110- EDÍSTIO PONDÉ
O CÉREBRO
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Nasceu em Inhambupe, a 8 de novembro de 1900, sendo seus pais Pedro Faustino de Souza Ponde e Vitalina Mendes Pondé.
Em Inhambupe cursou as primeiras letras, com o conceituado Professor Mesquita. Concluindo o curso primário em sua terra natal, onde seu pai exercia o cargo de Juiz de Direito, passou para Salvador onde concluiu seus estudos preparatórios às próprias custas, inicialmente empregado de uma firma comercial, depois repórter e funcionário dos Correios e Telégrafos.
Concluídos os estudos preparatórios, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, por onde se diplomou em 1925.
Inicialmente, exerceu a clínica nas cidades de Taperoá e Itaquara.
Em 1929, foi convidado pelo Professor Alfredo Brito, para ser Assistente de Clínica Neurológica da Faculdade de Medicina.
Em 1935, fez concurso para Docente-livre. Em 1943, passou a Professor Adjunto da mesma disciplina. Em 1949, foi catedrático interino e em 1950, após um dos concursos mais brilhantes da Faculdade, conquistou a cátedra.
A partir de então, se dedicou, de corpo e alma, à clínica e à cátedra, demonstrando, em todas as oportunidades, excelentes predicados.
Publicou numerosos trabalhos, dos quais destacamos: “Tratamento das Polinevrites”, “Mielite Lombar”, “Sobre um caso de doença de Bayle”, “Sobre a terapêutica da coréia de Sydenham”, “Meningite linfocitária de origem esquistossomótica”, “Esquistossomose medular”, e muitos outros.
Diz Loureiro de Souza: “Ao lado, porém, da sua atividade científica, havia em Edístio Ponde um lírico e um sonhador. Era, também, poeta, poeta que a ciência absorveu. Deixou, no entanto, inúmeros sonetos e poemas, de sabor nitidamente parnasiano e epigramas cheios de graça e malícia” (1).
“Tendo conhecido, na adolescência, as asperezas do caminho que o seu talento descortinava, desde cego se fez Homem. Quando outros se entretinham nas folgas da juventude afortunada, tomou das armas de que podia dispor, isto é, a pena e o livro, e se lançou na luta pela vida. Abriu, com as próprias mãos, vale dizer, com o estudo e o trabalho, a estrada, sempre pedregosa, que o conduzira às alturas em que a morte o encontrou” (2)
“Sua modéstia escondia largos conhecimentos humanísticos, profunda cultura médica, não lhe oferecendo segredos o campo da Neurologia, em que se fez mestre consumado” (Ibidem).
Plínio Garcês de Sena, seu genro e sucessor na cátedra, acrescentou: “Durante duas décadas, foi eminente professor de neurologia, tendo sido considerado pelos seus assistentes e alunos, excelente didata, claro não somente na descrição dos sintomas e sinais, como também cuidadoso na arte da apreciação diagnóstica. Dispensava aos seus assistentes particular desvelo. Escondia suas virtudes e talentos na modéstia. As suas diretrizes científicas estenderam-se necessariamente à neurocirurgia, à neuropediatria, à eletroencefalografia. Sua existência foi uma sucessão harmoniosa de ciência e de espírit, transfundidas nos ensinamentos que soube transmitir e nas belas virtudes que semeou” (1).
Faleceu em 30 de abril de 1971, após grave enfermidade.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
1. Loureiro de Souza, Antônio – Baianos Ilustres. Salvador, 1973.
2. Sá Menezes, Jayme de – Na Senda da História e das Letras. Salvador, 1994.
ANEXO I
DEPOIMENTO DE PLÍNIO GARCÊZ DE SENNA
(Extraído de Garcez de Senna, Plínio- Sinopse Informativa. Universidade Federal da Bahia. Volume II, No II, outubro. Salvador, 1978.)
