualquer dever-ser supra-histórico. Assim, embora não deixe de ressaltar a coragem vanguardista de Francisca Rosa em assumir publicamente a defesa da mulher e a necessidade de sua emancipação frente ao sistema de dominação masculina, ou de louvar justamente o pioneirismo de Francisca Praguer Fróes como pioneira militante na área da medicina da mulher, a autora não violenta nem alisa a história. As biografadas são sem dúvida mulheres bastante singulares, que estão entre as precursoras do feminismo na Bahia e no Brasil, sem deixar de ser, afinal, mulheres de carne e osso, alma e espírito, limites e contradições, assim como as mulheres (e os homens) que conhecemos na realidade, quer dizer, na vida como ela é, não como gostaríamos que fosse. Em outras palavras, a concretude da análise e a fidelidade documental impedem que se recaia na heroicização romântica de personagens idealizadas, vale dizer, que nunca existiram. Não se trata de inventar o que poderia ou deveria ser, mas de problematizar de modo realista o que foi efetivamente. O estudo evidencia, assim, as tensões, negociações, contradições, barreiras e limites presentes na organização social de gênero.
Por isso mesmo, trata-se de uma leitura extremamente atenta à efetiva historicidade da consciência feminista e das relações de gênero. As biografadas são pessoas que se constituíram a si próprias, ao mesmo tempo em que eram constituídas pela história que vivenciaram e ajudaram a construir. Ao trabalhar com a noção de subjetividades múltiplas, o estudo busca perceber como as mulheres "forjaram soluções no interior do sistema de gênero (...) redefinindo suas próprias trajetórias e sinalizando, desse modo, que o sistema de dominação [patriarcal] não era nem total nem absoluto" .
Outra virtude da obra está em não descurar os condicionantes de classe presentes no pensamento das duas feministas, inseridas totalmente no espaço-tempo em que viveram e atuaram. A atenção à história social - freqüentemente desqualificada hoje em dia - permite apreender mais complexamente a historicidade da consciência de gênero e a própria heterogeneidade dos ideários feministas no Brasil do século XIX e primeiro terço do XX.
A obra suscita ainda elementos de reflexão e prática historiográfica a partir de um diálogo com uma ampla bibliografia nacional e estrangeira sobre a condição feminina, as relações de gênero e a história do saber médico, especialmente da medicina da mulher. Será lido com proveito por estudiosos desses campos, especialmente no que tange à condição e situação de mulheres de letras e ciências, posto que problematiza a emergência e participação das mulheres nos campos intelectual, literário e científico da sociedade brasileira num período de intensas transformações históricas.
Em suma, ao narrar itinerários, nunca puramente individuais, de emancipação feminina, a autora constrói um estudo denso e minucioso sobre a condição da mulher - e especialmente da mulher de elite - na Bahia do fim do Império e das primeiras décadas da República. Para tanto, vale-se de uma abordagem essencialmente interdisciplinar. A narrativa analítica deixa ver a formação dupla da autora, em História e em Ciências Sociais: a erudição documental, a abordagem processual e a atenção aos detalhes significativos revelam a mão da historiadora; o uso rigoroso de conceitos e categorias da sociologia e da antropologia mostra o olhar mais estrutural da cientista social. Essa combinação resulta, como diria Paul Veyne, numa "história conceitualizante" bem tramada e contada. Elisabeth Rago é uma contadora de histórias, sem deixar de ser cientista social e historiadora. Essa combinação torna seu livro ao mesmo tempo gostoso e proveitoso de ser lido dentro e fora da academia.”


                                                                  











      
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário