ADRIANO DE AZEVEDO PONDÉ
(Diversos – Adriano de Azevedo Pondé, Homenagem de seus alunos no Centenário do seu nascimento . Governo da Bahia, Secretaria da Cultura e Turismo. Salvador, 2001.)
Filho de João Pondé, grande médico baiano, Adriano de Azevedo Pondé é considerado um dos vultos proeminentes da medicina baiana.
Em 1918, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, pela qual colou o grau de doutor em Medicina, no ano de 1923. Foram seus colegas de turma Adolpho Diniz Gonçalves, Alfredo Rosa Boureau e, Arthur Ramos da Costa (4).
Na qualidade de doutorando, conquistou o prêmio Alfredo Britto, conferido, ao autor do melhor trabalho científico.
Em 1928, foi aprovado em concurso, para Livre Docência de Clínica Propedêutica Médica. Em 1939, também por concurso, fez jus ao título de professor catedrático de Propedêutica Médica. Em 1945, logrou transferência para a função de professor catedrático da Primeira Cadeira de Clínica Médica, em cuja função permaneceu até aposentar-se, por implemento de idade.
Diz Rodolfo Teixeira: “Adriano Pondé – espírito irrequieto e progressista, culto em humanidades e em ciência médica, capaz de selecionar e aglutinar elementos jovens e vocacionados – tem a seu favor iniciativas importantes.
Inspirou e estruturou, desde as bases, a Cardiologia na Bahia. Foi um dos que iniciaram a prática da eletrocardiografia e de outras medidas propedêuticas no campo da Cardiologia em nosso meio. Interessou-se pela doença de Chagas e publicou sobre o assunto vários trabalhos.”
Interessou-se, também, por outros temas como o da esquistossomíase, participando dos estudos sobre o chamado “tratamento rápido” da parasitose.
Em uma época em que professores e estudantes, em sua maioria, tinham formação francesa, Adriano Pondé lia e escrevia inglês e nesta língua procurava, com freqüência, atualizar-se em medicina. Lembra Aníbal Silvany Filho que “por este fato era considerado por muitos de seus pares como um inovador”.
Membro da Academia de Letras da Bahia , da Academia de Medicina da Bahia e de várias outras instituições científicas e culturais, foi o professor Adriano Pondé um grande administrador.
Construído o Hospital das Clínicas pelo saudoso professor Edgard Santos, foi pelo mesmo designado para transferir as clínicas que estavam funcionando no antigo Hospital Santa Izabel para o novo Hospital, o que foi realizado com tal eficiência que o credenciou para outro feito igualmente importante: o de instalar as escolas de Enfermagem e de Nutrição.
Faleceu em 4 de junho de 1987, em Salvador.
Amoroso, afável
Doutor emérito
Respeitador da vida
Inteligência brilhante
Amigo fiel
Notável pela simplicidade
O homem íntegro
Deus o criou para grandes coisas
E o filho correspondeu, com sabedoria
Autêntico
Zeloso
Empreendedor
Verdadeiro
Exemplo de vida
Dedicação
Olhar para o futuro
Pacífico
Organizado
Natural
Distinto
É essa a minha visão do Mestre
Beatriz Alfredo
da 1a Turma da Escola de Nutrição
Acróstico despertado durante a vivência em
27 de junho de 2001
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
1. Souza, Agnaldo David de – Discurso de Posse na Academia de Medicina da Bahia -Anais da Academia de Medicina da Bahia, Volume 8:99. Salvador,1992
2. Diversos – Adriano de Azevedo Pondé, Homenagem de seus alunos no Centenário do seu nascimento . Governo da Bahia, Secretaria da Cultura e Turismo. Salvador, 2001..
3-Adriano de Azevedo Ponde - A Doença de Chagas na Bahia. Disponível em http:// Google.cm.br?search?hl=BR&q=adriano+de+azevedo+pond%
C%A9btnG=Pesquisa+Google&meta=lr%Dlang_pt. Acesso em 21 de dez
embro de 2008.0
4. Tavares Neto, José – Formados de 1812 a 2008 pela Faculdade de Medicina da Bahia. Feira de Santana, 2008.
APÊNDICE I
“O SEU DIA FOI BOM ...”
Autor: Rodolfo Teixeira.
(Extraído do livro “Homenagem de seus alunos no Centenário do seu nascimento”. Salvador: Press Color, 2001)
“Não sei se o seu gosto pelo ensino suplantava a plena satisfação que alcançava em praticar a Medicina no seu consultório da rua da Ajuda. Ano após ano ouviu, orientou, tratou, aconselhou a milhares de pessoas. A sua presença nos hospitais da Bahia foi uma constante até o extremo das suas possibilidades físicas. Nunca se escusou a praticar a Medicina em domicílio. Somente quem exerce este tipo de apostolado é que pode aquilatar a validade e a extensão do trabalho de um clínico que executa tal prática. Não existem razões válidas que possam separar o doente do seu médico, de tal forma unidos pelos sentimentos e pelas emoções. O primeiro requisito que se deve exigir de um bom clínico é o ser paciente e simples; depois, é saber ouvir, é compreender a condição humana e ser compassivo com os que sofrem; é saber que a técnica é necessária mas não é prioritária. A Ética é indistinta dos mistérios da vida e das suas manifestações anímicas. Nisto se resume o verdadeiro sentido da arte médica que é assim função da cultura do espírito.
Adriano Pondé se ajustou a tais princípios. Humanista, como muitos de sua geração. Tinha o gosto inato pelas artes e pela literatura, o que, afinal, no seu ocaso profissional, nos anos do outono, lhe acolheu e amenizou os dias. Membro da Academia de Letras da Bahia, onde se manteve leal às mesmas virtudes que o tornaram respeitado e aplaudido no ensino e no ofício da Medicina.
Foi um dos fundadores da Academia de Medicina de Medicina da Bahia. Ocupou a Cadeira 24, que tem como patrono uma outra figura estelar: Gonçalo Moniz de Aragão.
Adriano Pondé foi um dos presidentes da Associação Bahiana de Medicina, cargo que exerceu com o zelo e a competência costumeiros.
Reflito a vida de Adriano de Azevedo Pondé e ocorre-me concluir que “o seu dia foi bom e que quando a noite desceu, a noite com todos os seus sortilégios, encontrou lavrado o campo, a casa limpa, a mesa posta. Com cada coisa em seu lugar”
APÊNDICE II
ZELO PELO PREPARO DAS AULAS
Autor: Roberto Figueira Santos
(Extraído do livro “Homenagem de seus alunos no Centenário do seu nascimento”. Salvador: Press Color, 2001
“Assim, era extremamente zeloso no preparo das aulas expositivas. Preocupava-o, sobremodo, a constante atualização, pelas melhores fontes, do material que apresentava às turmas sucessivas do último ano médico. Para isso, esteve sempre entre os professores que custeavam do próprio bolso os livros e as muitas assinaturas de periódicos da sua especialidade. A irregularidade (poderia dizer, a irresponsabilidade ) na aquisição de bibliotecas especializadas. Os professores mais conscientes da importância da formação atualizada – entre os quais Adriano ocupava posição inarredável – sentiam-se obrigados a custear com seus minguados salários a aquisição de vasto material bibliográfico. A conservação destes livros e revistas, instrumentos essenciais ao nosso labor, se vem tornando cada dia mais onerosa na vida moderna, pela exigência de espaço e pelos cuidados na profilaxia de várias “doenças” a que estão expostos, particularmente quando mantidos em ambiente doméstico e não em bibliotecas institucionais devidamente climatizadas e sob a guarda de pessoal especializado. Como Adriano precedeu a era do Xerox e da Internet, dos editores de texto, das maravilhas projetadas e das sensacionais impressoras ligadas aos computadores, era para ele – e para os seus auxiliares- uma luta incessante obter microfilmes e providenciar reproduções ou máquinas de leitura que, por mais sofisticadas, sempre deixavam a desejar. Só os mais velhos sabem como as novas tecnologias tornaram tudo isso mais fácil para os intelectuais dedicados ao seu trabalho. Os jovens de hoje, por terem encontrado a baixo custo tais regalias, nem sempre imaginam a imensa tenacidade exigida dos os que os precederam, quando queriam manter-se em dia com as publicações científicas ou localizar exemplares de material bibliográfico mais antigo.
A preocupação de Adriano com a atualidade das aulas ia mais longe. O temperamento irrequieto levava-o a buscar o que fosse mais avançado no tocante aos métodos audiovisuais, muito antes que estes se tornassem rotineiros. Tanto para as aulas como para a apresentação das suas próprias pesquisas, adquiria equipamento e manuseava material de projeção cuidadosamente escolhidos. Convém lembrar que tudo isto ocorria quando a pobreza das instituições locais era muito maior que a de hoje.
A despeito do muito que aprendi da disciplina de Clínica Médica enquanto discípulo de Adriano, a causa maior da minha admiração pelo seu desempenho como professor está no esforço colossal que devotou às pesquisas clínicas, ainda quando eram extremamente precários os meios ao nosso alcance. O que á de melhor nestes seus trabalhos data de antes do funcionamento do Hospital das Clínicas e teve como principal ambiente o velho Santa Izabel das décadas de 1930 e 1940. Pouquíssimos foram os seus colegas de cátedra que lograram produzir, na mesma época, obra de densidade comparável, por exemplo, à dos estudos sobre o infarto do miocárdio e sobre a doença de Chagas em nossa terra...”
ANEXO III
CURIOSIDADE INTELECTUAL
Autor: Penildon Silva
(Extraído do livro “Homenagem de seus alunos no Centenário do seu nascimento”. Salvador: Press Color, 2001)
“Um outro aspecto da personalidade do Prof. Adriano Pondé era representado pela sua insaciável curiosidade intelectual. Era um aprendiz eterno. Não se julgava dono de nenhum conhecimento. Quando previu que a língua inglesa iria tornar-se universal e que a hegemonia do francês iria ser destronada, resolveu estudar inglês, e logo começou, com seu entusiasmo juvenil, a falar, sem temer os erros iniciais e normais. Dizia, na época, que quem não conhecia o inglês, só utilizava um hemisfério cerebral.
Na sua especialidade, a cardiologia, os avanços científicos eram contínuos e amplos. E ele dizia que estava sempre aprendendo e se atualizando e acompanhando o que ocorria em todos os outros centros de estudo cardiológico. Sua tese de concurso versou sobre enfarte do miocárdio. Numa época em que não havia Bireme nem Internet, conseguiu, num esforço homérico, reunir o que havia sido feito no mundo inteiro sobre o assunto e publicou uma tese que se tornou famosa pelo volume de informações que proporcionou.
Outra qualidade importante possuía o Prof. Adriano Pondé: era um administrador geneticamente bem estruturado.
Dedicado ao trabalho, onde encontrava a realização de seu ímpeto criador, sabia como pouca gente, distribuir o seu tempo e fazer tudo que fazia com concentração total dos seus pensamentos.”
ANEXO IV
QUANTO MAIS VELHO, MELHOR...
Autor: Ernane Gusmão
(Extraído do livro “Homenagem de seus alunos no Centenário do seu nascimento”. Salvador: Press Color, 2001)
“Certa feita eu estava auscultando o tórax de um paciente internado, quando o mestre, discretamente, aproximou-se de mim e, quase balbuciando, para não parecer grandiloqüente, orientou o meu estetoscópio para os espaços interescapulovertebrais, depois para os subescapulares e basais, por fim as laterais infra-axilares, onde pude realmente encontrar os murmúrios que procurava. Minutos após, no corredor, ele me disse – “Gusmão, ali, sobre o processo espinhoso da escápula não se ouve nada, ou quase nada”.
De outra feita, convocou todos os internos e residentes da Enfermaria à ausculta cuidadosa de estertores basais crepitantes, em caso típico de pneumonia lobar. Lembro-me bem de suas palavras, sete lustros passados – “Ouçam bem; tornem a ouvir; esse crepitar nos alvéolos é típico da exsudação pneumônica; parece o fino estalido de brasas em uma fogueira, é inconfundível.” E sorria satisfeito, feliz com o aprendizado dos discípulos, consciente de que jamais esqueceríamos aqueles créptos patognomônicos. E assim foi.
Em uma outra oportunidade, já médico pós-graduado em Nefrologia, no exercício privado da clínica hospitalar, estava assistindo a um grave paciente cirúrgico de outro expoente da Medicina baiana, o Prof. Venceslau Pires da Veiga, quando a presença do Professor Venceslau Pires da Veiga, quando a presença do Professor Adriano, na qualidade de Cardiologista emérito,se fez necessária. O paciente, em choque circulatório, não respondia às manobras terapêuticas ensaiadas por mim, quando o mestre, com muita singeleza, sugeriu dobrar ou triplicar a dose da aminodopaminérgica que fluía através a soroterapia. Atendi-o pronto, par assistir, quase de imediato, a situação se reverter. Ao contemplarmos juntos a rápida transformação do leito cianótico das unhas e do rocheado das polpas digitais, em róseo tom alvissareiro, enquanto os níveis de pressão sanguínea se elevavam, e a lívida frieza das extremidades se aquecia, sorrimos discretamente um para o outro e ele disse:-- “É fantástico, é simplesmente fantástico”. Extasiava-se o velho professor com as recentes maravilhas da terapêutica vascular. Pareceu-me uma criança embriagada com a magia do seu brinquedo.
Era assim, na minha visão, o Professor Adriano Pondé. Um homem simples, afável, acessível, rico de pendores. Daqueles que envelhecem como os vinhos, cada vez melhores ...”
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