PLÍNIO GARCEZ DE SENA
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“Do Professor Edístio Pondé que não se limitou apenas a trasmitir conhecimentos da especialidade, recebemos as lições de tolerância e paciência, o exemplo da firme determinação em perseguir um objetivo, a coragem de lutar pela conquista do ideal. Seu exemplo de vida, dignificante porque trilhado nas sendas da verdade, da honradez e da justiça, servirão para sempre como modelo a ser imitado. Na sua luta ingente, no seu labor fecundo, na sua consciência profissional, no seu profundo senso de responsabilidade e até mesmo na sua dignidade diante da morte, em cuja expectativa dia a dia, permaneceu plenamente consciente e com invulgar estoicismo, identificamos o modelo que sempre nutrirá o nosso espírito, alentando-o na árdua tarefa que pretendemos cumprir.
Poucos homens, certamente, souberam como ele exercer a cátedra e a profissão médica com tanta profundidade, com a honradez de um justo e a marcante probidade que distingue as legítimas vocações.
Rememorando sua admirável trajetória docente, verificamos que, durante duas décadas, foi Edístio Pondé eminente Professor de Neurologia tendo sido considerado pelos seus assistentes e alunos como excelente didata, claro, que era na descrição dos sintomas e sinais, assim como exímio na apreciação diagnóstica. Mestre desprendido, atencioso com os doentes, praticou a medicina com bom senso, dispensando aos seus colaboradores tratamento sóbrio e humano, marcando para sempre sua assinalável presença no Serviço de Neurologia da Faculdade de Medicina da Bahia, constituindo-se em verdadeiro exemplo a todos que se dedicam às atividades magisteriais.
Extremamente modesto e simples, inteligente e estudioso, jamais perseguiu as glórias do poder, antes habilitou-se à carreira docente imbuído dos mesmos motivos que levaram seu tio, José de Souza Pondé, a concorrer à cátedra de Clínica Oftalmológica – imperativo do cumprimento do dever.
E não seria só no exemplo do tio extremado, como ele também professor de Medicina, que buscaria inspirar-se.
Outros Pondés igualmente notáveis orientaram-lhe os passos. Da respeitável linhagem familiar encontraria, pois, exemplo maior em seu próprio pai, Pedro Faustino de Souza Pondé, mui justamente cognominado “O Bom Juiz”,tão grande era o seu conceito, tão impoluto era o seu nome na Magistratura Baiana e no seio da sociedade.
Em outros tios, dois dos quais também médicos, João e Francisco de Souza Pondé, destacados clínicos, cuja docência tanto dignifica os ilustres ancestrais, encontrou ele ainda dignos exemplos que o estimularam na vida profissional.
Atuando como examinador de concursos sempre revelou erudição, imparcialidade e justiça.
Em 1957 recebeu convite para integrar comissão julgadora do concurso para provimento da cátedra de Clínica Psiquiátrica na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde argüiu teses defendidas por ilustres mestres da Psiquiatria nacional, dentre os quais os professores Leme Lopes, Darcy Uchôa, Alves Garcia, Nobre de Melo e Juandir Manfredini.
Naquela oportunidade, demonstrou então, aos que não lhe conheciam o valor e a cultura psiquiátrica a profundidade de conhecimentos da especialidade.
Edístio Pondé não foi somente um grande professor. Sua atuação como clínico nas áreas da Neurologia e da Psiquiatria ainda hoje é evocada na admiração dos colegas, assistentes e ex-alunos.
Além do pendor para a ciência, Edístio Pondé mal podia ocultar, sob o véu de constitucional modéstia, a sua veia poética, poeta que foi primoroso, como se pode ver do belíssimo soneto que nos permitimos transcrever a seguir:
ÚLTIMA PORTA
Andrajoso e alquebrado, humilde na atitude,
Ei-lo vencido e só, à entrada do Convento.
O destino falaz crestou-lhe na alma rude
A flor das ilusões, gerando o desalento.
Tudo em redor de si é paz e beatitude.
E silêncio e humildade... As horas, lento e lento,
Fluem serenamente em face à magnitude
Do velho umbral severo, onde ele espera atento.
Lá fora a vida canta e freme, e tumultua...
Vibra o límpido espaço ante o sol que esmaece
E uma vaga poesia entre as coisas flutua...
Mas nada disso ao pobre impressiona e conforta.
Seu refúgio supremo é o silêncio da prece
E a suprema esperança essa última porta.”
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